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ANÁLISE DA CONJUNTURA LATINO-AMERICANA

ANÁLISE DA CONJUNTURA LATINO-AMERICANA

América Latina, terra indômita e rebelde, herdeira de séculos de lutas e resistências, onde a magia invade o realismo, lugar onde passamos por uma situação crítica em termos ecológicos, humanitários e sociais. Hoje presenciamos um momento crucial, em que as ameaças sobre nossos corpos e territórios são cada vez mais concretas e por isso a indecisão e as meias medidas devem ser combatidas com posições e propostas. É nosso dever histórico, como anarquistas, gerar espaços de debate e crítica onde possamos entender os dias de luta que se aproximam da gente. Além disso, é necessário apresentar novas categorias de análise para poder atingir de maneira muito mais certeira aqueles que hoje nos submetem.

Durante as últimas décadas, nossos territórios serviram como espaço para as disputas geopolíticas dos imperialismos: China, Estados Unidos, Rússia, Turquia, entre outros, estabeleceram seus interesses sobre os espaços que habitamos. Devido a isso, é necessário romper com a velha análise baseada na guerra fria, em que os interesses dos EUA se instalavam no continente sem nenhum contrapeso. Hoje existem muitos atores nessa disputa geopolítica. Não podemos cair na miopia e dirigir todas as nossas críticas somente aos EUA, que obviamente nessa disputa geopolítica tenta garantir esta área como seu “quintal”, como sempre quiseram que fosse. Porém, mesmo que eles tenham altos níveis de responsabilidade pela miséria em vastos territórios, eles não são os únicos que tentam aplicar uma política imperial.

Nos encontramos diante de um forte avanço da direita e da extrema direita por todos os lados da América Latina. É um fenômeno de escala mundial, já que diversos partidos com essas orientações estão crescendo eleitoralmente na Europa há três décadas: em países do ex bloco do leste, a extrema direita renasceu com inusitada força e em todo o resto do continente europeu diversas expressões direitistas ganham espaço. Nos EUA, Donald Trump é uma amostra desse fenômeno, com a particularidade de que isso tem efeitos, em sua política imperial, para a área latino-americana e o mundo.

No governo Obama, os EUA apoiaram e organizaram o Golpe de Estado em Honduras, em 2009, iniciando aos poucos essa guinada na direção de um maior controle sobre o que eles chamam de seu “quintal”. Esse golpe teve continuidade no golpe no Paraguai em 2012 e no “golpe brando” no Brasil em 2016. Esse ambiente facilitou a vitória eleitoral de Macri na Argentina em 2015 e de Duque na Colômbia em 2017. O único país onde o “progressismo” avançou foi o México, e isso é muito discutível.

A direita organizou seu “retorno” à frente dos governos. Em todos os países elaboraram fortes campanhas contra os “progressismos”, com foco na anticorrupção – na qual estão  envolvidos todos os setores políticos, como ficou evidente no Brasil com a Lava Jato – mas além disso se organizaram no nível latino-americano, sempre contando com o apoio imperial.

Os governos de Macri e Bolsonaro somaram apoio ao Grupo de Lima, esse conjunto de governos reacionários que vociferam “democracia” mundo afora mas aplicam políticas antipopulares e repressivas portas adentro. E particularmente no caso de Bolsonaro, que fala diretamente contra a democracia burguesa, instalando abertamente a ideia de governos ditatoriais.

Esse grupo de países é o que serviu de cobertura latino-americana para os intentos golpistas da direita venezuelana apoiada pelos EUA. Eles lidam abertamente com a possibilidade de uma invasão estadunidense sem rodeios, como nos velhos tempos, recorrendo aos mecanismos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR).

Essa guinada continental para a direita não é algo menor. O sistema capitalista, depois de uma feroz aplicação do neoliberalismo, permitiu diante de embates populares algumas “mudanças”, algumas melhoras, certo “afrouxamento” para aperfeiçoar a dominação e a espoliação constante das e dos debaixo. No período chamado “progressista” houve certas políticas sociais de contenção da pobreza,  com medidas diferentes em cada país. Havia como denominador comum permitir certa melhora na vida dos setores mais pobres da sociedade, só que administrando a pobreza: não geraram políticas de trabalho real, deixaram as pessoas pobres no lugar do assistencialismo, ou no máximo como mão de obra terceirizada e precária, com o próprio Estado terceirizando tarefas, enriquecendo empresas ou ONGs e gerando uma classe trabalhadora muito mais precária e sem direitos, amputada de suas instituições e de seus processos de luta.

O extrativismo, tanto dos governos “progressistas” de diversos tipos quanto dos liberais, o extrativismo como regime e dinâmica neocolonial imperante em toda a América Latina, só aprofundou o intercâmbio desigual entre territórios e a divisão internacional do trabalho como expressões históricas da luta de classes, intensificando a exploração de grandes volumes de natureza (commodities) para exportação. A reacomodação geopolítica elaborou novas estratégias para aumentar a circulação de mercadorias para os centros industriais, abrindo estradas em lugares antes nunca pensados, como a série de projetos da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) e do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN), novos projetos de tratados de livre comércio como a Parceria Transpacífica (TPP-11, que inclui México, Peru e Chile como países latino-americanos), disputando os últimos bens naturais comunitários do planeta. Suas consequências trouxeram questões inerentes a essa dinâmica de exploração da natureza, abrindo importantes processos de desterritorialização através de migrações locais e globais, a perda da biodiversidade, o aumento da violência contra os corpos feminizados e racializados (mulheres e outras sexualidades – não binárias e trans), incluindo assassinatos de aluguel e, finalmente, os casos de corrupção que vimos no Caso Odebrecht, que envolve uma rede entre diferentes países.

Cabe mencionar que a hegemonia dos “progressismos” na década de 2000 intensificou o roubo e a espoliação de nossos territórios, já que seus programas com “ênfase social” se baseavam na extração de bens naturais e na venda para os países industrializados. Nesse sentido, os governos “progressistas” redistribuíram migalhas de uma época de bonança, de crescimento do preço internacional dos commodities.

Geraram algumas melhoras salariais e políticas sociais, porém não se tocou no fundamental do sistema. Essas políticas tinham como denominador comum elevar as condições de vida dos setores mais pobres da sociedade, funcionando simultaneamente como elemento de contenção social enquanto se construíram aparatos estatais repletos de uma casta política acomodada e parasitária, sem questionar o arrendamento da terra e o extrativismo como pilares econômicos do mal chamado “progresso”.

Ao mesmo tempo, as classes dominantes latino-americanas multiplicaram seus lucros e o abismo entre ricos e pobres aumentou. Só que os ricos não queriam perder o controle administrativo do Estado. É o Estado deles: parte de seu poder de classe está enraizado ali e se condensa em suas instituições. Eles não estavam dispostos a permitir que uns “recém-chegados” tirassem o controle do Estado deles por muito tempo. Alguns anos eles até podiam aguentar, enquanto arrumavam a casa depois do saque dos anos 90. Mas já estavam perdendo a paciência.

Isso significa que os governos “progressistas” são a saída necessária e que são a antítese da direita? NÃO. Em primeiro lugar, além de permitir um enriquecimento histórico das burguesias locais e multinacionais, os governos “progressistas” redistribuíram poucos recursos em um momento de crescimento do preço internacional das matérias primas. Quando terminou o “boom” voltaram as dificuldades econômicas e a crise. Só que eles não usaram esse “período de bonança” para investir em geração de trabalho em nível industrial, nem se elaborou nenhuma Reforma Agrária, nem a transformação radical dos serviços para a população etc. Os governos “progressistas” permitiram um desembarque de projetos de extração de bens naturais em grande escala no continente: grandes projetos de mineração, de exploração de petróleo, de plantação de soja e florestas para extrativismo, hidroelétricas… tudo em benefício do capital internacional, especialmente chinês nos últimos tempos. Tudo isso como parte do plano da IIRSA, plano de espoliação elaborado nos EUA. As linhas gerais do sistema não se modificaram, simplesmente se adequaram a uma nova etapa que, então, contando com certo consenso popular, tornava mais fácil implementar a fundo a política de espoliação.

A redistribuição da riqueza foi bastante limitada. Como dissemos, não se tocou no fundamental do sistema: a propriedade privada, nem uma maior redistribuição da riqueza nem as relações de poder. Mesmo assim, a burguesia e os setores mais conservadores não estavam mais dispostos a tolerar Lula, Cristina e Néstor Kirchner ou quem quer que não venha da “alta estirpe”. Um nítido ódio de classe percorre o continente e destila seu veneno sobre os povos.

Mas também nesse período se produziram dois processos que têm as suas peculiaridades nesse contexto: o venezuelano e o boliviano. Na Venezuela, impulsionadas em seu momento por Chávez, se criaram diversas “comunas” que, segundo dizem algumas notícias de jornal, têm hoje em dia um número considerável de povo envolvido e certo desenvolvimento em atividades econômicas, culturais e sociais, sem vinculação alguma com o Estado. Aconteceu ali uma ruptura comparando com o período anterior, em que até militares, burocratas e bolirricos (“bolivarianos ricos”) queriam controlar esse processo e encher os bolsos com o dinheiro que tinha sido investido nessa experiência.

Na Bolívia, há um “Estado plurinacional” dividido, porém, com influência do movimento indígena e camponês, aquele mesmo que protagonizou em 2000 e 2003 as insurreições da “guerra do gás” e a “guerra da água”, botando abaixo governos e colocando freios no neoliberalismo. Essa mobilização dá um caráter diferente aos processos históricos que os povos vivem. Temos que lembrar que, no período anterior, o continente foi sacudido por amplas mobilizações populares que derrubaram mais de um governo.

