[FARJ] O que sobrou de junho? Uma reflexão sobre o “pós-2013”

Retirado de:  https://anarquismorj.wordpress.com/2015/08/22/reflexao-pos-2013/

Candelária, Avenida Rio Branco, Avenida Presidente Vargas, Cinelândia, Avenida Primeiro de Março… O preço da passagem, o aluguel, a alimentação, o custo de vida aumenta para a classe trabalhadora. A política de segurança no Rio de Janeiro, com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mata jovens negros trabalhadores e oprime o povo que mora nas favelas. A milícia cresce com a “vista grossa” do poder público. Greves pipocam e são reprimidas pelas forças de segurança, ou são freadas pela burocracia sindical e patrões. A Copa do Mundo de 2014 se aproxima apresentando um Brasil que não existe e é vitrine da propaganda das elites. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (ou plano IIRSA) motivam grandes obras que beneficiam empreiteiros enquanto povos e comunidades são violentamente despejados. Camponeses, indígenas e quilombolas perdem espaço com o avanço do agronegócio, direitos são retirados por um legislativo conservador, que ataca os LGBTT’s. Os alimentos transgênicos são liberados, assim como a barragem de Belo Monte e a Transposição do São Francisco.

atocontraatarifa

A população, que parecia amortecida pela máquina de propaganda midiática começa a se movimentar e apresentar sua insatisfação com a situação social. Centenas de milhares de pessoas ocupam as ruas, os punhos se elevam até mais de um milhão (com a direita disputando os atos), e os gritos abalam a sociedade brasileira de uma maneira que nunca teríamos pensado. O povo de outras cidades também se mobiliza e o movimento ganha o país.

Há exatos dois anos atrás o Movimento Passe Livre (MPL) iniciava sua vitoriosa jornada de lutas, que terminou com a derrubada do aumento das passagens. Vitória essa que é patrimônio das e dos de baixo, vitória que foi arrancada ao preço de muito gás lacrimogêneo, balas de borracha e luta nas ruas. Junho de 2013 significou não só que o povo ainda está disposto a lutar com unhas e dentes, mas que este é o único caminho possível para a conquista e a defesa de direitos, e para transformar a realidade a partir das demandas populares em direção ao socialismo libertário.

Mas se olharmos para hoje, depois desses dois anos, a conjuntura mudou. O que era esperança, virou decepção. A direita “tradicional” entendeu que o PT, essa direita envergonhada já não tem condição de controlar e domesticar totalmente a raiva das ruas. O avanço das forças conservadoras, os ataques aos direitos dos trabalhadores, o assanhamento da extrema-direita, mostram que os tempos são nebulosos. O governo PT/PMDB continua garantindo o lucro para o capital empresarial e financeiro (nacional e internacional). Não há e nunca houve possibilidade de disputa desse governo, bancado como qualquer outro pelos grandes empresários, empreiteiras, latifúndios e pelo capital financeiro. Governo que pôs o exército nas favelas e prosseguiu com a política de genocídio da população negra e pobre. Governo que beneficia o agronegócio, realiza o menor número de assentamentos na história da reforma agrária no país e impõe um ajuste fiscal de corte neoliberal que faz com que as/os mais pobres paguem a conta da crise internacional. Governo que bem alinhado à classe dominante (vingando-se de 2013) propõe a PL 2.016, que sob a desculpa de combater o “terrorismo” atacará os movimentos populares, organizações políticas e qualquer rebelde que questione o sistema capitalista. O PT portanto, é parte dessa onda conservadora. Um governo que preparou o terreno para a direita mais tacanha avançar com pautas conservadoras, como a da redução da maioridade penal e a tentativa de excluir o debate de gênero da educação. Dentro ou fora do governo, a direita faz sua festa e o povo é convidado a assistir.

Abaixo e à Esquerda: reconstruir o campo independente das/os de baixo

Somos chamados a refletir sobre a conjuntura e a necessidade da organização. Por mais que os momentos da revolta sejam importantes não são suficientes por si só para mudar a correlação de forças da sociedade capitalista. A ilusão de que tudo mudaria tomando o Estado e elegendo um partido “dos trabalhadores” escorre como água das mãos de seus defensores. 2013 também mostrou que a classe dominante não vai entregar nada de bandeja para as oprimidas e oprimidos, e sem resistência. E que as revoltas pontuais se perdem diante da repressão e da organização da classe dominante quando não canalizam e acumulam para uma estratégia coerente. Parte da esquerda tenta seguir o caminho derrotado do PT, reeditando a tentativa fracassada de eleger “deputados combativos” que logo se tornam burocratas desavergonhados e que vão dar a linha nos movimentos e partidos ditos revolucionários.

