Arquivo da tag: pstu

[SINDITEST] Nicolas Pacheco é absolvido; o militante sofria processo por lutar contra a privatização do HC

Retirado de:                                                 http://www.sinditest.org.br/noticias_detalhe/11/informe-juridico/2785/nicolas-pacheco-e-absolvido-o-militante-sofria-processo-por-lutar-contra-a-privatizacao-do-hc

protesto

Saiu hoje, 15, a sentença que absolve Nicolas Pacheco – estudante e militante pela ANEL e PSTU – das acusações de resistência à prisão e constrangimento ilegal, pesadas contra ele desde o dia 28 de agosto de 2014.

O estudante fez parte da Frente de Luta Contra a Privatização do HC e foi detido de forma arbitrária por agentes da Polícia Federal que estavam dentro do prédio da Reitoria da UFPR. No fatídico 28 de agosto, muitas bombas, bala de borracha, gás de pimenta e lacrimogêneo foram utilizados pela Polícia Militar e pela PF para reprimir manifestantes que se opunham à privatização do Hospital de Clínicas, que seu deu pela aprovação da EBSERH.

Avanílson Araújo, da assessoria jurídica do Sinditest, comenta que ainda que haja recurso  contra a absolvição de Nicolas, é pouco provável acontecer alguma reversão da decisão. Para Avanílson a sentença fortalece a perspectiva de que lutar por direitos não é crime. “Tem que ser assegurado o direito de lutar, embora a gente esteja vivendo no Brasil um contexto de acentuar a criminalização dos movimentos”, defende.

Em outubro de 2014 foi lançado o Comitê Lutar não é Crime, uma frente contra a criminalização dos movimentos sociais que exigia o arquivamento do processo de Nicolas Pacheco e de demais militantes do Paraná e Santa Catarina presos por lutarem. “É importante reforçar que o Nicolas foi absolvido não foi por falta de prova, foi porque inexistiu a conduta criminosa no que diz respeito ao crime de constrangimento ilegal. Foi uma ação do movimento de massas, legítima de um estado democrático”, diz Avanílson.

Lançamento do Comitê Lutar não é Crime! Pela absolvição de Nicolas Pacheco!

ABSOLVIÇÃO DE NICOLAS

Ontem, 22 de outubro de 2014, foi lançado o Comitê Lutar Não é Crime no Paraná! Em um ato com a presença de mais de 15 entidades – entre movimentos sociais, agrupamentos de tendência e organizações políticas – e com quatro militantes sociais e políticos que estão sendo criminalizados, afirmamos mais uma vez: “Lutar não é crime!

Em um ano de muita agitação política, aumento da repressão e criminalização da luta, após Jornadas de Junho de 2013, inúmeras greves e revoltas, os movimentos combativos e a esquerda de luta se solidarizam com os militantes perseguidos por este Estado criminoso. Enquanto os de cima fazem campanha, os de baixo são presos, indiciados e apanham.

coletivos638

Quando os de baixo começam a ameaçar os poderosos, vemos os movimentos sociais e as organizações políticas combativas sendo duramente criminalizadas. Nossa organização-irmã Federação Anarquista Gaúcha teve sua sede invadida mais uma vez nas Jornadas de Junho de 2013 (leia mais em: https://anarquismopr.org/2013/06/21/nota-da-fag-sobre-a-invasao-de-sua-sede/);  em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Goiânia, Ceará, Joinville e em muitas outras cidades tivemos prisões arbitrárias durante as jornadas, Copa do Mundo, greves e ocupações e duros processos contra os lutadores que buscam uma sociedade mais justa e igualitária.

No Paraná, na Batalha contra a EBSERH (privatização do Hospital de Clínicas) vemos a repressão e criminalização da luta atingir nossa classe mais uma vez. No dia 28 de agosto deste ano, vimos do que a Reitoria da UFPR e o Governo Federal são capazes de fazer quando ameaçamos impedir a privatização do maior hospital público do Paraná. Spray de pimenta, bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha atingiram estudantes, trabalhadores e trabalhadoras (leia mais em: https://anarquismopr.org/2014/08/29/protesto-nao-e-crime-pela-absolvicao-de-nicolas-pacheco/).