Mereceria um capítulo especial a situação da Colômbia em que, depois de assinados os “acordos de paz”, foram assassinados mais de 570 militantes sociais. Um setor das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) voltou à luta armada, o que demonstra que não existem garantias nem possibilidade de pacificação no país. Os paramilitares, grupos de narcotraficantes e o Exército continuam articulados aumentando a violência contra as e os debaixo. A Colômbia vive em guerra constante: no entanto, a mídia mostra seu governo como “democrático”, embora seja o país latino-americano que mais recebe apoio militar dos EUA e que é vital para seus interesses, até pela possibilidade de acirramento no conflito na fronteira com a Venezuela.

Nos últimos anos o movimento popular colombiano tem protagonizado importantes lutas, especialmente as organizações camponesas e indígenas, nas quais os processos de ocupação e recuperação de terras tem sido mais do que relevantes junto com as paralisações agrárias.

Hoje a direita ataca com tudo diretamente contra a vida. Prova disso são os incêndios na Amazônia, em que governos como o de Bolsonaro dão “carta branca” para destruir a natureza e promover o genocídio indígena em benefício do agronegócio. É uma expressão de um protofascismo agressivo ao extremo, que não poupa esforços para implementar o sistema capitalista. É o neoliberalismo imposto com total agressividade e aplicando a máxima do império britânico: “cagando pra todas as consequências”.

Um forte ajuste

A burguesia latino-americana precisa retomar a direção dos governos em todo o continente. Precisa disso para impor um ajuste maior, um ajuste duro como o que Macri impôs desde 2015. Mas temos que considerar que essa direita já contava com fortes bases de apoio: no Peru ela não perdeu o governo em nenhum momento, incluindo todos os escândalos de corrupção possíveis, na Colômbia a ultradireita controla o governo com Iván Duque (lá quem governa é o uribismo) e no Chile a já dissolvida “Conciliação” governou em uma lógica pinochetista e neoliberal. Plataforma de lançamento nada desprezível.

Muitas dessas guinadas vieram do próprio “progressismo” ou de seus aliados. Lenin Moreno no Equador era o sucessor de Rafael Correa e deu uma guinada importante em nível político tanto interno quanto na região. Michel Temer deu um “golpe brando” parlamentar sendo o vice-presidente do governo de Dilma Rousseff.

No Uruguai, diversas referências da Frente Ampla se descolam agora da Venezuela e qualificam o governo daquele país de “ditadura”, em sintonia com o Grupo de Lima e com a OEA. Alguns deles, como José Mujica, que até ontem recebia mãos cheias de dinheiro da Venezuela, hoje se mostra como ele é: um oportunista que muda de posição conforme sopra o vento. Agora a Venezuela não envia mais dinheiro por causa do bloqueio econômico e da crise que o país está vivendo, gerada e aprofundada entre outros mecanismos pela OEA, cujo secretário geral, Luis Almagro, foi colocado ali com grande ajuda do próprio Mujica. Se pode dizer que entre os “progressismos” se encontram personagens de toda laia, dignos de uma crônica das maiores infâmias da humanidade.

No Uruguai vai ter eleição em outubro-novembro, assim como na Argentina. A disputa é o grau de ajuste e de garrote: se a Frente Ampla conseguir seu quarto governo vai haver um ajuste e uma guinada à direita de menor grau do que se ganhar a oposição, porém a discussão é o grau do ajuste. E isso vai ser acompanhado de repressão, o que já se está vendo nas manifestações contra a instalação da terceira fábrica de papel do país, em que a polícia sai defendendo os interesses do capital multinacional em um governo “progressista”. E a direita simplesmente viria com o libreto neoliberal duro e puro.

As alianças feitas em muitos casos por ditos “partidos progressistas” são próprias de um filme de terror: o PT se aliou até com a direita mais rançosa e reacionária para conseguir votos no parlamento… comprando votos com dinheiro também, como se demonstrou nas tramas no Mensalão e da Lava Jato.

Mas é aqui que a direita coloca para funcionar à toda os mecanismos do sistema que, em outros momentos, não recebiam essa relevância: o sistema judicial foi utilizado como um dispositivo de poder sinalizador, por si, de corruptos e vários juízes são os novos “cavaleiros” da austeridade e da justiça. E neste exato momento se está demonstrando que a trama de corrupção é maior do que podemos imaginar e que o jogo da direita não mede esforços para tirar quem ela quiser do meio do caminho.

A direita quer o controle político total e retomar as negociações que permitem a condução do Estado: licitações, subornos, compras e negócios, vários dos quais ela nunca esteve ausente, mas a sua voracidade não tem limites. Há uma espécie de “genética” que lhe indica que, por mais que os governos “progressistas” governem para a direita, protejam seus negócios e seus interesses de classe, que contenham as pessoas pobres e reforcem o aparato repressivo, esses “progressistas” não vêm da estirpe dela, não são burgueses de linhagem pura. Para a burguesia, no fundo eles não são confiáveis, mesmo que tenham feito muito bem a tarefa. Tem aí um instinto de classe que essa burguesia industrial-rural-financeira-comercial latino-americana expressa, um evidente ódio de classe que ela lançou às ruas com força inusitada. Ela não quer perder nem uma pontinha de poder. Não está disposta sequer a tolerar medidas paliativas, para não falar de reformas a céu aberto como ocorreu em décadas passadas com os populismos ou os governos desenvolvimentistas ou liberal-reformistas. Essa burguesia é liberal de linhagem pura: em seu sangue circula o ódio às e aos debaixo e uma sede constante de converter o mundo todo em um negócio.

E para que esse negócio funcione é necessário mais e mais terror de Estado. Os ataques vêm de todos os lados, com reformas trabalhistas e de previdência, cortes de orçamento na educação, vista grossa para queimadas, desmatamento e assassinatos de indígenas e pobres. Por outro lado, a esquerda eleitoral segue com seu discurso institucionalista e desmobilizador das bases. No Brasil, as centrais sindicais chamam paralisações de um dia de “greve geral” e não parecem conseguir se dissociar do chamado “Lula livre”. No entanto, nossos esforços seguem sendo fomentar a organização pela base e apoiar lutas com ação direta, como as ocupações de indígenas na Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), contra as demissões em massa nesse órgão de saúde pública, e as greves e ocupações estudantis em universidades, como o exemplo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) contra a intervenção federal que colocou ali um reitor bolsonarista em vez do reitor eleito pela comunidade acadêmica.

Enquanto os palácios estão formulando leis e projetos de crises, mais liberação econômica, menos direitos para as pessoas e mais lucros para os exploradores, a repressão nas ruas das cidades ataca o povo em revolta e trata de manter as pessoas em silêncio na base da bala.

No campo e florestas está a raiz de uma América Latina que não desfrutou da bonança da “esquerda” no governo. Não apenas as queimadas e o avanço ecocida dos latifundiários fazem vítimas, mas também o genocídio sistemático das populações rurais e nativas, cujos corpos continuam sendo acumulados como resultado direto do avanço da ultradireita no continente.

Argentina: garantir a governabilidade deles ou defender o nosso salário

Os números alcançados nas últimas eleições não evidenciaram nada além do que se está vivendo na rua, nos bairros, nos locais de trabalho. Inclusive nessa instância legitimadora do sistema – como é a democracia representativa – se expressou o desespero das massas populares diante do desmantelamento do país. Podemos começar argumentando que o cálculo errado – tanto das consultorias quanto da classe política – do resultado eleitoral tem relação com o pouco nível de conhecimento desses setores sobre o que se vive abaixo, sobre o rechaço dos setores populares em relação às assustadoras políticas de fome, desemprego e exclusão de Macri e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O panorama social, econômico e político que nós, oprimidos e oprimidas, estamos vivendo é cada vez mais complexo e urgente. Em um contexto de recessão, no meio de uma espiral inflacionária e um endividamento sem precedentes, o Peso argentino se desvalorizou 25% imediatamente após as eleições. Isso se transferiu logo para o preço da cesta básica e os combustíveis, em um deliberado lapso de tempo outorgado pelo governo nacional, antes de lançar dez medidas como incentivo em uma tentativa de enganar novamente as classes populares. O resultado: uma estrepitosa redução salarial. Porém, não é nossa intenção falar demais sobre os números para descrever a proporção do dano causado na última jogada especulativa dos setores financeiros e o governo.

Mas nós sabemos que esse período de ajuste que dura já quase uma década, aprofundado pelo macrismo em níveis descomunais, vai ir além do próprio “fim do ciclo” da coalisão Cambiemos. Entre os candidatos, no fundo, se discutem modalidades de ajuste. É por isso que é coerente a proposta de Alberto Fernández de levar o dólar a 60 pesos. Tampouco devemos desconhecer que nos encontramos já em um contexto de duro avanço neoliberal em toda a região, em um continente onde o imperialismo estadunidense tenta retomar o controle hegemônico.

Nesse cenário dramático, devemos analisar que nitidamente se explicitam duas saídas institucionais concretas no imediato. Uma é a que propõem os dirigentes da Frente de Todos, que consiste concretamente em não fazer nada, esperar sentados até dezembro, garantir o fluxo de votos e resguardar a governabilidade (mesmo que isso implique bancar as medidas antipopulares de Macri). Como temos dito, a crise social provocada pelo avanço neoliberal foi diretamente proporcional à crise de falta de participação política da classe oprimida durante um longo período. Devemos lembrar que estamos vindo de décadas de restrição vinda de cima contra a participação popular, através de mecanismos de cooptação, clientelismo e burocratização, quando não de deslegitimação e repressão dos protestos sociais. Esse “paradigma da não participação” pôde ser evidenciado lá no início de 2016 quando, em pleno conflito contra demissões no setor público e no frigorífico Cresta Roja, a cúpula kirchnerista ficava convidando para tomar mate nas praças (o chamado “resistindo com perseverança”). Definitivamente, esse exacerbado pedido a “não bater panelas” – tentando inclusive frear medidas de força nos sindicatos – não esconde nada além da preocupação com a porcentagem eleitoral, em detrimento de impedir maiores níveis de pobreza e desemprego para o povo.

