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As lições de uma greve histórica: um ano da ocupação da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP).

Há um ano o funcionalismo público paranaense nos dava uma lição histórica: se nós, pessoas oprimidas, quisermos defender nossos direitos, só conseguiremos fazê-lo com nossas próprias mãos.

No dia 9 de fevereiro de 2015, iniciava uma das maiores greves da história das pessoas trabalhadoras em educação, com adesão praticamente total e com decisão unânime na assembleia de Guarapuava, que gritava em uníssono “Greve! Greve!”. A categoria se preparava para enfrentar o “pacotaço”, isto é, um conjunto de medidas de austeridade impostas pelo governador Beto Richa, representando a política do PSDB – que é a política dos banqueiros, latifundiários e grandes empresários. Esse “pacotaço” iria precarizar o plano de carreira da categoria, destruindo conquistas de dezenas de anos de luta, além de confiscar o fundo previdenciário do funcionalismo público, comprometendo a aposentadoria das trabalhadoras e trabalhadores.

No dia 10 de fevereiro, mais de vinte mil lutadoras e lutadores se reuniram em frente a Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) para protestar contra as medidas do governo. Os deputados mostravam-se dispostos a votar à favor dessa medida, ignorando as milhares de pessoas do lado de fora da ALEP. Isso já era esperado: o Estado capitalista tem um lado bem definido, e independente de quem esteja ocupando as cadeiras, a máquina funcionará da mesma forma, defendendo os interesses dos ricos e dos poderosos, mesmo que para isso tenha que pisar em cima de milhares (ou milhões) de pessoas. Não adianta esperar que quem está no poder se solidarize com quem não está.

Após a aprovação do regime de comissão geral – mais conhecido como “tratoraço” –, que permitia as votações serem realizadas em um único dia, as trabalhadoras e trabalhadores ali reunidos tiveram o ímpeto de ocupar a ALEP, impedindo dessa forma a votação do projeto. Somente dessa forma, mudando as regras do jogo, é que podemos enfrentar o Estado. Esperando que a votação fosse realizada a única coisa que poderíamos esperar era a derrota. Uma derrota que custaria muito caro: custaria direitos, custaria dignidade, custaria anos de luta. Quando subvertemos a lógica do Estado e atuamos para além dela, temos chances de vitória. Foi isso que ocorreu e, ao invés de esperar que “o jogo” continuasse nos moldes do Estado capitalista, viramos a mesa, fazendo “o jogo” funcionar de modo que o povo tivesse mais força: através da Ação Direta.

Acontece que o governo não se deu por vencido, e no dia 12 de fevereiro, o local da votação foi transferido para o restaurante da ALEP. Ao descobrir essa informação, a categoria mudou de tática, cercando todas as entradas da assembleia e impedindo a entrada dos deputados e deputadas. O então secretário de segurança pública, Fernando Franscischini, teve a ideia de levar os deputados para dentro da assembleia usando um camburão e a tropa de choque, episódio que se tornou bastante emblemático. Após conseguir a entrada (de maneira vergonhosa) dos deputados, prosseguiu o processo de votação. A indignação tomou conta das pessoas que cercavam a ALEP. Novamente, sem medo, a categoria avançou. Enfrentou a polícia, o batalhão de choque, suas bombas, armas e cães, e ocupou o estacionamento da ALEP, cercando o local onde ocorria a votação. Com medo do povo, os deputados cancelaram a votação.

Não devemos esquecer as lições desses dias:

1. Não confiar em representantes, pois eles não representam os interesses do povo, da classe oprimida, mas sim, os interesses dos ricos e poderosos. São apenas ferramentas do Estado e farão o que for necessário para manter seus privilégios e suas posições de poder;

2. Se tentarmos vencer respeitando a institucionalidade, ou seja, as regras do “jogo”, não teremos chances. As instituições de poder, isto é, os poderes legislativo, executivo e judiciário, funcionam de tal forma que as pessoas oprimidas não têm nenhum poder. Medidas são impostas, e, por mais razoáveis que sejam os argumentos a favor do povo, o que prevalece é o interesse de classe dos ricos.