Não bastasse a truculência policial, “o companheiro do PSTU Nicolas Pacheco, de 18 anos, que estava somando esforços na luta,foi sequestrado e mantido em cárcere privado pelos policiais federais. Dentro do Prédio da Administração da Reitoria, passou mais de 5 horas algemado, sofrendo ameaças policiais e sem poder sequer falar com advogado. O companheiro foi levado para a carceragem da polícia federal e foi acusado pelos crimes de resistência, desacato e constrangimento ilegal.”

As únicas provas apresentadas pela polícia são os depoimentos dos próprios agentes envolvidos na operação e de seguranças terceirizados da UFPR. “Os depoimentos falsos que saíram são um absurdo porque mesmo com as imagens mostrando o que aconteceu eles disseram que eu entrei em luta corporal com a polícia! Eu fui imobilizado, jogado no chão, algemado com as mãos para trás e passei cinco horas dessa maneira”, desabafa Nicolas.

lutarn lutarn2

O Comitê Lutar Não é Crime surge para que os de baixo se unam em solidariedade aos lutadores criminalizados! Protesto não é crime! Contra a criminalização dos pobres e dos movimentos sociais!

No ato, além das prestações de solidariedade a Nicolas Pacheco – militante do PSTU, que na luta por uma saúde pública está sendo criminalizado, contamos com a presença e relato da criminalização de mais três companheiros e companheiras. André Altmann, militante da nossa organização-irmã Coletivo Anarquista Bandeira Negra (criminalizado na luta pelo transporte), Juciane, trabalhadora do Sindisep (criminalizada na luta dos trabalhadores da saúde) e Gabriela Caramuru, militante do PSOL (criminalizada na luta da educação e do campo).

nicolasebeavis

Mas não podemos esquecer que a criminalização e repressão aos pobres NUNCA SE INTERROMPEU! Quantas Cláudias e Amarildos sofrem todos os dias? Com o abuso dos policiais, com a exploração do trabalho, com falta de saúde, transporte e educação pública de qualidade?

Só com muita luta, organização e solidariedade vamos acabar com essa sociedade de classes, em que os empresários, latifundiários, burocratas e policiais, exploram, dominam e matam o nosso povo!

O Comitê Lutar Não é Crime fará novas ações em breve. Quer participar? Entre contato, milite nos movimentos sociais!

protesto não é crime

ENQUANTO EXISTIR DOMINAÇÃO, OS ANARQUISTAS CONTINUARÃO NA LUTA!

RODEAR DE SOLIDARIEDADE OS QUE LUTAM!

NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA!

PROTESTO NÃO É CRIME!

LUTAR NÃO É CRIME!

calc_cmyk_011.jpgcab

[FAG] O dia 18/06: estado de exceção e o egoísmo de uma certa esquerda

O ato “Copa sem povo, to na rua de novo” realizado no dia 18/06 e organizado pelo Bloco de Luta de Porto Alegre foi emblemático em diversos sentidos. O primeiro deles diz respeito ao forte aparato repressivo – mais de 1.000 (mil) policiais militares, entre choque, cavalaria e auxílio de um helicóptero – e à tática utilizada pelas tropas de impedir a realização da marcha. Considerando o número de manifestantes – não mais que 200 pessoas – trata-se de um contingente desproporcional digno de ditadura militar. Um contingente repressivo que abusou de bombas de efeito moral e balas de borracha, causando ferimentos profundos em manifestantes e jornalistas. Ironicamente, dias antes alguns jornalistas haviam participado de um curso ministrado pela Brigada Militar, solicitado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS, de como se portar durante manifestações para se protegerem fisicamente. Além disso, durante e depois da concentração do ato houveram várias tentativas de intimidação, seja por parte dos P2 (agentes infiltrados), de notícias veiculadas pelo twitter da zero hora dizendo que o Batalhão de Operações Especiais estariam portando armas letais ou pelo estranho “não funcionamento” da linha telefônica da equipe jurídica do bloco.