A outra saída a esse golpe contra o bolso das e dos debaixo tem a ver com o que se propõe nos setores combativos do movimento operário e as organizações populares, como a possibilidade de uma resistência organizada na rua. Logo que ocorreu a desvalorização da moeda, pudemos ver a resposta de alguns desses setores, como a manifestação da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE-Capital) e a paralisação da Associação Gremial de Trabalhadores Metroviários e Ferroviários (Metrodelegados) da Cidade Autônoma de Buenos Aires, assim como os cortes de Empregados do Comércio em Rosário. O plano de luta estendido dos trabalhadores estatais em Chubut sem dúvidas é um exemplo de resistência organizada contra as foiçadas do governo. Os movimentos sociais, por causa da fome nos bairros, também organizaram refeições populares em todo o país, em um contexto de um operativo policial de grande envergadura.

Do ponto de vista do anarquismo organizado estamos conscientes que não existe um clima generalizado de efervescência popular e muito menos de rebeldia profunda. Tem luta, descontentamento e altas expressões de rechaço à situação social, porém sabemos bem que estamos longe de um “fora todos” e que os sindicatos e movimentos sociais carecem de um programa de classe representativo. No entanto, é evidente que o humor social não tem os mesmos tempos que o calendário eleitoral. É óbvio que a classe política em seu conjunto tem mais medo da ideia de uma explosão social do que da ideia de que haja mais 10% de pobres. Inclusive, diante da iminente vitória de Alberto Fernández, a dirigência kirchnerista prefere uma vitória com pouca margem e descrença social do que um transbordamento popular com a pressão nas ruas. Neste momento devemos ter cautela. Sabendo que existem setores populares que depositaram esperança no voto e em propostas eleitorais “progressistas” – e que anseiam como nós por uma sociedade sem exploração – é necessário conversar com esses setores e chamar para a resistência imediata através da mobilização popular. Transbordar e transcender a imposição de “soluções vindas de cima” é uma questão vital para devolver a confiança na própria força e na organização das e dos debaixo, para que se expresse com vigor essa resistência que dá mostras de existir. A resposta popular aos roubos do governo e do capital financeiro não pode se fazer esperar. Diante da alternativa de garantir a governabilidade deles ou defender nosso salário, sempre vamos optar pela segunda, buscando com que estejam presentes os métodos que fortalecem as e os debaixo.

Chile: o “modelo” neoliberal funciona…. para os de cima

Na região chilena o sistema de dominação administrado pelo bloco dominante recrudesceu e aprofundou sua política neoliberal. Nesses dois anos de governo Piñera se desmantelou o pouco ou nada de direitos sociais que a classe dominada possuía e, por sua vez, houve um recrudescimento da repressão contra os setores em luta.

No mundo do trabalho assalariado, os instrumentos de flexibilização trabalhista se fortaleceram. Expressão disso é o Estatuto Trabalhista Juvenil e a Iniciativa de Lei que buscou aumentar a precarização do trabalho com o falso discurso de redução de horas de exploração, anulando a possibilidade de negociação coletiva com a patronal e flexibilizando ainda mais as condições do trabalho. Por outro lado, a reforma tributária garante o resguardo das taxas de lucro para o empresariado local e as transnacionais, em um contexto de crise e desaceleração da economia, prejudicando consideravelmente as classes dominadas.

Nos territórios, a Lei de Integração Social consolidou o monopólio de acesso ao solo para o mundo imobiliário, erradicando as comunidades da produção e gestão da cidade e seus territórios, impossibilitando a realização concreta de projetos autogestionados e participativos. O extrativismo e a mercantilização da terra e da água, hoje, mantêm nossos territórios em uma grave situação ecológica, com uma crise hídrica cada dia mais complexa, expandindo as zonas de sacrifício e a alteração dos ecossistemas, como os casos da contaminação da água potável em Osorno, onde se visibiliza a mercantilização das fontes hídricas através das empresas sanitárias, a situação de Puchuncaví-Quintero que não foi resolvida, a morte da vida camponesa, da fauna e da flora em zonas devastadas pela seca, e as falsas saídas que apresenta o bloco dominante através da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 25) e os tratados econômicos como o TPP-11 e a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), que vêm para reforçar o ataque aos corpos e territórios.

Atualmente presenciamos um recrudescimento do aparato repressivo e a criminalização dos protestos sociais. A lei Aula Segura, a Agenda Curta Antiterrorista, a Lei Migrante são mostras nítidas de que o aparato estatal atualiza e aprofunda sua ferramenta de controle e disciplinamento, golpeando fortemente a classe oprimida: ambulantes, feirantes agrícolas, comunidades Mapuche em resistência e estudantes secundaristas. Somado a isso, o assassinato de lutadoras e lutadores sociais tais como Macarena Valdés, Camilo Catrillana, Alejandro Castro e os feminicídios cada dia mais frequentes em espaços públicos, a homo-lesbo-transfobia e o racismo nos evidenciam o Estado de Exceção permanente em que estamos habitamos.

Se abre um novo período de luta e resistência

Ninguém nunca deu nada de presente para os povos. Todos os tempos são de luta, todos os períodos têm as suas complexidades. Agora que a direita e a ultradireita estão retomando o controle dos governos e os “progressismos” dão guinadas nessa direção em maior ou menor grau (caso da rearticulação peronista na Argentina ou uma eventual vitória da Frente Ampla com minoria parlamentar no Uruguai, por exemplo), se abre uma nova etapa de lutas, de resistências variadas e complexas. Porque todos os governos virão para cortar direitos, com algum grau ou plano de ajuste. Já não existe crescimento para repartir, apenas miséria e garrote. Portanto, os governos e as classes dominantes vão graduar os níveis de ajuste e repressão: alguns serão mais intensos, outros mais suaves, e outros, descaradamente, com extrema violência de classe. Todos esses regimes têm e terão em comum a defesa do interesse das classes dominantes latino-americanas e estrangeiras.

É por isso mesmo que vão se intensificar os níveis de luta popular. O neoliberalismo traz resistência. Eles sabem, por isso apostam com força na milicada. Porém os povos também sabem, intuem e desejam uma sociedade diferente. Os povos sabem que toda essa exploração precisa de um freio, que é preciso frear tanta arbitrariedade. Aí está toda uma história de luta dos povos indígenas, quilombolas, trabalhadoras e trabalhadores da cidade e do campo, estudantes, e as diferentes expressões e níveis de ação direta que ocorreram no continente. Feitos históricos que apontam um caminho, lutas atuais, recentes, que convocam amplos setores do povo a continuar indo para a rua, para ocupar e recuperar terras, para defender a vida.

Esses tempos que estão vindo exigem de nós, militantes anarquistas organizadas/os politicamente, que intensifiquemos o esforço militante e tratemos de oferecer as ferramentas necessárias ao campo popular para resistir e avançar em uma perspectiva de longo prazo.

Um longo processo de luta nos convoca. Um longo caminho de anseios e esperanças, de experiências compartilhadas, de dores mas também de vitórias, de avanços. O Anarquismo Especifista tem muito a dizer e um papel a assumir na construção dessa sociedade diferente. Nas nossas organizações e espaços militantes tem lugar para todas as pessoas que buscam maiores níveis de militância e compromisso, para todas as pessoas que colocam o melhor de si a serviço da causa das e dos debaixo.

É nesse debaixo que o Socialismo vai encontrar militantes, construtores e construtoras. Podemos dizer que a única alternativa a esse mundo de barbárie é o Socialismo, e que o Socialismo será Libertário ou não será!!!

PELA CONSTRUÇÃO DE PODER POPULAR!!!

FORTALECER A RESISTÊNCIA!!

ARRIBA LAS Y LOS QUE LUCHAN!!

FEDERACIÓN ANARQUISTA URUGUAYA (FAU)

COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA (CAB)

FEDERACIÓN ANARQUISTA DE ROSÁRIO (FAR) – ARGENTINA

FEDERACIÓN ANARQUISTA DE SANTIAGO (FAS) – CHILE

GRUPO LIBERTARIO VÍA LIBRE – COLOMBIA

ROJA Y NEGRA ORGANIZACIÓN POLÍTICA ANARQUISTA (RYN OPA) – BUENOS AIRES, ARGENTINA

[CAB-FAU] Declaração da Federação Anarquista Uruguaia e da Coordenação Anarquista Brasileira sobre a situação na Venezuela

