[CAZP] 1º de maio: Resistência e Luta!

 

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Retirado de: http://cazp.wordpress.com/2013/05/01/1o-de-maio-resistencia-e-luta/

A origem do primeiro de maio remonta às lutas operárias do século XIX, mais especificamente nos Estados Unidos, onde nos anos 80 desse mesmo século se desenvolvia uma grande articulação em diversas regiões para lutar pela jornada de oito horas de trabalho. Na época e até bem depois, eram comuns jornadas que ultrapassavam 15h diárias.

Este foi, portanto, mais um marco na batalha entre capital e trabalho: Aqueles que produzem a riqueza do mundo lutando contra aqueles que se apropriam do seu produto, a luta para que a maior parte do dia não fosse do patrão e sim do trabalhador, uma etapa na luta por uma nova sociedade. O lema era “oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de descanso”. Hoje sabemos que se a sociedade fosse organizada segundo preceitos do socialismo libertário e todo mundo trabalhasse, precisaríamos dedicar bem menos do que 8h de trabalho diário.

Nesse sentido, foi estipulada a data de 1º de maio de 1886 como prazo para que os patrões concedessem a nova jornada de trabalho reivindicada. Assim, nessa data se iniciou um imenso movimento grevista, que se expandiu por diversas cidades dos EUA, particularmente na cidade industrial de Chicago. Lá havia forte presença de militância anarquista, que estava ativamente envolvida com a organização dessa e de outras lutas.

Nos dias seguintes, houve diversos confrontos com a polícia, o que resultou em alguns manifestantes mortos e presos. Quando, no dia 4 de maio, a polícia tentou acabar uma manifestação pacífica com o uso desproporcional de força bruta, houve uma explosão nas colunas da repressão e cerca de sete policiais morreram e 70 ficaram feridos. Até hoje não se confirmou a autoria do atentado, mas há fortes indícios indicando que foi a própria reação que implantou a bomba em suas fileiras para justificar publicamente o que se seguiu: De imediato, uma chacina, na qual foram assassinados quase 100 operários e uma brutal repressão com prisões de pessoas, muitas delas sem nenhum envolvimento com o movimento sindical. Essas pessoas foram barbaramente torturadas antes de se conferir qualquer participação delas em movimentos reivindicatórios.

Os militantes mais destacados, a sua maioria de imigrantes alemães e anarquistas, foram diretamente responsabilizados, sendo que a maioria nem mesmo estava no local no dia do atentado. Com certeza, foram colaboradores diretos das mobilizações e luta da classe operária no país que viviam, mas nada tinham a ver com a explosão. Destacam-se entre esses eles: Neebe, que foi condenado a 15 anos de prisão; Scheab e Fielden, que tiveram a pena reduzida para prisão perpétua depois de muita manifestação; Lingg, que se suicidou na prisão; e Spies, Parsons, Fischer e Engel, enforcados. Tempo depois, foi reconhecida oficialmente a inocência deles e os que ainda estavam presos foram libertados. Antes disso, a história já tinha causado comoção internacional em todo o movimento sindical mundo afora.

O primeiro de maio passa, então, a ser para diversos movimentos de trabalhadores como símbolo de luta da classe. É lembrado todo ano com manifestações em diversas localidades. Virou o dia do trabalhador, sendo reconhecido pela segunda internacional (a internacional dos partidos sociais democratas e a fins). Mais tarde, a classe dominante e seus governos passam a adotá-lo como feriado nacional em vários países, como uma maneira de cooptar o movimento sindical e se apropriar da história a modificando, pois passam a chama de dia do trabalho e não mais dia do trabalhador.

Essa marcante etapa da história de resistência do povo oprimido deve ser sempre lembrada em respeito a todos os que tombaram no caminho na busca por uma nova sociedade, mas sobre tudo para que possamos nos espelhar em seus exemplos na continuação dessa mesma batalha em nosso tempo.

Nós, anarquistas, sempre estivemos presentes na luta pera construção de uma nova sociedade, que para nós tem que ser pautada pela igualdade e liberdade. Assim como os anarquistas de Chicago, o movimento anarquista foi responsável pelo desenvolvimento de um sindicalismo combativo no Brasil, que chamamos de sindicalismo de intenção revolucionária. Este unia a luta pelas melhorias de condições sociais mais imediatas dos trabalhadores com a luta de transformação social, bem enraizada em toda a classe da época. A expressão desse tipo de sindicalismo foi marcante do final do século XIX até a década de 30 do século XX, não só no Brasil, como em outros países. Foram marcas dessa época a Confederação Operária Brasileira (COB) e Federação Operária Alagoana, parte desse processo e hegemonicamente influente nos trabalhadores de suas épocas.  A força política preponderante era dos anarquistas, que aliados ombro a ombro com os demais companheiros de classe, construíram diversas lutas. Trabalhavam como minoria ativa, eram da classe, estavam inseridos nela, e de maneira alguma na vanguarda, dirigindo-as de maneira autoritária.

Hoje vivemos tempos de grande desmobilização, e ideias como a do sindicalismo de intenção revolucionária não são mais hegemônicas em nossa sociedade. Em grande parte, os sindicatos estão burocratizados e atrelados ao patrão e seus governos. No entanto, nunca podemos esquecer que potencialmente a maioria da humanidade guarda dentro de si o espírito de sua própria libertação. Nós, os oprimidos, sempre seremos a maioria da humanidade em quanto durar o sistema de classes sociais e a profunda desigualdade existente nele.

Nós, anarquistas, militamos diuturnamente para o despertar da revolta da população. Para que essa revolta seja organizada, autogerida e que tenha um objetivo claro: o socialismo libertário. Muito falta por fazer e não podemos ter a certeza da vitória.

A luta dos trabalhadores também faz parte da luta dos povos oprimidos e nelas também nos inserimos. A reorganização do movimento sindical tem que partir do local de trabalho: por mais tortuoso que possa ser, o trabalhador tem que ser o protagonista do processo. As entidades sindicais são maiores que sua direção, mas para conseguirmos que elas tenham um caráter combativo e possam ir além do imediato, o fundamental é trazer o conjunto da classe para luta e não apenas mudarmos de direção. Boas diretorias sindicais serão consequência de um movimento forte e com capacidade de construir a luta e não apenas executá-la.

Nós do Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares (CAZP), junto com a Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), estamos inseridos na luta sindical e a construímos em diversas localidades, com muita humildade, sabendo o quanto falta para construir e almejando o resgate do sindicalismo de intenção revolucionária. Pertencemos a tradição de luta anarquista dos mártires de Chicago aos dias atuais.

 Neebe, Spies, Parsons, Fischer, Engel, Scheab, Fielden, Lingg e a todos os outros companheiros que tombaram pelo caminho: 
PRESENTE !!!

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