10411234_10203810739099675_4278154023460169959_n

Consideramos que a responsabilidade de todas essas atitudes deve ser imputada ao governador Tarso Genro/PT, já que é ele o comandante maior da BM. Atitudes covardes e anti-democráticas das forças repressivas que atentaram contra o direito à manifestação, não nos deixando sequer distribuir os cerca de 5.000 panfletos destinados à população de Porto Alegre.

O segundo aspecto emblemático diz respeito à ausência do PSTU e da corrente interna do PSOL, o MES, da manifestação. O mais intrigante é que no dia anterior ao ato, militantes de ambos os grupos políticos forneceram declarações à famigerada Zero Hora, vinculada ao Grupo RBS, falando do porque de suas não participações no ato do dia seguinte. (http://zh.clicrbs.com.br/rs/esportes/copa-2014/noticia/2014/06/militantes-do-pstu-e-psol-nao-irao-a-protesto-do-bloco-de-luta-nesta-quarta-4529147.html) Sem entrar no mérito de possíveis distorções desse jornal acerca das declarações, mas de antemão rechaçando a postura dessas 2 agrupações que constantemente dialogam com esse veículo podre da burguesia gaúcha e considerando que não será outro o papel desse oligopólio que vem há tempos criminalizando os movimentos sociais, queremos registrar o desserviço que esses grupos fizeram ao não participar do Ato e anunciar isso na ZH. Num momento de conjuntura de forte criminalização e repressão aos que lutam, inclusive com militantes desses 2 partidos sofrendo processos políticos por se manifestarem, deixar de tomar parte de um processo de lutas por divergências “políticas (?)” é para nós uma atitude nada solidária e nada coerente com os princípios do Socialismo e da tradição de luta dos trabalhadores que esses grupos reivindicam.

1604848_860898263940174_5343798586969785418_n

Porque a juventude e os militantes sindicais desses partidos não tomam parte do Bloco e não defendem de forma contundente a linha que consideram mais justa? Porque não defendem uma linha conseqüente nas categorias que possuem militância para que setores do movimento sindical construam o Bloco desde seus locais de trabalho? Às primeiras divergências que aparecem e se “NÃO É COMO NÓS QUEREMOS” se pula fora??? A participação com peso só vale naquilo que é construído por esses partidos desde os seus aparatos sindicais??? Uma postura recuada e oportunista que ataca outros setores para ir construindo terreno para candidaturas que buscarão se eleger às custas das lutas realizadas.

Consideramos essa postura nem um pouco coerente para quem afirma com a boca cheia a necessidade do não isolamento político do Bloco perante o grosso da população de Porto Alegre. Assim como entendemos incoerente incorrer numa postura que intencionalmente ou não acaba por criminalizar adeptos da tática Black Block e o próprio Bloco de Luta ao agir como informante da mentirosa e mafiosa RBS.

16607738

Nós e as organizações que compõem a Coordenação Anarquista Brasileira temos plena consciência de que esse ano a tônica tem sido dada pelas bases de diversas categorias de trabalhadores porque elementos da conjuntura assim indicam. No entanto, nossa militância não irá se furtar de construir, dentro de nossas possibilidades, cada Assembléia e Ato do Bloco de Luta pelo Transporte Público, independente das decisões que ali forem tiradas, porque para nós, é o processo de debates, de tomada de decisão e de organização compartilhada pelo maior número de pessoas no marco do Bloco que será possível forjar, pela prática e pelas experiências vividas, um sujeito que de forma organizada e estratégica avance para arrancar conquistas.

Se tocam a um/a, tocam à todos/as!

Porque solidariedade sempre será mais que palavra escrita!