FEVEREIRO DE 2019
 A Venezuela está mais uma vez na mira e no centro dos debates. Declarações bombásticas de diversos atores sociais em todos os meios de comunicação condenando o governo de Maduro, alguns reconhecendo Guaidó como Presidente, outros se distanciando de ambos, como se tudo o que está em jogo na Venezuela, neste momento, fosse resolvido no reconhecimento ou não de um determinado governo. O assunto é muito mais profundo, e como já abordamos em outras ocasiões, tentaremos fazer aqui uma análise conjuntural específica cuja trama é muito mais complexa. Uma análise que realizamos com o máximo rigor possível, mas sempre amparados em nossa concepção anarquista e especifista, como parte dos povos latino-americanos que resistem às estruturas diárias do sistema capitalista e do imperialismo norte-americano, presente há quase dois séculos em nossa região.
Imperialismo que com seu monroísmo (programa da Doutrina Monroe) tem a pretensão de que a América Latina seja seu quintal. Em 10 de janeiro, Nicolás Maduro adentrou um novo período de seu governo. Nas semanas anteriores, o Grupo Lima (grupo criado e composto por 12 países da região com o único propósito de derrubar o governo de Maduro) empreendeu uma campanha ativa contra o que eles consideram ser um “ditador”, “usurpador”, “um governo ilegítimo”, com o objetivo de impedir um novo mandato de Maduro e do PSUV (Partido Socialista Unificado da Venezuela).
Esta nova campanha veio acompanhada de uma importante atividade interna da oposição ao governo do PSUV, que incluía a autoproclamação do desconhecido Juan Guaidó como “presidente interino ou de transição”. Quem é Juan Guaidó? De onde veio? A mesma pergunta foi feita pela imprensa internacional que o apoiava, ou seja, grande  parte da mídia internacional apoia alguém desconhecido e ainda o “apresentam a sociedade”. Mas a agência estadounidense de notícias AP havia informado que Guaidó, viajou em meados de dezembro “silenciosamente” a Washington, Colômbia e Brasil para informar aos funcionários sobre a estratégia de oposição de manifestações massivas para que coincidira com o esperado juramento de Maduro para um segundo mandato em 10 de janeiro, segundo o ex-deputado de Caracas (fugido e exilado) Antonio Ledezma.
Esse mesmo Juan Guaidó é um deputado pertencente a um grupo de ultradireita da oposição, suposto presidente da Assembleia Nacional, que desde 2016 não funciona, não se reúne, devido a certos conflitos entre a oposição e o governo naquela época,  ao assumir uma maioria opositora na dita assembleia ou parlamento. Um conflito de poderes dentro do Estado, mas que agora a direita, articulando diretiva imperiais, utiliza para tentar dar um novo golpe de Estado.
Houve dos fatos políticos de relevância que ocorreram de forma quase simultânea e não foram coincidências, correspondiam a uma estratégia e acordos prévios, a auto-juramentação de Guaidó e o reconhecimento imediato dos Estados Unidos. O que chama a atenção nesta ocasião é que Juan Guaidó se tornou o líder da oposição da noite para o dia, com o total apoio do governo dos Estados Unidos, para desestabilizar novamente a situação política e social venezuelana, de modo a acabar com “a Revolução Bolivariana” e reintegrar os partidos da direita e da extrema direita novamente ao governo. Houve algum pequeno rearranjo no projeto que vinha se desenrolando. Os próprios operadores e cérebros políticos da direita venezuelana criticaram Guaidó por sua “amornada” nos primeiros momentos de sua aparição pública porque não decidira proclamar-se “presidente interino”, como fez em 23 de janeiro com total apoio dessa mesma direita e dos EUA. Toda direita vem incitando um golpe de estado de forma simples e direta. Golpe de Estado não tradicional e onde trata de combinar distintos elementos para consumá-lo, ao que se adiciona aqui a ameaça de intervenção militar.
Isso não é novo
Esse novo lado da direita venezuelana caminhava de mãos dadas com a mensagem do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, dando apoio às manifestações contra Maduro que começaram no dia 21 de janeiro e atingiram seu ápice no dia 23. Foram imensas mobilizações, que sem dúvida, conseguiram captar e canalizar o descontentamento e o desgaste da população com a “Revolução Bolivariana”. Mas isso não significa que tais mobilizações expressem diretamente os anseios e ambições das classes dominantes venezuelanas e da extrema direita. Esta situação ideológica e social é bastante complexa.
De fato, Guaidó é a “referência”, o peão colocado nesta situação pelos Estados Unidos, pelo motivo de não haver outro. Os principais representantes da direita estão extremamente desacreditados, seja em virtude de sua filiação de classe, como María Corina Machado, líder do Vente Venezuela y de Súmate/Vem Venezuela e Soma-te!, uma empresária e membro da “oligarquia” venezuelana, da qual o regime de Chávez expropriou algumas de suas importantes empresas, como as indústrias de alumínio; Leopoldo López, uma referência da extrema direita do partido Vontade Popular/Voluntad Popular fotografado depredando os bustos de “Che” Guevara ou Hernando Capriles, líder doPrimero Justicia/Justiça Primeiro, estão hoje desgastados e não podem exercer uma liderança eficaz. Por isso, a nomeação deste “peão” e sua lógica “incineração”, posta para levar adiante todo o trabalho sujo de que uma política imperial e seus aliados é capaz de realizar. O objetivo é tirar Maduro, estabelecer um governo de transição e apoiá-lo internacionalmente, tanto com os governos dessas latitudes como os da Europa. Ameaçando ao mesmo tempo com medidas militares. As empresas norte-americanas acompanham e participam de tudo isto, se preparando para o butim.  Em definitivo tratam de criar uma situação sem saída para a continuidade do governo bolivariano de Maduro.
Como recordamos, em geral, esta situação não é nova. Em abril de 2002, os Estados Unidos apoiaram um golpe de Estado contra Chávez, colocando Pedro Carmona no governo, presidente da patronal Fedecámaras. Um golpe de Estado sem sombra de dúvidas, com um claro sentido de classe. O golpe fracassou, Chávez retornou ao governo e promoveu com novos brios uma série de políticas sociais (“as Missões”) e de certo protagonismo do povo nas “comunas”, projeto impulsionado pelo Estado, mas que sem dúvida desencadeou uma importante participação das pessoas num certo período de tempo, criando cooperativas de produção, de consumo, organizando bairros inteiros numa forma limitada de autogestão mas de real e ativa participação em amplos planos sociais. Isso se realizou dentro da estrutura capitalista e conviveu com a burocracia estatal e o papel cada vez mais crescente do Exército, num processo contraditório, mas onde as pessoas começaram a ter um pouquinho de tudo aquilo que durante séculos lhes havia sido negado: uma alimentação decente, serviços sociais, certa dignidade e participação social e política. Com esta política social o governo Chávez contou com forte apoio popular.
Ainda estava fresco “o Caracaço” de 1989, essa imensa explosão popular contra a política neoliberal de Carlos Andrés Pérez, que gerou hiperinflação e fome, e a feroz repressão que se seguiu e que causou 3 mil mortes. Chávez aparece publicamente em 1992, numa tentativa de golpe de Estado que fracassou, sendo libertado anos depois e iniciando um movimento político que finalmente reuniu a esquerda venezuelana, incluindo vários ex-membros do movimento guerrilheiro dos anos 60. Um militar com um discurso nacionalista, guinando paulatinamente à esquerda, rodeado de pessoas e partidos de um amplo arco de esquerda… um desses atípicos experimentos políticos, realizados dentro da estrutura capitalista, que nos faziam recordar os “populismos” dos anos 40 e 50. A verdade é que esta política de reformas e certa redistribuição em direção ao povo estimulou o rechaço da burguesia venezuelana e da direita. Um claro instinto de classe – e de racismo – foi colocado sobre mesa: para a burguesia agora, os negros e mulatos, os índios, os pobres, os de baixo, ascendiam a “alguma coisa” e esse “algo” sempre ia ser superdimensionado por aqueles que têm poder e riqueza. Esse “algo”, ainda que não fosse muito, pertencia aos ricos, aos donos da Venezuela, e eles não estavam – nem estão – dispostos a perdê-lo.
Por isso veio o golpe de Carmona de 2002, o golpe da Fedecámaras [1], a Central dos Trabalhadores da Venezuela (uma central amarela financiada pelos Estados Unidos) e pelos partidos políticos tradicionais Copei e Ação democrática.
Fracassado o golpe de Estado, os EUA – todo o espectro da penetração imperial tendo a Central de Inteligência, a CIA na vanguarda – colocou suas mãos à obra com enormes recursos (centenas de milhões de dólares) para financiar novas organizações sociais opositoras com máscara inofensiva e partidos políticos de oposição (Vontade Popular – do qual Guaidó fazia parte -, Justiça Primeiro, dentre outros). Sem descuidar de tentar fortalecer os tradicionais partidos de direita. Ao mesmo tempo, através de seus mecanismos de armadilha e cínicos, financiaram diversas ONG’s e organizações que promovem “educação cidadã” e “direitos humanos”. A finalidade desse espectro imperial com o Comando Sul e a CIA na liderança foi e é debilitar o regime chavista para colocar o governo na direita. Os meios não importam. Se é pela via via eleitoral ou via desestabilização e golpe de Estado, não é relevante nem para os EUA nem para a oposição venezuelana. Eles não tem cuidado com o que sofre o povo, esses organismos fizeram correr rios de sangue e semearam fome por toda a sua vida sem mover uma palha para resolver essa situação. Seus discursos humanitários são para fazer eficaz sua miserável e assassina política que sempre recai sobre os de baixo.
A morte de Chávez foi um duro golpe para o regime, para a governabilidade bolivariana. Chávez tinha nomeado Maduro como seu “herdeiro”, sabendo que dentro do PSUV se intensificariam as lutas intestinas por cotas de poder e que a corrupção, a burocratização e a venalidade aumentariam, como de fato ocorreu. Não mexeram nas raízes do sistema e a lógica que circula pelo conjunto das relações de poder dominante estava cruelmente operando. A população não acompanhou Maduro com o mesmo entusiasmo, ele não era possuidor da agudeza política e o carisma de Chávez. Mas era um processo que tinha uma alta dose de “liderança carismática”, de certo “populismo do século XXI”, e encontrava ali sua fragilidade. Seguiam com uma política de moderadas reformas ao movimento popular, num contexto menos favorável. Diante os flancos que iam se abrindo e o grau do descontentamento popular, a direita e os EA recrudesceram seus ataques. Multiplicaram-se as diversas mobilizações no mesmo ano de 2013, logo depois da morte de Chávez. Utilizaram como ponta de lança o movimento estudantil, no qual um setor tinha forte infiltração da direita. Logo os partidos da oposição passaram por cima dos estudantes universitários e encabeçaram os protestos. Tornaram-se famosos os fascistas com roupagem democrática, Leopoldo López e Hernando Capriles.
As câmeras da imprensa internacional cumpriam seu papel mostrando como esses reacionários e golpistas foram presos e alguns deles mortos, mas não o que eles faziam, por exemplo, tacando fogo bestialmente num “chavista”. Além disso, foram assediados ou violentados trinta e cinco centros de saúde pública (Missão Barrio Adentro), dois hospitais, trinta e nova instalações da rede pública de distribuição de alimentos, dezoito meios de comunicação alternativos e comunitários.
Tampouco mostravam a resistência popular nas ruas, como da mesma forma não mostraram em 2002. Ficou evidenciado que as “guarimbas” [2] da oposição estavam organizadas e armadas com muito dinheiro fluindo dos diversos tentáculos da CIA como NED e IRI (planos de financiamento de várias organizações de direita), onde muitos deles posavam de defensores da liberdade, educação, direitos e humanidade. Internalizaram um cinismo cruel que merece o primeiro lugar de longe.
Desde então, a direita alternou mobilizações de rua (nem sempre massivas) e geralmente nos bairros dos esquálidos [3], nas zonas ricas de Caracas e em outras cidades com participação eleitoral. Mas as eleições, esse artifício liberal burguês, são úteis se derem o resultado que a burguesia quer. Como o chavismo se especializou em vencer eleições liberais burguesas, a burguesia venezuelana e norte-americana e a maioria das burguesias do mundo declaram que não são válidas as eleições, que na “Venezuela há uma ditadura” e que “Maduro é um usurpador”. Não ligam, e ocultam, que o próprio deputado Guaidó, agora “Presidente Interino”, foi eleito em comícios organizados pelo mesmo poder eleitoral que organizou as eleições presidenciais do 20 de maio do ano passado, que resultou na reeleição de Maduro. Nunca foi tanta verdade que as eleições só são válidas se vence quem os poderosos querem.