3. Precisamos agir com táticas onde nós, pessoas oprimidas, tenhamos mais poder. Esse modo de agir é utilizando a Ação Direta, onde não dependemos da representatividade e das instituições. Quando agimos diretamente, podemos colocar cada braço, cada ombro, para lutar e ter voz. Nesse caso nos tornamos milhares contra uma minoria. Ocupar a Assembleia Legislativa foi o que trouxe a vitória nesses dias. Não adiantaria esperar dos deputados que os projetos não fossem aprovados, fossem eles supostos “amigos” ou “inimigos” da educação.

Tendo isso em mente, não devemos olhar para o passado apenas para lembrar, mas também para trazer os aprendizados das situações que vivenciamos. Não vamos nos esquecer dessas lições nas próximas lutas que virão!

Ação Direta é a arma que nós temos para fazer justiça para viver!

A luta não para!

Não tem arrego!

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Nota de repúdio à criminalização do Coletivo Quebrando Muros, estudantes da UEL e Antifa 16

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Após o massacre do movimento de luta pela educação pública no dia 29 de abril, o governo de Beto Richa (PSDB), através da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, tentou criminalizar “grupos radicais” por terem iniciado o confronto com a polícia.

Em coletiva de imprensa, o ex-Secretário de Segurança Pública do Paraná (Fernando Francischini) e um delegado da polícia federal “divulgaram as informações coletadas pelo departamento da inteligência da SESP” colocando estudantes da UEL, o Coletivo Quebrando Muros e Antifa 16 como sendo “baderneiros, black blocks” responsáveis pela tentativa de invasão da ALEP. MENTIRAS NÃO PASSARÃO!

O movimento de luta se esforçou para impedir a votação do PL da Previdência a partir da ação direta, da pressão popular, assim como em fevereiro quando o Estado tentou passar o “pacotaço de maldades”. Inúmeras categorias, estudantes e outros movimentos sociais fizeram parte do processo de decisão das ações tanto em fevereiro como no 29 de abril.

O que houve foi um massacre, o braço armado do Estado – a polícia, apenas utilizou de todo seu aparato militar para reprimir o movimento de luta pelos direitos trabalhistas. E ainda ousam criminalizar os libertários.

Ainda por cima, nas reportagens que divulgaram a coletiva de imprensa da SESP, especialmente na CBN e RPC (filiada à Rede Globo), colocaram os grupos como “pregadores da anarquia”, de forma a tentar criminalizar a ideologia anarquista.

NÃO VAMOS ACEITAR ESTE TIPO DE INTIMIDAÇÃO!

Toda solidariedade aos criminalizados e criminalizadas! É inaceitável este tipo de intimidação, com destaque no que foi feito a estudantes da UEL que sofreram humilhações absurdas pela polícia, tendo quatro detidos no dia 29, além de fortíssimos abusos e ameaças. Como na maioria das universidades estaduais, a de Londrina está muito sucateada e o movimento estudantil e sindical cada vez mais mobilizado. TODO APOIO À LUTA DOS TRABALHADORES, TRABALHADORAS E ESTUDANTES DA UEL!

O agrupamento de tendência Coletivo Quebrando Muros tem destacada atuação estudantil e sindical, leia mais em Protestar não é Crime: Quebrando Muros e o Antifa 16 compõe a luta por transporte público a anos e está lado a lado na luta dos servidores e servidoras. FASCISTAS NÃO PASSARÃO!

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PROTESTO NÃO É CRIME!

CRIMINOSO É O ESTADO!

RESPEITEM AS BANDEIRAS RUBRO NEGRAS!

RODEAR DE SOLIDARIEDADE OS QUE LUTAM!

TODA SOLIDARIEDADE AO COLETIVO QUEBRANDO MUROS, ESTUDANTES DA UEL, ANTIFA 16 E TODXS CRIMINALIZADXS!

Leiam:

NOTA DO COLETIVO QUEBRANDO MUROS https://quebrandomuros.wordpress.com/2015/05/05/protestar-nao-e-crime-criminoso-e-o-estado/

NOTA DE SOLIDARIEDADE DA CAB: http://anarquismo.noblogs.org/?p=150

PUBLICAÇÃO DO CALC SOBRE O MASSACRE DE 29/04/2015: https://anarquismopr.org/2015/04/30/o-estado-e-29-de-abril-de-2015/