Para os pobres, desempregados, sem-teto, sem terra, NÃO ESTÁ TENDO COPA!

E na Copa sem Povo, estaremos na rua de novo!!!

Federação Anarquista Gaúcha – FAG

[FAG] ATO PÚBLICO DA FAG: Força e Convicção Ideológica e Textos lidos no ato

Retirado de : http://www.federacaoanarquistagaucha.org/?p=78

http://www.federacaoanarquistagaucha.org/?p=50

DSC02212O ato começou logo que caiu a noite, por ali, inicialmente uma pequena aglomeração de pessoas na bonita rua da travessa dos venezianos na cidade baixa de Porto Alegre.

1392089_1422637664617851_431766968_nNão tardou muito o telão e os microfones já estavam prontos para o uso, assim como os convidados já se faziam presentes, mais de 100 pessoas que certamente compuseram uma bonita fotografia colocada para este ato político. Um painel de fundo, com as cores vermelho e preto e os dizeres “FAG 18 anos, força e convicção ideológica” cobria a parede do Ateneu Libertário a Batalha da Várzea, local político, social e cultural da FAG. A rua que já é bonita por si só ficou ainda mais com a presença de cada companheiro e companheira que se fez presente.

1235265_1422637601284524_944563051_n

Vários coletivos, organizações políticas, movimentos se fizeram participantes, também estavam lá pessoas sem organização social e política, mas sem dúvidas simpatizantes do tema a ser tratado. Uma grande parte dos que se faziam presentes ali, podemos até dizer que a maioria, são militantes anarquistas desta cidade e que, de uma forma ou outra se somam nos processos de luta que nos tocou atuar nos últimos tempos. Não todos militantes da FAG, mas companheiros de ideologia e luta. Também contamos com a participação de militantes de outras matrizes ideológicas, estes foram convocados por nossa organização no momento que propomos a solidariedade a todos os que estão lutando e por conta disso sendo perseguidos e criminalizados. Nossa solidariedade de classe como já diz uma antiga chamada é “mais do que palavra escrita” ela se faz em atitudes concretas, no que é de fato.

1391896_1422637321284552_1937506031_nO ato teve a leitura das adesões de várias organizações irmãs da Coordenação Anarquista Brasileira (CAB), da Federação Anarquista Uruguaia(FAU), assim como de movimentos populares autônomos. Foi feita a leitura do material nosso com elementos da conjuntura, repressão, criminalização e os desafios colocados para os setores de luta dos oprimidos. Logo tivemos as falas de companheiros de outras organizações políticas, sociais e populares que ali estavam, foram sete intervenções que firmam o compromisso de estar e continuar em luta contra a criminalização do protesto e da revolta. Falas estas, das quais compartilhamos o sentimento de solidariedade de classe, porque o sectarismo para nós da FAG é umas das piores doenças políticas que atingem setores do campo popular de esquerda.

1374219_1422637431284541_1633228323_n

Para os militantes de outras matrizes ideológicas que tiveram respeito em aceitar o nosso convite e comparecer em nosso ato fica nosso cordial agradecimento. Segue um trecho da fala de abertura que representa muito bem o caráter que fizemos ter este Ato: “Em que pese ser o ato de uma organização política anarquista, com seu discurso, as suas linhas e a própria cultura militante, cremos que esta é uma conjuntura especial que toca a todos e todas que lutam para não se amesquinhar, para quebrar o sectarismo e brindar solidariedade de classe, por cima das diferenças partidárias. Que se sintam parte deste Ato todos os lutadores sociais perseguidos e com todo nosso respeito tomem um lugar entre nossa fraternidade libertária e socialista.”.