Esta é uma nova onda de ataques, mas foram vários, e em todos eles até o momento a direita e os EUA foram derrotados. No entanto, o regime de Maduro está erodindo, divisões aparecem em seu interior, vários grupos, indivíduos e setores populares manifestam seu descontentamento sem se voltarem, em sua maioria, para a direita; tudo num contexto em que o cerco econômico e a distribuição de alimentos e remédios pioraram nos últimos anos. Nenhum monopólio, como o do gigante dos negócios, Polar, foi atacado em suas estruturas tão importantes. Pode-se somar ainda a inoperância, a corrupção, a burocracia do próprio governo e o “mercado negro” que cresce nestas situações de desespero. Aparecendo “Boliv-ricos” [4] de última hora em alarmante quantidade.
Geopolítica e petróleo
A participação direta dos EUA, com algo novo nessa modalidade, na atual conjuntura da Venezuela é parte de sua estratégia política onde, claro, não está ausente a depredação e roubo das riquezas nas mãos das transnacionais que compõe a trama de poder imperial.
Todos sabem, os fatos estão na cara, que a política belicosa dos EUA, sua tendência geopolítica das últimas décadas é manter seu poderio mundial, que em determinados aspectos se vê ameaçado, o que se refletiu em muitos acontecimentos de sangue e fogo. Isso traz nas mãos perigos que podem ser de magnitude em nível geral. Um exemplo disso é sua política armamentista no que diz respeito a aumentar e tecnificar ainda mais seu potencial nuclear, a colocação de armas nucleares em lugares que significam rupturas de acordos anteriores no tempo que obrigam a potências como Rússia a respostas de alto perigo. O império norte-americano em oportunidades tendo como aliado a algum outro país, ou forças internas aliadas, fez toda uma cadeia de intervenções sangrentas, participando diretamente em vários casos e outros combinando essa intervenção com outras técnicas, como por exemplo, armar grupos com a intervenção de outros países para que fizessem parte de seu trabalho. Isso sem esquecer os milhares de mercenários, agrupados em empresas poderosas, que nesses eventos brutais aparecem, por vezes, com peso importante.
Para dizer brevemente, primeiro foi a Iugoslávia, Afeganistão, Iraque, Líbia e depois foram Síria. Haviam aqui interesses mesclados, econômicos, políticos, de poder, de controle de áreas que o império considerava estrategicamente importante de acordo com os apetites de sua estrutura de poder e das competências com outros países como a China.
Mas toda essa macabra ação imperial não foi de fácil execução nem lhes trouxe  os benefícios esperados. Pelo contrário lhes significou um desgaste importante e reveses que não esperavam. Inclusive dificuldades em sua própria situação interna em nível de parte de sua população.
Os Estados Unidos não conseguiram determinados e importantes objetivos planejados e tiveram que entrar novamente no Iraque e Afeganistão. Em outra reviravolta atual se planeja abandonar novamente Afeganistão, sua guerra mais cara da história. É de mencionar sua ativa participação na destruição da Líbia, além de haver iniciado nova guerras na Síria e Ucrânia. Foi ficando claro que a incidência da facção armada militarista segue sendo, nos últimos tempos, um fato de primeira ordem no desenho de sua estratégia imperialista mundial. No interior do bloco imperialista com os EUA a frente aparecem tensões, interesses, que fazem que determinados poderes apostem em políticas distintas que contemplem apenas suas exigências parciais. Tal é o caso de muitas multinacionais e suas expressões ideológicas e políticas.
Se assinala o 11 de setembro como o momento à partir do qual a facção militarista trata de subordinar os interesses de muitas multinacionais à sua estratégia de guerra em nível dos inimigos no mundo. Nesta política do império aparece uma forma de intervenção do Estado que guarda relação com a nova constituição sistemática nesta “etapa” cruamente neoliberal chamada de controle social.
O que nos interessa enfatizar ainda que seja brevemente é algo que mais de um analista vêm afirmando. Que as prioridades, o desgaste imperial em suas aventuras mesquinhas e macabras de poder, a concentração que lhe exigiu essa estratégia, inicialmente no Oriente Médio e África, implicou nos fatos, por certo tempo, uma certa desatenção de seu “quintal”. Não é um abandono de sua política imperial sobre a área, mas sim estar menos em cima dos acontecimentos. Também se considerou com firmes fundamentos que a nova etapa que chegava a situação começaria a variar para mal do meio latino-americano. Vale dizer que a atenção imperial sobre a área aumentaria em grau de importância. Mas tendo em conta que durante esse tempo esse espaço foi bem aproveitado pelo seu inimigo principal: China. No dia de hoje já temos várias mostras de forte dedicação imperial a nossa área.
Vemos então, que dentro dessa estratégia geral que tem como inimigo principal a China e depois a Rússia, o objetivo primordial dos EUA hoje é retomar o controle, total do que considera seu “quintal”. Essa é a tarefa fundamental para eles e junto a isso vai de encontro a tomada de riquezas de nossos países latino-americano, o petróleo e minerais venezuelanos, por exemplo.
A Venezuela é literalmente um grande lago de petróleo. Conserva em seu território as maiores reservas de petróleo do planeta, com mais de 300 bilhões de barris, sendo a primeira reserva de petróleo do mundo. A segunda é a Arábia Saudita, mas como sua aliada “carnal”, os EUA não ousam invadir ou ataca-la de forma alguma, embora possua uma monarquia teocrática que financia o terrorismo salafista (como Estado Islâmico) ou seja o país do Oriente Médio com o nível mais alto de repressão contra as mulheres, a imprensa, etc. Ali os Estados Unidos não reivindicam a “democracia”. A casa de Saud – agora com Bin Salmán – são fiéis aliados da potência “democrática” do planeta, muito úteis a sua estratégia geral mundial.
Por razão desta estratégia mundial de poder, que abarca distintos contextos, Venezuela e Irã, entre outros países, estão na lista de “inimigos” dos Estados Unidos. Este pretende assumir o controle dessas diferentes áreas do mundo usando qualquer meio. Isso já foi feito na Líbia, de mãos dadas com a “democrata” Hillary Clinton e foi tentado na Síria. Os Estados Unidos não economizam em dizimar as populações, convertendo certos países para a mais absoluta miséria, transformando-os em “Estados falidos”, como feito na Líbia ou no Iraque.  Países que os EUA considere que prejudicam sua estratégia, que se aliam com inimigos, chineses e russos, que difundem ideias e constituição de organismos que dão às costas ao seu projeto necessitam ser destruídos. O Brasil no BRIC (que o integram China e Rússia) não era de seu agrado. Esse governo de tantas boas relações com os de cima igualmente não lhe servia. Também via como um perigo um governo como o venezuelano que falava de socialismo, anti-imperialismo, que promovia novas instituições: ALBA, CELAC, UNASUR, Petrocaribe e que promovia resistência a assinar os Tratados de Livre Comércio. Simplesmente pelo que representa esse grau de autonomia, em função de seus interesses políticos, econômicos e sociais, os EUA tinha que destruí-lo de qualquer maneira.
Por mais que o governo venezuelano não tenha mexido no núcleo duro do sistema, de que não construíra nada que se parecesse com o socialismo – ainda que  mencionasse isso constantemente – isso não importava, importavam eram os efeitos que esse discurso podia ocasionar. Na lógica dos EUA era um inimigo que tinha que ser destruído e basta. Nesse acionar operam hoje com mais afinco. De fato, o recrudescimento das sanções econômicas contra a Venezuela em dias passados, teve como eixe as ações de Citgo, a empresa petroleira venezuelana nos EUA, filial de PDVSA. Por essas sanções, EUA bloqueia 7 bilhões de dólares e 11 bilhões de dólares em exportações petroleiras para 2019. Isso somado corresponde aproximadamente a um terço do PIB do Uruguai. CITGO além disso possui três refinarias, 48 terminais de armazenamento e 6 mil estações de serviço nos EUA, um capital nada desprezível, mas onde se vende e distribui combustível a um custo menor que as petroleiras norte-americanas comandas pelos Rockefellers, Bush etc. A Citgo também é afogada em questões de crédito de nível internacional.
Foi justamente através do petróleo, em alta neste momento, que o regime  chavista pôde financiar as políticas sociais (“as Missões”) e uma certa redistribuição de renda nos anos do governo Chávez; como contrapartida desse petróleo a altos valores no mercado mundial, a Venezuela aprofundou sua dependência econômica e não se industrializou. Mas isso lhe permitiu uma política internacional de apoio aos países latino-americanos, criando o Petrocaribe. Cuba e várias Antilhas se beneficiaram dessa política de petróleo barato e de laços diplomáticos mais estreitos. Foi essa mesma política e aliança que possibilitou a derrota dos EUA e do Grupo Lima na OEA nos últimos dias. Mas foi essa política que também motivou os Estados Unidos a apoiarem e darem um golpe em Honduras contra o governo de Zelaya, porque estava timidamente se aproximando da política externa venezuelana. Os EUA não podem permitir que um de seus “peões” saia do tabuleiro. Honduras foi a base militar dos “contras” nicaraguense nos anos 80 e de todas as contra-insurgências daqueles anos. Foi também dali que partiu o golpe contra a “Revolução Guatemalteca” de Arbenz em 1954. Acrescentamos que os EUA também motivou, juntamente com a Arábia Saudita, a política de baixar os preços internacionais do petróleo para reduzir as possibilidades da Venezuela e do Irã e de suas respectivas políticas externas.
Um longo histórico de agressões
Com os meios de comunicação dando tudo de si para formar opinião e criar subjetividade contra a Venezuela, os EUA se apresentam como defensor de determinados valores que sempre atropelou, inclusive dos valores de sua própria democracia burguesa que foram ignorados quando lhe foi conveniente e que hoje já pouco dão valor. Diante esta saraivada que promove a amnésia é conveniente recordar algumas coisas que ocorreram em diferentes momentos e que são representativas acerca do qual é o verdadeiro rosto do império.
Nossa América Latina é um território que suportou as mais sangrentas agressões do imperialismo norte-americano. E nossos povos têm sofrido e suportado as consequências dessas agressões. Essa história criminal é longa, mas mencionemos algumas das mais notórias. Invasão ao México em 1845 e declaração de guerra. Resultado: o México perde metade de seu território, que atualmente é a área de petróleo dos Estados Unidos.
Cuba e Porto Rico em 1898. Através da “Emenda Platt” (emenda acrescentada pelos EUA na Constituição Cubana), a ilha se convertia numa colônia americana. Ali dominaram os interesses das empresas açucareiras, da banca e o jogo ianque, assim como a prostituição. Nesse momento, a Revolução Cubana cortou essas negociações e tal relação colonial. No entanto, Porto Rico permanece sob o pleno domínio da águia norte-americana.
Mas em ambos os casos, como na Nicarágua (invadida já em 1855), os Estados Unidos aplicam o mesmo esquema: apoio a governos “fantoches”, constantes fraudes eleitorais e golpes de Estado. Se necessário, em última análise, desembarque dos fuzileiros navais. Invasão. Contra ela lutou dignamente Augusto César Sandino na Nicarágua junto à sua guerrilha popular.
Em 1914, a invasão e saqueamento do Haiti. Anteriormente, em 1903, os EUA outorgaram-se o direito de inventar um país: o Panamá. Ele financiou e apoiou um “movimento de independência” naquela área que era da Colômbia. Ou seja, os EUA retirou parte da Colômbia para construir ali o famoso Canal Interoceânico, que era o território dos Estados Unidos, guardado por seus fuzileiros navais. É por isso que Omar Torrijos, que negociou com os Estados Unidos o retorno do Canal às mãos panamenhas, foi assassinado em um atentado em 1981.
Geograficamente mais próximo, o apoio direto da CIA e da Embaixada dos Estados Unidos ao golpe de Estado Pinochet no Chile em 1973, muito bem documentado. Da mesma forma, sua participação ativa no Plano Condor que assassinou e sumiu com dezenas de milhares de companheiros no Cone-Sul. O apoio dos EUA a inúmeros golpes na Argentina, no Brasil, na Bolívia e no Paraguai de Stroessner, seu apoio ao golpe de 1973 no Uruguai. A invasão a Granada em 1983.
A invasão dos fuzileiros navais ao Panamá novamente em 1989, para “libertar” esse país de Noriega, um cruel ditador. Naturalmente, o que os americanos não estavam dispostos a admitir era que Noriega era “seu homem” no Panamá. Trabalhou para a CIA e a DEA, mas ocorreu a ele “sobressair-se” aos Yankees no tráfico de cocaína da Colômbia via Panamá para os EUA, que não iriam perdoar esse “pecado” e assim o governo americano “disciplinou” o povo panamenho. Eles arrasaram o país e deixaram 3.000 assassinados.