Velhos e novos gerentes do capitalismo.

A espontaneidade da luta também dá lugar à frustração e à decepção quando não acumula para movimentos populares e organismos de base sindical independentes, classistas e anticapitalistas. Quantos revolucionários/as de junho não se decepcionaram com o refluxo do ano que se seguiu? Com muita modéstia sabemos que o campo anticapitalista e autônomo ainda tem muito que avançar para influenciar e gerar força social. O momento é de trabalhar para uma reconstrução urgente do campo combativo dos movimentos populares e sindicatos. Isso não será feito de um dia para o outro mas deve ser construído desde já. O que propomos, sabendo que essa não é só uma tarefa nossa mas de todo o campo anticapitalista, é a construção permanente de movimentos populares bem organizados, independentes e com um projeto bem definido de luta (no campo sindical, comunitário, camponês, estudantil e outros) que supere o governismo pelo método e pela prática. Defendemos o federalismo como metodologia para garantir a autonomia e a democracia direta na luta dos organismos populares.

Para isso é necessário trabalhar para superarmos a fragmentação das lutas que o capitalismo nos impõe cotidianamente, pois nenhum/a militante ou experiência de poder popular é capaz de resistir isolada e sem apontar para um horizonte estratégico e coletivo. “Cada um fazendo o seu”, mesmo com boas intenções, é tudo o que poderosos querem para nos explorar e esmagar com mais força. Quaisquer experiências, por mais importantes que sejam, se não confluem para um projeto coletivo, autogestionário e federalista, perdem-se no pragmatismo e no imediatismo do cotidiano.

É preciso abandonar a crença de que o Estado pode ser disputado e que a opção das eleições pode andar junto da opção da luta popular. A única disputa em curso é a disputa interna entre os velhos e novos gerentes do capitalismo. O campo anticapitalista deve ajudar os movimentos a romper com o governismo e propor uma pauta própria e independente. É a rebeldia popular, trancando ruas, ocupando terras e prédios e se organizando com um trabalho de base constante e permanente (nas escolas, fábricas e nos bairros/favelas e no campo) que faz a classe dominante tremer, apontando para o poder popular (autogoverno). E isso só pode ser feito com movimentos populares organizados e com o horizonte de independência e luta. Não vamos fechar fileiras com a velha direita e os raivosos reacionários que marcham apenas para trocar os opressores de lugar. Tampouco vamos defender um governo que desarmou a classe trabalhadora e dela só se alimenta para gerir o modelo de dominação. Nossa saída é a das lutas populares no campo e na cidade. São essas lutas que disputam um projeto de transformação radical de sociedade e que combatem os velhos conservadores e o governismo.

Organizar e lutar com as/os de baixo. Muralismo na cidade do Rio de Janeiro.

Não há tempo certo nem errado para se construir movimentos populares. A organização não vai cair do céu nem vem com quem lança mais comunicados “radicais”, sem base na realidade concreta. A realidade que desejamos é construída com a vontade permanente das/os de baixo em iniciativas de organização e luta. É dever das/os anarquistas trabalhar como combustível na organização do povo superando o espontaneísmo, o ativismo sem estratégia e a burocracia nos espaços sindicais e populares. Convidamos as/os anarquistas e militantes populares à participar estrategicamente dessa etapa de resistência. Para isso serve o anarquismo, a FARJ e a CAB como ferramentas de organização e luta do povo.

 

Construir federalismo popular / libertário!

Povo na rua pra resistir e lutar,

Povo que avança para o Poder Popular!

Viva a luta popular no campo e na cidade!

[Rusga Libertária] Memória do assassinato de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti – 88 anos do assassinato cometido pelo Estado Xenofóbico, Capitalista e Opressor!