1377506_1422638714617746_2086004806_nE assim foi, bem mais de uma centena de pessoas, talvez duas, puderam socializar conosco momentos de reflexão e análises sobre a luta popular e política que estamos envolvidos. Também houve momentos de imagens das mobilizações, músicas e por fim a fala final de nossa organização, uma fala com elementos ideológicos de nossa corrente dentro do anarquismo, o Especifismo. Aqui o trecho que segue sintetiza um pouco do nosso acionar: “Nosso anarquismo em ação quer ser um fator para unir o que está disperso, organizar o que anda desorganizado, para encontrar mecanismos de participação popular em direção de uma estratégia de poder popular que carregue um programa de soluções para os explorados e oprimidos. Que faça sair pra frente os protestos sociais.”.

O ato abrigou diferentes gerações de lutadores, gente que a décadas atrás já estavam nas peleias dos de baixo, mas foi a juventude que teve um papel importante e renovador, o papel de seguir empunhando a bandeira por socialismo com liberdade, pelo anarquismo. Devemos concluir então que este Ato é só uma “pausa”, um momento de reflexão, de socializar com a companheirada como estamos enxergando o cenário das lutas e compartilhar as tarefas políticas que a luta popular nos traz.

1381419_1422638807951070_1271574461_n

Seguiremos “resistindo com força e convicção ideológica, mantendo nossos ideais onde se encontram os anseios dos oprimidos, sendo parte ativa nas lutas cotidianas, atuando com modéstia, mas com firmeza. Em memória a todas e todos que tiveram suas vidas ceifadas pela mão do opressor quando teimaram em defender a liberdade, a justiça social e a revolução social.

Nenhum passo atrás!

Rodear de solidariedade os que lutam!

Federação Anarquista Gaúcha – FAG

Textos lidos:

O ANTES E O DEPOIS DE JUNHO

*Análise de conjuntura lida no ato da público da FAG em 17/10/2013.

No inicio do ano de 2013 começou a ganhar força uma nova configuração para este país, um novo contorno histórico de luta popular, inicialmente com mobilizações pequenas, mas que nitidamente ganharam logo de cara a simpatia de uma ampla maioria dos trabalhadores e oprimidos em geral,  simpatia esta que caracteriza o descontentamento do povo com suas condições de vida, por seus direitos mais básicos como saúde, educação e transporte negados pelos de cima (governantes, patrões, mídia coorporativa).

Inicialmente as lutas foram pela redução das passagens, com a pressão popular aumentado nas ruas e a organização pela base, nos diversos trabalhos de diálogo com o povo, ocupação de terminais, marchas e trancaços culminaram em uma conquista pontual, mas coletiva, que foi a redução no aumento absurdo da passagem de ônibus nesta cidade (passagem que segue com um valor absurdo é bom frisar). Ao contrário do que acusam certos propagandistas, que buscam subtrair a ação popular para personalizar e canalizar eleitoralmente a vitória, esta não foi uma conquista de gabinete, mas sim de milhares de pessoas que saíram gritando pela força das ruas que “se a passagem aumentar, Porto Alegre vai parar” e Porto Alegre imerso em uma agitação que não presenciava a mais de uma década, literalmente parou! Não fosse a contundente mobilização de massas que o Bloco de Lutas pelo Transporte Público foi capaz de agitar a medida judicial contra o aumento teria mofado nas podres gavetas do poder judiciário.

1395_1422637704617847_765979703_nA adesão às marchas começaram a se fazer presente nas ruas, já não éramos mais “meia duzia” de militantes, muito mais gente estava conosco, afinal sempre foi este o objetivo que nos colocamos desde o inicio, que o movimento se enchesse de gente com ganas de lutar, jovens, muitos jovens, senhores e senhoras e crianças, trabalhadores, desempregados, começaram a ganhar o paço municipal nas concentrações dos atos que ajudamos a construir.

A pauta já se estendia, não se tratava só de exigir a redução das passagens, um outro modelo de transporte começava a ser debatido, o passe livre que é uma pauta já antiga na cidade também já é uma das demandas. Tampouco essas lutas começaram a surgir do nada. Nos últimos 10 anos, em inúmeras cidades a juventude e os de baixo se mobilizaram e lutaram contra os aumentos abusivos no transporte coletivo, saindo em algumas ocasiões vitoriosos. Da mesma forma, indígenas e trabalhadores das obras do PAC, vinham sinalizando o caminho de uma luta sem tréguas contra os de cima.