Exemplos não faltam. Milhares de crimes. As faixas vermelhas de sua bandeira são de sangue, de povos assassinados por seus interesses mesquinhos. Para os interesses de uma burguesia que acredita ser a proprietária do mundo. Além disso, o plano de agressão contra a Venezuela, em seus primórdios, foi muito semelhante ao utilizado no Chile em 1973. Nesta última etapa, eles ajustaram “detalhes” de relevancia, seguem utilizando diversas formas de pressão, algunas grotescas mesmo para os valores burgueses mais além disso, agora ameaçam  descaradamente invadir o país sem grandes dissimulações.
O cenário internacional
O cenário internacional tem muita influência na crise venezuelana. Maduro antes de assumir seu novo mandato foi para a Rússia para se reunir com Putin para garantir seu apoio em todos os terrenos. O papel da China também é importante. Tanto a Rússia quanto a China têm investimentos significativos na Venezuela e na América Latina em geral. Isso faz com que esta região esteja no quadro das disputas inter-imperialistas do mundiais.
Mas há alguma verdade no fato de que terminou a “unipolaridade” pós-Guerra Fria terminou. Os EUA já não podem impor sua plena vontade ao mundo, mesmo que mantenham um poder militar esmagador. Neste período, o último caso foi a Líbia. Na Síria, já sentiram o freio da Rússia não só no campo diplomático, mas também no campo militar e nas alianças muito hábeis que o governo russo implantou, e da China no campo diplomático. Na Venezuela, o mesmo acontece, mas somente na “zona de influência” direta dos Estados Unidos, além dessa enorme quantidade de petróleo próximo.  Isso expressa de maneira clara que não está disposto a tolerar ese freio.
Dizíamos que os EUA perderam o voto na OEA graças a uma política venezuelana de longo prazo. Quanto tempo dura esse apoio das pequenas Antilhas? Os Estados Unidos invadirão algum destes pequenos países? Há algo que aparece de maneira destacada e queremos mencionar: que foi o asqueroso papel do progressismo de Mujica e “palanqueado” por este no terreno internacional e colocado na Secretaria Geral da OEA.
Ou Almargo tem duas caras, ou serve a quem lhe dá “trabalho” ou estamos frente a uma infiltração de mais alto nível, digna das melhores novelas de espionagem. Os serviços secretos venezuelanos e cubanos assinalaram que já suspeitavam desde a época do governo Mujica que Almagro trabalhava para a CIA. Não sabemos se isto é verdade. O certo é que agora certamente isso acontece, e o faz diretamente para Trump. Pelo visto, se não fez antes foi porque não lhe deram oportunidade, é uma figura repugnante, asquerosa e rasteira.
E é justamente no cenário internacional que se desenrola boa parte do conflito, porque os EUA não podem permitir que um país em sua “zona de influência” consiga realizar uma política exterior independente e acima, tente ordenar de outra forma seu “quintal”.
Tempos muito complexos virão
Enquanto os EUA e Almagro a frente da OEA e do Grupo Lima falam de uma invasão à Venezuela, nada dizem contra outros regimes que sem dúvida nada tem de democráticos e isto não é coincidência. Não dizem nada sobre o governo hondurenho, eleito por comprovada fraude eleitoral, depois de um golpe de estado que depôs Zelaya em 2009 e reordenara a situação interna, com uma feroz repressão ao povo, com os mortos e desaparecidos. Esse povo que hoje emigra desesperado.
Nada dizem do “golpe suave” de Temer e o ascenso proto-fascista de Bolsonaro já que claro, isso é de seu próprio interesse. Uma criação norte-americana oportuna para estes tempos. Um dos elementos necessários para desencadear essa nova onda golpista e intervencionista na Venezuela era o necessário apoio do governo brasileiro e de um governo “forte”, é claro. O secretário de defesa dos EUA, Jim Mattis esteve em fins de 2018 no Brasil com o propósito de conter a influência chinesa no Brasil. O mesmo se pode falar da Colômbia. Com as FARC já entregues ao jogo eleitoral burguês, os EUA pode utilizar a seu prazer o exército colombiano e os paramilitares. Neste tempo de “paz” assassinaram centenas de militantes sociais e alguns ex-guerrilheiros. Se torna relevante aqui neste caso o papel do ELN (Exército de Libertação Nacional de cunho camilista-guevarista [5], que vendo como ocorria realmente este processo, se participou das conversações, não aceitou ao fim este programa de “paz”. Finalmente não abandona as armas, retoma operativos militares, não se rende e está tratando de resistir no marco de sua específica concepção e aumentou sua presença na fronteira colombiana-venezuelana. Eventualmente pode se estar gerando um conflito regional se Brasil e Colômbia intervém, ficando aprisionado o mesmo ELN.
O mesmo pode ser dito da Colômbia. Com as FARC já comprometidas com o jogo eleitoral burguês, os EUA podem usar o exército colombiano e os paramilitares para seu próprio prazer. Neste caso, o papel do ELN (Exército de Libertação Nacional) de cunho camilista-guevarista, que não se entrega e está tratando de resistir, aumentando sua presença na fronteira colombo-venezuelana. Um conflito regional pode estar se formando se o Brasil e a Colômbia intervirem, ficando preso nele também o ELN.
Por agora, EUA não poupa recursos em submergir a Venezuela no caos, com vistas a retomar o controle desse governo e seu petróleo. Importa-lhes destruir esse pequeno polo que ainda dentro do capitalismo se apresenta como antagônico, tirando do meio os apoios de Rússia, China e Irã. Em nada lhe interessam as consequências que pode sofrer o povo venezuelano. Só lhes importa mencioná-lo para usar o povo em seus planos macabros. Mas toda essa intervenção imperial aberta coloca aos povos latino-americanos frente a um cenário de maior e decidida luta. Uma intervenção como a que vêm ocorrendo, agressiva e descarada os EUA no continente deve aumentar a resposta popular: mobilizações de rua massivas, amplo rechaço popular. Coordenação de ações dos verdadeiros e independentes movimentos sociais anti-imperialistas. Responder o atropelo brutal e aberto do imperialismo e seus aliados, ao capitalismo neoliberal, com o avanço popular, dos de baixo, num processo de povo forte.  No caso de se dar uma intervenção direta, o fundamental é o povo combativo na rua repudiando com força os assassinos. Se ocorrer essa intervenção direta, que tanto deseja os EUA e Trump e que não consolidaram pois seguem explorando outras vias que conduzam ao mesmo objetivo, em virtude de cálculos dos feitos políticos e sociais que isso pode provocar em perspectiva de médio prazo. Estão apostando tudo hoje em tirar as pessoas da rua para desestabilizar e tratar de capturar uma parte das Forças Armadas, para não deixar saídas e pôr seus candidatos servis no governo.
Sim, este é o novo capitalismo de que nos falam. Os estudiosos nos avisam que estamos numa etapa do capitalismo cuja composição sofreu modificações em relação ao período histórico anterior. Mas os novos elementos que compõe sua estrutura atual mantém fidelidade com o núcleo duro do sistema. A etapa chamada muito generosamente de “Estado de bem estar” ficou para tras e certas funções de contenção que realizaba esse Estado também. Igualmente  já está quase sem peso, a própria fantasia de democracia inventada pela burguesía para afirmar seu poder. Chegou como novo um capitalismo neoliberal cru e duro.
No entanto, o que não oferece dúvidas é que a trama mais polida, os dispositivos mais efetivos que o sistema capitalista foi tecendo neste último século não contradizem premissas fundamentais do que historicamente se conhece do sistema. Os mecanismos, dispositivos e instituições que foram polindo ou produzindo o capitalismo para sua manutenção e reprodução cumprem as funções que foram assinaladas, mais ajustado e tendo presente experiências vividas e desenvolvimentos tecnológicos. Mas a crua exploração e opressão estão aí e mais fortes que nunca.
Seu rosto de hoje é mais cruel, brutal e com meios tecnológicos mais efetivos para tratar de inserir populações, para fazer sentir como necessários os supérfluos consumos variados, para destruir mais decididamente a natureza e produzir grandes populações “excluídas”. Fica mais claro do que nunca, não existe possibilidade de um processo de ruptura, nem sequer reformas fortes, usando os meios que o sistema oferece: sua lógica, seu “sentido comum”, seus dispositivos, seus mecanismos eleitorais e instituições que lhe são próprias.
Obviamente então, esta “etapa” do capitalismo não é idêntica a anterior. Tem seus problemas específicos que constituem todo um desafio a uma proposta que tente processar uma mudança profunda. Aceitar esse desafio e ir formulando respostas sociais é nossa razão de ser. Produzindo e com disposição a corrigir, linhas de trabalho teórico-político devemos estar em ação social permanente. Não se trata de sentar e esperar momentos mais “favoráveis”, em toda circunstância deve haver uma estratégia coerente e tática funcionando.
Em alguns momentos que são de menor intensidade organizando-se para eventos próximos previsíveis, ajustando a organização interna em seus diferentes planos, em outros momentos de maior intensidade executando ações, aplicando previsões e lendo os acontecimentos para que as respostas sejam mais fecundas. A dinâmica assinalada nos diz a gritos, neste mundo capitalista, o poder que vem de cima não é popular. Se o povo não exerce o poder, e ao contrário desenvolve participação ativa num processo orientado para isso, com as práticas próprias que podem possibilitá-lo, criadoras de uma nova subjetividade, independentes da lógica e dinâmica do sistema não há avanço possível para novas relações sociais. O Poder Popular se cria todos os dias se exercendo nas diferentes lutas sociais que se apresentam.
A América Latina está num momento em que se avança a direita ligada ao imperialismo yanquee e suas multinacionais. É tarefa dos povos resistir, fortalecer os organismos populares que permitam fazer frente a qualquer agressão, tentativa de desestabilização da direita e aumento da miséria dos de baixo. Nessa tarefa de combate ir criando ao mesmo tempo um povo forte e independente que contenha os gérmens de um autêntico Poder Popular.
Os povos encontrarão seu próprio caminho e o povo venezuelano assediado hoje, e todos os de baixo, tem dado distintas mostras de combatividade exemplares, de aprendizagem social através de seu sacrifício e luta e de possuir desejos que não morreram.
Está claro, o único que cabe a todos os filhos desta terra, é a condenação unânime e absoluta de qualquer tipo de ingerência, de qualquer intervenção econômica, diplomática ou militar em nosso continente. Pela sua história e o que representam, os EUA nunca podem ser bem vindos, se vêm é para esfomear ou massacrar o povo venezuelano. Para aumentar a opressão e miséria de nossa gente, os de baixo, na América Latina. E como sempre amanhã isso ocorrerá com outro de nossos povos se os EUA se sentir afetado no mínimo de seus interesses. Contra isso é primordial que a resistência esteja presente em todos os terrenos, fortalecendo a luta e os organismos populares.
Na América Latina nem Yankees nem gusanos [6]!
Poder popular pela base!
PELA AUTODETERMINAÇÃO LIVRE DOS POVOS !!!
FORA YANQUIS ASSASSINOS DA AMÉRICA LATINA !!!
PELO O SOCIALISMO E PELA LIBERDADE!
AVANTE OS QUE LUTAM! ARRIBA LOS QUE LUCHAN!
FEDERAÇÃO ANARQUISTA URUGUAIA (FAU)
COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA (CAB)
Notas da tradução
[1] Fedecámaras é um acrônimo para Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela), principal organização de associações patronais da Venezuela, composta por empresários de todos os setores econômicos deste país. São 14 os setores econômicos associados: comércio e serviços, indústria, construção, turismo, finanças, seguros, agricultura, pecuária, mineração, energia, transportes, telecomunicações, imobiliário e mídia.
[2] Guarimbas são ações de fechamento de ruas realizadas pela direita venezuelana em diversos pontos de um determinado local. Tais ações se caracterizam por serem realizadas por centenas de barricadas contendo um número pequeno de manifestantes em cada uma destas, tendo como objetivo bloquear uma grande área. Tais ações foram utilizadas sistematicamente nas manifestações golpistas.
[3] Esquálidos é o apelido dado a direita e a extrema-direita venezuelana.
[4] Boli-ricos é uma expressão utilizada para se referir a certa burocracia/apoio ao governo bolivariano que enriqueceu durante o período dos governos Chávez e Maduro.
[5] O texto se refere a duas referências da luta armada latino-americana: Ernesto “Che” Guevara e o padre guerrilheiro Camilo Torres.
[6] Gusanos é o apelido dado aos cubanos de direita e alinhados com o imperialismo yanquee.

