A ESTRATÉGIA DO ESPECIFISMO
Juan Carlos Mechoso (Federação Anarquista Uruguaia)
Entrevista a Felipe Corrêa
Retirado de: http://www.anarkismo.net/article/27372

Esta entrevista — realizada por Felipe Corrêa, com Juan Carlos Mechoso, da Federação Anarquista Uruguaia (FAU) — aborda a “estratégia do especifismo” da FAU. Nas perguntas são abordados temas relevantes, como: conceito de especifismo, relação deste tipo de anarquismo com os clássicos e com experiências similares que surgiram na história, a relação do especifismo com o contexto da América Latina, comparações com outras ideologias que defendem a atuação em níveis distintos (partido – movimento de massas), conceitos de ciência, ideologia e sua relação com o socialismo, posições programáticas que os anarquistas devem defender nos movimentos populares, conceitos e concepções de classe, neoliberalismo, modelo de desenvolvimento da América Latina, poder popular, estratégia, luta armada, revolução social.
PREFÁCIO
Finalmente, depois de mais de cinco anos da realização desta entrevista, entrego a tradução em português para publicação online e em livro, pela Faísca Publicações.
Trata-se, como verá o leitor, de uma longa sequência de perguntas e respostas em que Juan Carlos Mechoso, destacado militante e fundador da Federação Anarquista Uruguaia (FAU), fala sobre a estratégia de luta desta organização, construída desde sua fundação, em 1956.
Com respostas muito bem desenvolvidas, muitas das quais recorrem aos documentos da própria FAU, a entrevista, que levou quatro meses para ser realizada, por email, no fim das contas, ficou ótima e foi muito esclarecedora. Ambos, entrevistador e entrevistado, ficamos muito empolgados e satisfeitos com o resultado final.
A partir de meados dos anos 1990, a FAU passou a ter uma influência determinante no anarquismo brasileiro. Entre os fins de 1995 e o início de 1996 conformou-se a Construção Anarquista Brasileira, uma iniciativa conjunta de uruguaios e brasileiros, que tinha por objetivo a articulação anarquista no país e uma retomada de sua influência no campo popular em geral. Desde então – e não sem erros, acertos e muito esforço e dedicação militante –, praticamente tudo que foi desenvolvido no Brasil, em termos de anarquismo especifista, teve influência direta da FAU.
A Organização Socialista Libertária (1997-2000), o Fórum do Anarquismo Organizado (2002-2012) e a Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), fundada em 2012, com presença em mais de 10 estados brasileiros, são frutos deste processo. A CAB tem investido na construção de um anarquismo de base, classista que, por meio de sua organização específica e política, vem buscando impulsionar e influenciar as lutas sociais e movimentos populares de nosso país, com vistas à construção do poder popular, num processo de ruptura revolucionária que conduza ao socialismo libertário.
Os termos “especifismo” ou “anarquismo especifista” referem-se, de algum modo, à maneira que os uruguaios da FAU encontraram para se referir ao tipo de anarquismo que defendiam e praticavam, o qual teve não apenas influências clássicas de anarquistas como Mikhail Bakunin e Errico Malatesta, mas também de outras experiências locais e mesmo algumas elaborações próprias. Assim, quando responde questões sobre “a estratégia do especifismo”, Mechoso reflete sobre o modo que a FAU encontrou, historicamente, para colocar suas ideias em prática e quais foram as grandes linhas que nortearam sua atuação.
Conhecendo a recente produção de Mechoso sobre a história da FAU (Acción Directa Anarquista: una história de FAU, 4 tomos, Editorial Recortes), e levando em conta esta sua importante influência no anarquismo brasileiro, pensei, quando propus esta entrevista, em tratar de outro tema. Não da história, já bem documentada nestes volumes, mas da estratégia da FAU, da “estratégia do especifismo” da FAU. Nas perguntas, portanto, abordei temas relevantes a este fim: conceito de especifismo, relação deste tipo de anarquismo com os clássicos e com experiências similares que surgiram na história, a relação do especifismo com o contexto da América Latina, comparações com outras ideologias que defendem a atuação em níveis distintos (partido – movimento de massas), conceitos de ciência, ideologia e sua relação com o socialismo, posições programáticas que os anarquistas devem defender nos movimentos populares, conceitos e concepções de classe, neoliberalismo, modelo de desenvolvimento da América Latina, poder popular, estratégia, luta armada, revolução social.
Devo destacar que, a meu ver, este material possui duas virtudes. Por um lado, do ponto de vista histórico, visto que ele discute aspectos importantes de uma organização que protagonizou uma das maiores experiências do anarquismo no mundo depois da Revolução Espanhola (1936-1939). A influência da FAU em setores sindicais, comunitários e estudantis, se levada em conta o tamanho da população do país, foi notável e digna de destaque em qualquer história global do anarquismo.
Por outro, da perspectiva atual, visto que ela contribui enormemente com o anarquismo contemporâneo. As reflexões apresentadas por Mechoso, e mesmo suas referências à experiência da FAU, são centrais não somente para um aprimoramento das práticas políticas da CAB, mas, mesmo, para contribuir com o anarquismo de outras correntes e, por que não, dos setores mais combativos e independentes dos movimentos populares em geral.
***
Leia completo em:
ou http://www.anarkismo.net/article/27372