Em meio a esse processo embrionário, onde inúmeros companheiros, das mais distintas procedências político/ideológicas, onde temos a felicidade de nos incluir, aportaram seus esforços, na maioria das vezes silenciosos, eis que tivemos um ato marcado pela repressão por parte dos defensores do Estado. Logo a cidade sentiu o poder que tem um povo indignado  quando este se da conta que esta sendo atacado e aquece na solidariedade aqueles que caem presos por lutar. No histórico 1 de abril, marcharam pelas ruas desta cidade uma coluna de milhares de pessoas, uma marcha que alcançou numero maior que dez mil, milhares marchando com seus anseios gritando em cartazes e faixas, milhares que talvez nunca antes tenham se somado a nenhuma manifestação seja ela qual fosse, no entanto ainda não tínhamos ao certo a dimensão do que iria surgir no país a fora.

1376370_1422637767951174_1898684350_nNão tardou para presenciarmos mobilizações em várias cidades que, paulatinamente começaram a impor uma nova força no jogo da política brasileira, agora com os de baixo se erguendo com o punho em riste, apavorando os poderosos. Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro e tantas outras cidades presenciaram um mar de gente tomando as ruas e não por acaso sofrendo a covarde repressão policial por parte do Estado que prontamente buscou atender as reivindicações das patronais e da mídia coorporativa e tentar por fim as lutas que demonstravam uma sufocada revolta popular contida entre os de baixo. No entanto, a repressão deu com os burros n’água! Assim como em Porto Alegre, foi a partir da repressão policial que o movimento se massificou, canalizou a indignação contra a covardia de um estado cada vez mais policial e seguiu em frente, o que levou os de cima a rever sua tática. Se, em um primeiro momento a tática era conclamar a repressão e a estigmatização das lutas, dada a falha dessa histórica tática, os de cima, recorrendo sobretudo a seus instrumentos de luta ideológica, a mídia coorporativa, passaram a buscar cooptar as lutas, introduzindo pautas artificiais e cada vez mais vazias de conteúdo, conspirando contra a esquerda nos atos e buscando transformá-los em “paradas cívicas”. Podemos afirmar que em Porto Alegre não foi fácil a direita se apossar das manifestações, pois já estávamos organizados para enfrentar a tentativa de cooptação e nisto conseguimos garantir o cunho classista e combativo que apontamos desde o inicio.

Quando já não éramos mais “meia dúzia” de militantes, mas sim um movimento forte e catalisador de demandas populares, sendo capaz de contornar a ofensiva dos de cima em esvaziar de conteúdo nossas lutas, passamos então a ser ainda mais condenados pela mídia golpista de plantão, reforçaram-se as tentativas de distorção e factóides covardemente plantados nas redações com o objetivo de desatar uma guerra psicológica contra a revolta popular que começava a se afirmar de norte a sul do país. Nossas marchas foram atacadas diversas vezes, fomos acossados e perseguidos, gás lacrimogêneo começou a ser marca constante, assim como as balas de borracha, as bombas de efeito moral, as torturas que a BM cometia pelas ruas, delegacias e camburões, as prisões arbritárias e aleatórias de gente que foi, literalmente caçada pelas ruas.

Os meses de junho e julho marcaram um antes e um depois neste país, com a entrada em cena de uma nova geração de lutadores, demonstrando convicção e firmeza de seguir em frente, ainda que enfrentando a repressão. Não bastasse a mídia a serviço dos capitalistas, a direita mais raivosa deste país com traços fascistizantes, encontramos nos governos do estado e federal, a comando do PT, se mostrado um algoz de ideologias combativas, mais especificamente do anarquismo. Foi o governo Tarso/PT que, na sanha de agradar a grande imprensa mandou sua polícia invadir a sede de nossa organização por duas vezes em menos de 04 meses, a primeira, em junho, diga-se de passagem de forma ilegal e aprendendo “vasta literatura anarquista” segundo o chefe da Polícia Civil Ranolfo Vieira Jr., agora filiado a PDT do prefeito Fortunatti. Até hoje não devolveram todos os materiais e na tentativa de  intimidação, vão à casa de um de nossos militantes e entregam três dos vários livros que roubaram.