[CAB] MULHERES CONTRA A VIOLÊNCIA PATRIARCAL, O ESTADO POLICIAL E O ASCENSO FASCISTA NO BRASIL E NO MUNDO

“Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”
Minerva Mirabal

Neste 25 de novembro, dia internacional de combate à violência contra a mulher, nós, mulheres anarquistas das organizações que constroem a Coordenação Anarquista Brasileira, propomos uma reflexão sobre o significado da data e convidamos todas e todos a somarem-se na luta contra as violências machistas e patriarcais.

Esta data foi instituída em homenagem às irmãs Minerva, Patrícia e Maria Teresa Mirabal, assassinadas em 25 de novembro de 1960 pela polícia secreta durante o regime do ditador Leônidas Trujillo. As Mariposas, como eram conhecidas, tinham uma trajetória de militância e resistência contra o regime autoritário. Tiveram seu veículo interceptado, sendo assassinadas e jogadas em um barranco, afim de fazer parecer que haviam sofrido um acidente. Desde 1981 este dia tornou-se marca da luta das mulheres latino-americanas contra as violências que nos acometem.
A desigualdade de gênero é um fato construído historicamente, presente na maioria das sociedades humanas e nenhuma nação do mundo concede às mulheres os mesmos direitos dos homens. A violência contra as mulheres é uma das mais graves violações de direitos humanos, mantida através de mecanismos subjetivos, materiais e simbólicos que a naturaliza e justifica sob múltiplas formas. Sendo assim, a desigualdade de gênero é um dos elementos mais fortes e antigos de dominação que estrutura a ordem hierárquica de nossas sociedades.