Retirado de:  https://www.facebook.com/RusgaLibertariaRL/photos/a.295628697234842.1073741828.295624600568585/734965853301122/?type=1&theater

Iniciando a memória do assassinato de Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti – 88 anos do assassinato cometido pelo Estado Xenofóbico, Capitalista e Opressor!

Viva a Anarquia!

A carta de um condenado
Nicola Sacco…

21 de agosto de 1927.

Da Casa da Morte na prisão de Massachusetts.

Meu caro Dante:

Ainda espero, e combateremos até o último momento, reivindicando o nosso direito de vida e de liberdade, mas todas as forças do Estado e do dinheiro e reação são implacavelmente contra nós, porque somos libertários ou anarquistas.

Escrevo pouco a respeito disto porque és ainda muito criança para compreender estas e outras coisas sobre as quais eu gostaria de conversar contigo.

Mas hás de crescer e compreender o caso meu e de teu pai, os princípios meus e de teu pai, princípios pelos quais nos vão matar dentro em pouco.

Digo-te agora que, por tudo que sei de teu pai, ele não é criminoso, mas um dos homens mais direitos que já conheci. Um dia compreenderás o que te estou dizendo. Que teu pai sacrificou tudo o que há de mais caro e sagrado ao coração e à alma humana pela justiça e liberdade de todos. Nesse dia terás orgulho de teu pai, e se fores bastante corajoso, tomarás o seu lugar na luta entre a tirania e a liberdade e vingarás o seu (os nossos) nomes e o nosso sangue.

Se de fato morreremos agora, saberás um dia, quando te tornares capaz de compreender esta tragédia em toda a sua extensão, como teu pai foi bom e corajoso contigo, teu pai e eu, durante estes oito anos de luta, tristeza, angústia e aflição.

Desde este instante mesmo serás bom e corajoso com tua mãe, com Inês (irmã de Dante) e com Susie (amiga da senhora Sacco, com quem ela e seus filhos viviam nos últimos anos do caso) – e farás tudo para as consolar e ajudar.

Gostaria também que te lembrasses de mim como camarada e amigo de teu pai, de tua mãe, de Inês, de Susie e de ti, e te afianço que também não sou um criminoso, que não cometi nenhum roubo nem morte, mas apenas combati modestamente para abolir os crimes entre os homens e para defender a liberdade de todos.

Sabe, Dante, que quem disser o contrário de teu pai e de mim, é um mentiroso a insultar dois mortos inocentes que viveram como homens de bem. Sabe também, Dante, que, se teu pai e eu tivéssemos sido covardes e hipócritas e renegadores de nossa fé, nos teríamos salvado. Não se condenaria nem mesmo um cão leproso, não se executaria nem mesmo o escorpião mais venenoso com fundamento nas provas que forjaram contra nós. Conceder-se-ia novo julgamento a um matricida e criminoso relapso, se apresentasse recurso como o que apresentamos para obter novo julgamento.

Lembra-te, Dante, lembra-te sempre disto; não somos criminosos; forjaram uma traça para condenar-nos; negaram-nos um novo julgamento; e se formos executados depois de sete anos, quatro meses e dezessete dias de indizíveis torturas e injustiças, será pelo que já te disse; porque éramos pelos pobres e contra a exploração e opressão do homem.
…………………………………………………………………………………………………………………………..
Dia virá em que compreenderás a causa atroz das palavras acima escritas, em toda a sua extensão. Então nos honrarás.
Sê sempre bom e corajoso. Dante. Abraço-te.

Bartolomeo Vanzetti

[CABN – Joinville] Solidarity to the Kurdish people!

Retirado de:  https://www.facebook.com/bandeiranegra/photos/a.147886615402856.1073741832.147724098752441/395485300642985/?type=1&fref=nf

Last Sunday (15), in the city of Joinville, south of Brazil, militants held a solidarity event and debate around the Kurdish struggle and the Rojava Revolution. Discussions centered on the recent attacks by the Turkish State, the libertarian and anti-statist strategy of the Democratic Confederalism and the important role played by women liberation in the struggle and organizing process. Brazilian anarchists organized in the Coletivo Anarquista Bandeira Negra and the Coordenação Anarquista Brasileira stand side by side with the Kurdish comrades.

Solidarity to the Kurdish people!
Stop the bombings from the Turkish Terror State!

FOR SOCIALISM AND FREEDOM!