O discurso do governador Tarso Genro que vai a publico depois deste episodio é vil, coloca a ideologia anarquista como equivalente ao fascismo, julga que as ações de rebeldia e indignação que vão às ruas são de responsabilidade dos nossos ideais que incitam o protesto, como se nós devêssemos ser responsabilizados por aquilo que os governos e as elites plantaram durante anos e anos, como a fome, a miséria, a injustiça social, a precarização das relações de trabalho e dos serviços públicos, o massacre da juventude negra e pobre, o Estado penal, o cárcere, a tortura e o desaparecimento para o pobres.

Passadas então as grandes mobilizações, a criminalização ganha mais força. Já era de nosso conhecimento que haviam processos que corriam soltos contra militantes, já se desenhava ali uma ação de condenação política da militância. Não tardou muito e começam a nos prender,  como foi o caso dos/as professores/as, companheiros de luta que foram detidos em uma armação de “flagrante” após um ato do Bloco de Lutas. Em menos de uma semana, um tal delegado Jardim, conhecido por fazer vistas grossas à atuação de grupos neo-nazistas na cidade, concluía a farsa indiciando-os por depredação, agressão e crime ambiental por depredação de patrimônio tombado. A conspiração em curso ficava escancarada quando seus nomes e fotos eram divulgados com entusiasmo pela RBS e suas hienas.

Não distante deste episodio no 1 de outubro espaços políticos sociais de cunho libertário, como Moinho Negro e, como afirmamos acima pela segunda vez o nosso espaço o Ateneu Libertário, também outros militantes envolvidos na luta, como os compas do Utopia e Luta, e militantes do PSOl e PSTU tiveram suas casas invadidas e foram também roubados pela polícia civil empregada do governo Tarso/PT. Logo que tivemos acesso ao inquérito que a polícia civil montou, podemos então ter certeza da perseguição político ideológica que já caminha a passos largos, um inquérito digno de deboche, sem provas concretas, onde elementos de investigação são as cores de bandeiras e seus formatos. Nesta tentativa desesperada de achar lideres, de por cabeças a premio, o governo e seu aparato repressivo promovem uma verdadeira caça as bruxas na cidade. Alardeia que negocia com os partidos, porque não sabia das ações da PC. Mas sabemos e acusamos isso como mais uma manobra de provocar um racha no movimento.

1376582_1422637714617846_216138381_nNão se deixar levar pela chantagem dos de cima! Não se intimidar, não se desmobilizar: rodear de solidariedade todos os que lutam!

Na grande imprensa, seja ela da província ou nacional o bode expiatório que hoje buscam com um ódio espumoso enquadrar nas leis contra organizações criminosas e de segurança nacional, nítidos vestígios da ditadura civil-militar, já foi nomeado: anarquistas, mascarados, vândalos! Uma cortina de fumaça para sufocar a justa revolta popular de um povo que tem ousado dar um basta em sua condição miserável e de expectador do corrompido jogo político que decide a revelia dos de baixo. A repressão tem se afirmado com um crescente vigor. Isolar e direcionar a perseguição à setores mais combativos, ainda que estes sejam pouco ou nada orgânicos, chantagear setores reformistas/eleitoralistas de forma a isolarem os setores mais radicalizados, apresentando-se como responsáveis e não promotores da “baderna” tem se mostrado uma sagaz artimanha do inimigo. Cria-se um ciclo vicioso onde não faltaram vacilantes e até mesmo delatores para cederem as chantagens do inimigo a cada aperto que sofrerem, reiterando, cada vez mais sua inocência, sua responsabilidade e claro, mordendo a isca do inimigo ao condenar aqueles que, ainda que por vezes sujeitos a inúmeros equívocos táticos e estratégicos estão muitas vezes fazendo sua primeira experiência de enfrentamento político com os de cima. Representam, antes de mais nada, uma nova geração disposta a lutar por fora do jogo dado pelos de cima: eleições, partidos registrados no TSE recebendo suas devidas anuidades do Estado burguês (o fundo partidário) e contribuições de inúmeros setores da patronal.