Quando falamos sobre violência contra a mulher, queremos reforçar que ela diz respeito a um conjunto de praticas inseridas em nosso cotidiano. Desde a exploração física de nossas forças produtivas e reprodutivas, sobre formas como o estupro (presente na prostituição, pornografia, pedofilia e etc.), a retirada do controle de nossa própria natalidade (aborto criminalizado e ilegal, falta de políticas públicas de saúde – da mulher, dominação dos conjugues, etc.), trabalho domestico não remunerado ou em condições precárias, assédios morais/sexuais no espaço de trabalho e/ou estudo, privação do acesso a educação e ao patrimônio, além de torturas psicológicas e/ou física. Ou seja, tudo aquilo que nos impede de sermos vistas, compreendidas, respeitadas e aceitas como seres humanos. Em muitas partes do mundo, desde a antiguidade, mulheres são excluídas do status de pessoas com direito à dignidade. Atualmente, nas sociedades capitalistas, patriarcais, racistas e classistas que se espalham pelo globo, essas formas de violências são mantidas, atualizadas e acobertadas por leis injustas, impostas por governos conservadores e neoliberais – a exemplo dos crimes chamados de “passionais”, que nada mais são do que Feminicídios.

O patriarcado funda um código social de honra que é masculino e se dá por meio do controle das mulheres e da disputa com outros homens. Esse código é construído, sobretudo, com base em uma sexualidade ativa (fálica) imposta a uma suposta passividade da mulher, esse jogo binário legitima os padrões de masculinidades tóxicas e violentas. É a imposição do sujeito sobre o objeto – a mulher. A lógica masculinizante nos impõe certos papéis que devem ser socialmente interpretados, em que qualquer desvio está sob pena de punição. Nessa lógica, os homens exercem uma violência disciplinar sobre as mulheres. Assim, ao autor da violência nunca é atribuída a responsabilidade: “Ele bateu porque ela provocou, estuprou por causa da roupa, porque ela saiu na rua na hora errada.” ,”Estuprou para ela aprender a ser mulher”. Porque nós, mulheres, não exercemos o papel moralizante que os homens pensam que lhes cabe nos impor.

O estupro, autorizado pelo erotismo agressivo do masculino ocidental, é uma forma perfeita de assassinar a(s)identidade(s) do feminino. Não à toa é pensado e utilizado como arma de guerra há séculos. E atualmente continua sendo estratégia corretiva e coercitiva no cotidiano de guerra que é existir enquanto mulheres, racializadas, lésbicas, pobres e em tantos outros lugares de vulnerabilidade. Quando no final do ano de 2017 aqueles 18 homens de uma Comissão especial da Câmara dos Deputados aprovaram o texto da PEC 181/2015 (que impede a interrupção da gravidez inclusive em casos de estupro ou risco de morte para a mãe), celebraram a manobra que realizaram, celebraram mais uma forma de matar o feminino. Se sentem no direito de decidir sobre nossos corpos, e nos negar nossa autonomia, nossa liberdade de escolha sobre nossos próprios órgãos. Religião, estado e família tentam arrancar a agência de inserção nas relações sociais e nos tornar meramente corpos à disposição. O que acontece é a tentativa de uma demonstração de superioridade de forças (física e política), com o intuito de nos submeter. Não podemos deixar de mencionar também que as mulheres que mais sofrem com a criminalização do aborto, são as mulheres pobres, negras e periféricas, que se vêm negadas de acesso a políticas públicas de saúde, prevenção e subsistência.

No caso da América Latina, assim como em outras sociedades estruturadas pelo marco inicial do estupro colonial de mulheres nativas e trazidas pela diáspora e do racismo criado por um regime de escravidão que fundamenta o capitalismo global, nós mulheres, sobretudo negras, indígenas, nordestinas e periféricas, enfrentamos uma verdadeira guerra para sobreviver. Esse ciclo iniciado na exploração colonial mostra que as consequências dessa violação foram e continuam sendo a concepção de nova\os sujeita\os possíveis de serem escravizada\os e submetida\os. Quando os homens e o Estado (como uma extensão ampla do poder patriarcal) interferem na autogestão dos nossos corpos, estão controlando mão-de-obra para a exploração capitalista. Seja nas questões de controle demográfico e aborto, seja na exploração do trabalho doméstico e de cuidado, não remunerados.

As violências nos atingem no espaço doméstico, no trabalho, na rua, na escola, na militância e em tantos outros ambientes e situações. Enfrentamos violações e assédio sexual por parte de conhecidos, desconhecidos, por parte dos Estados. Nossos direitos não são respeitados e nós acompanhamos cada vez mais a retiradas dos mesmos, conquistados por tantos anos de suor e sangue.Em muitos locais ainda não temos acesso à educação, à saúde, à moradia digna, a água, a luz, trabalhamos mais e recebemos menos, nos tornamos mães cada vez mais cedo e quase sempre assumimos uma criança sozinhas (pelo abandono dos companheiros muitas vezes até antes da criança nascer), enfrentamos a violência e o assassinato dos nossos filhos e filhas nas periferias, somos chefes de família e perdemos o sono para plantar, colher e colocar comida na mesa, não conseguimos creches para nossos crianças, somos ridicularizadas e desrespeitadas todo tempo, tratadas como objetos na maioria das propagandas na TV, que sexualiza nossos corpos para vender mercadorias que nem sequer tem algo a ver conosco. Enfrentamos a violência da pobreza que nos mata de fome, da miséria que nos desumaniza, do estado que toma nossos territórios, casas, pertences, e destrói nossos recursos naturais, morremos em abortos inseguros, morremos assassinadas por sermos mulheres: 13 vezes por dia no Brasil (dado de registro desde 2013). Sem falar dos crimes de ódio cometidos contra mulheres trans e travestis no país que mais mata LGBT,s no mundo, e que vem crescendo cada vez mais com a onda conservadora e neopentecostal hoje ativa no Brasil.

No marco dessa conjuntura de reconfiguração do capitalismo financeiro, ajuste fiscal e estados policiais, a farsa da democracia burguesa vai representar cada vez mais um inimigo violento aos nossos direitos. Nossos corpos sempre foram territórios de disputas, negociações e butim de guerras. Muitos são os exemplos de como a violência ceifa a vida das nossas. Não esquecemos do corpo de Claudia Silva Ferreira, mulher preta, periférica e mãe, arrastada pela policia no asfalto por 350 metros. Não esquecemos de Luana Barbosa Santos, mulher preta, periférica, lésbica e mãe, espancada e morta pela policia principalmente por não performar feminilidade. Não esquecemos Marielle Franco , mulher preta, lésbica, liderança, vitima de um assassinato escancaradamente politico. Não esquecemos da travesti morta a facadas por quatro homens que gritavam por ‘Bolsonaro’, que assim como tantas outras travestis e transsexuais não tem nem nome nas reportagens. Não esquecemos de tantas mulheres indígenas, expulsas de suas terras e mortas, por violências que são físicas, psicológicas e espirituais.

A eleição de Jair Bolsonaro é mais um acontecimento dentro do fenômeno de organização de uma extrema direita, de uma retomada neoliberal e facista que representa, no Brasil, na America Latina e no mundo a atualização e o aprimoramento da violência organizada dentro e fora dos marcos institucionais. Tendo nós, mulheres, como um dos principais alvos. Temos contra nós ataques de setores conservadores, dos senados e congressos, de grupos religiosos, de homens do nossos círculos da vida íntima, pública e política. A engrenagem simbólica do patriarcado controla os corpos (e sua relação com os direitos sexuais e reprodutivos) através do Estado, que, por sua vez, é controlado pelo capital. Nossa luta é, portanto, fundamentalmente antisexista, antirracista, anticapitalista e antiestatal . O Estado patriarcal é nosso inimigo, ele é a já mencionada violência disciplinar também no âmbito público da violência política.

É necessário envolver toda a sociedade na superação dessa cultura violenta. É preciso reconhecer e dar atenção para as formas institucionais de violência perpetradas pelo Estado. Temos todos os motivos para seguir lutando. Enquanto escrevemos, chegam notícias de mais e mais mulheres assassinadas por serem mulheres. Por isso nós, anarquistas, acreditamos que o combate a esses mecanismos, de dominação e extermínio das nossas existências, devem ser construídos através de lutas, organizadas e engajadas na transformação social. Pelo reconhecimento politico, econômico e moral de nossa humanidade, pelo fim da mercantilização de nossos corpos e forças, pelo fim das humilhações e violações simbólicas. Sem nunca perder de vista quão intimamente ligadas são nossas batalhas. Construir um povo forte é construir mulheres fortes!

Por todas as que não estão. Em memória de todas as lutadoras. Pelas debaixo, com as debaixo, seguimos sendo e construindo resistência.

[Curitiba] – 8º Encontro do CEL- Especifismo

 Especifismo: Organização Política Anarquista na América do Sul

O CEL é um dos grupos de estudos articulados pelo Coletivo Anarquista Luta de Classe (CALC) no estado do Paraná. Em 2018, em virtude de outras atividades militantes, não tivemos os oito encontros habituais, mas estamos retornando nesse mês de novembro para nosso último encontro do ano!

Quando: dia 27 de novembro, terça-feira.
Onde: PRÉDIO HISTÓRICO DA UFPR, SALA 205 DE PSICOLOGIA.

O Especifismo: a Organização Política Anarquista na América do Sul

Buscaremos a compreensão desta expressão política própria dos anarquistas na América do Sul, que representa grande parte do esforço político organizativo anarquista no presente, do qual o CALC se filia.

– A organização política anarquista – Federação Anarquista Uruguaia (FAU)

– O que é o especifismo e como ele se desenvolveu nos primeiros tempos da Federação Anarquista Uruguaia (FAU)? – Juan Carlos Mechoso, militante fundador da FAU, Trechos da entrevista A Estratégia do Especifismo.

– Especifismo – Verbete do “Dicionário da Anarkia”.

– Especifismo organização anarquista – Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)

– Elementos para uma reconstituição histórica de nossa corrente – Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL) / Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ)

Baixe aqui: https://coletivoanarquistalutadeclasse.files.wordpress.com/…

Para mais informações sobre os textos e temas que discutimos durante o ano, visite: https://anarquismopr.org/grupos-de-estudos-libertarios/

Venha participar!