Mobilização nacional contra a Copa do mundo no Brasil preocupa os governos e coloca os de Baixo na ofensiva.
Desde 2013 o Brasil vive um cenário adverso com gigantescas mobilizações que pela força das ruas questionaram a ordem do sistema imposto pelos governos e seus aliados a nível nacional e internacional.
O país esta passando por um clima propício à organização dos oprimidos, gerando um sentimento de esperança para o movimento popular. Em 2013, os sindicatos saíram timidamente às ruas, muito por conta do sentimento de rechaço das massas, que não se viam representadas por estas estruturas de organizações dos trabalhadores, já que durante os últimos períodos, boa parte destas foram cooptadas pelos governos e seus dirigentes se converteram em burocratas de plantão, prontos para puxar freio das bases revoltadas por tanta conciliação de classe; sem falar da fragmentação do mundo do trabalho como elemento que caracteriza este período. Contudo, também é preciso dizer, que muitos resistiriam e seguiram combativos.
Porém, este ano, as lutas de uma série de categorias mobilizadas desde a base vem mostrando uma outra forma de fazer luta sindical. O protagonismo dos próprios trabalhadores, que tomam decisões à revelia dos dirigentes sindicais; assembleias massivas em que as decisões são referendadas longe dos gabinetes e das negociatas feitas de antemão. É a retomada de uma experiência própria do sindicalismo revolucionário desabrochando no seio dos setores dos oprimidos, em que o movimento popular toma a ferramenta da greve como ação direta contra os patrões e governos. Ferramenta histórica é verdade, mas que agora é tomada com outra intencionalidade, indo além de pautas meramente corporativas e ganhando expressões políticas. A maioria dessas greves têm questionado não só as condições de trabalho, mas de um modo geral, os rumos do país, tanto econômica quanto politicamente. Uma boa parcela das classes oprimidas demonstra que não está mais por aceitar decisões de cima para baixo, apesar das medidas de controle que os governos tenham em mãos. Há um amadurecimento precoce, porém vivo entre os setores dos de Baixo.
Já são diversas as cidades que se erguem em greves e manifestações que questionam o megaevento que está prestes a acontecer no país. Grandes ocupações urbanas, dezenas de categorias em greve e protesto por todos os lados saem às ruas para dizer que não querem mais opressão e repressão por conta de um evento que beneficia os grupos político-econômicos envolvidos neste mundial.
A força das ruas em 2013, contexto de grandes mobilizações com uma imensa variedade de pautas, muitas vezes dispersas, mostraram também as debilidades de um movimento sem organização de base. Se por um lado as jornadas de junho nos colocaram com força na cena política, também nos colocaram cara a cara com as insuficiências do movimento popular. A maioria das pessoas que participaram dos protestos em 2013 não estavam referenciadas por sindicatos ou movimentos populares, o que ajudou no esvaziamento das marchas e mobilizações. Depois do turbilhão, as massas sem referências políticas ou de organização de base saem das ruas; mas os efeitos dos grandes protestos seguem vivos e dão caldo para este ano, que pode, sem sombra de dúvidas, serem mais propícios a resultados de fundo. Essa nova configuração das lutas colocadas novamente nas ruas no país, que partem de sindicatos e movimentos populares, tem criado um cenário mais fecundo para que as demandas pautadas sejam projetadas pelo movimento dos de Baixo no marco de uma perspectiva de acumulação de forças e de construção do poder popular.
É notório o desespero dos governos em relação a uma possibilidade de descontrole durante os jogos da Copa. O que está em jogo é manter a ordem ou sucumbir a possibilidades de uma convergência do movimento sindical para um chamado de greve geral, o que pode sim colocar em risco a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Isso não quer dizer que os jogos não vão ocorrer, mas, como vai estar o clima para isso é a grande questão! Já é sabido que não existe apelo da população para o mundial, o apelo, ao contrário é para repudiar os gastos com jogos e estruturas que não beneficiam a população. Politicamente já se pode afirmar que a Copa no Brasil é um fracasso, no entanto as medidas do governo em conluio com a FIFA é conter, custe o que custar, os protestos e para isso, vão usar de força bruta para calar a voz de todos que estão se erguendo em luta. Já existe uma onda de criminalização forte desencadeada aos militantes políticos que estão organizados nas manifestações, assim como a forte criminalização da pobreza que segue firme no país e encontra neste momento um caminho aberto para colocar em prática seu plano de limpeza social.
É preciso fomentar a denúncia a nível internacional, as leis e portarias que estão entrando em vigor, todas elas para cercear a liberdade de expressão e manifestação, como é o caso da lei que esta para ser votada no Congresso Nacional que tipifica protesto como ato terrorista. Neste momento já temos cidades no país que estão sendo sitiadas pela Força de Segurança Nacional (FSN) como é o caso da cidade de Recife. O exército já está instalado nas cidades sedes da Copa e hoje, dia 15 de maio, é o dia que está autorizado sua intervenção, caso julguem necessário. Em algumas cidades o fato de trancar ruas já é proibido e sabemos que as greves que estão em vigor vão ser duramente atacadas para que voltem ao trabalho e a ordem estabelecida pelos mesmos sanguessugas de sempre (patrões e governos).
Se é momento de tensão para os de Cima é porque os de Baixo estão em ofensiva.
Precisamos articular cada vez mais uma unidade para os setores combativos do movimento popular e sindical, porque sabemos que ainda é grande a base aliada do governo dentro destes espaços, sempre pronta para blindar o avanço do movimento dos trabalhadores contra o governo em vigor, ainda mais em um ano eleitoral. Mas, é fundamental ir alavancando uma política independente de governos e patrões, com democracia direta, rompendo o centralismo, a burocracia, colocando em prática valores vitais para um movimento de cunho classista e combativo, com a ampla solidariedade de classe e autonomia, buscando sempre o trabalho de base como forma de organização, com formação política para preparar novos sujeitos capazes de serem protagonistas de suas demandas, ser agressivo na propaganda dos de baixo, seja para expor nossas ideias ou para contrapor as ideias das elites e governos.
Só há um caminho para a conquista dos oprimidos que é a luta sem trégua contra os nossos opressores, com ação direta e popular, sem recuar diante das inúmeras ofensivas que iremos sofrer, mantendo o vínculo direto com inserção social, buscando fortalecer organizações do campo social, traçando caminhos para avançar níveis de lutas no qual a conjuntura possa nos oferecer, sempre atentos e organizados.
Contra a repressão promovida pelos de Cima, a luta e a organização dos de Baixo!
Avançar nas lutas e greves!
Fortalecer o movimento sindical e popular com democracia direta,
independência de classe e governos!
Pela força das ruas e organizações de base!
Federação Anarquista Gaúcha – FAG