O desenvolvimento da repressão em tais níveis, com o beneplácito de um pretenso partido de esquerda, “progressista”, não é novidade para quem conhece as políticas de conciliação de classes do mesmo. O pacto social caminha invariavelmente para o conservadorismo e a reação. Desmobiliza e coopta setores importantes de luta e organização dos de baixo, chegando por vezes a destruí-los mediante o alto grau de cooptação e burocratização. Deixa como legado um vazio organizativo por parte dos de baixo, capaz de disputar uma agenda a esquerda, ao passo que colabora reiteradamente com os de cima e seus instrumentos organizativos. Eleger bodes expiatórios e desatar uma feroz repressão contra lutas que fujam do controle de sua política de pacto social é uma marca histórica desse reformismo que sequer é capaz de lograr mínimas reformas. No entanto, assume sem vacilações o seu posto histórico de ser a ante-sala do fascismo.

Seguimos afirmando que o que está posto no atual cenário não uma polêmica entre “marxistas x anarquistas” como muitos buscam insinuar ao sinalizar de forma positiva a chantagem dos de cima. O que se trata no atual momento histórico é a defesa de lutadores contra a repressão e a criminalização. Não escolhemos pelas vertentes ideológicas e históricas dos de baixo a quem ser solidários, orientação esta que vai de encontro a um pernicioso e trágico sectarismo que busca apenas defender “os seus”.

Somos uma organização que tem 18 anos de história e luta, sempre estando junto e sendo parte dos oprimidos, organizando os de baixo, aportando com toda modéstia nosso grão de areia na construção do poder popular.

E neste solo que nos tocou viver e atuar, queremos reafirmar nosso compromisso de seguir lutando, porque nossas idéias não podem ser mortas ou acorrentadas! Porque o sonho por liberdade e justiça social não é um sonho que se sonha só! Porque as prisões não nos intimidarão! Porque a perseguição só alimenta nossas ganas de seguir combativo! Porque não nos calarão diante de qualquer injustiça! Porque a não vai ter copa se depender de nós! Porque seguiremos falando de liberdade, socialismo e anarquismo custe o que custar! Porque a luta dos indígenas e quilombolas também é nossa luta! Porque os trabalhadores da educação são nossos companheiros! Porque todos os que lutam tem em nós mãos estendidas e ombros solidários!

Porque nossos inimigos são os mesmos e lutaremos contra eles até a tão sonhada revolução social! Porque os lutadores do Rio de Janeiro que hoje enfrentam um Estado policial ainda mais desenvolvido, como em qualquer outro canto deste país não estão sozinhos!

Porque somos sim companheiras e companheiros ANARQUISTAS!!!!!!

1378403_684662768211951_1673754237_n

O ANARQUISMO NÃO SE PRESTA A CARICATURAS!

Intervenção de encerramento do ato

DSC02219Saúde compas! Em que pese ser o ato de uma organização política anarquista, com seu discurso, as suas linhas e a própria cultura militante, cremos que esta é uma conjuntura especial que toca a todos e todas que lutam para não se amesquinhar, para quebrar o sectarismo e brindar solidariedade de classe, por cima das diferenças partidárias. Que se sintam parte deste Ato todos os lutadores sociais perseguidos e com todo nosso respeito tomem um lugar entre nossa fraternidade libertária e socialista.

Contra o privilégio e a injustiça, a escravidão e a brutalidade SOMOS ANARQUISTAS, já sintetizou a máxima de nosso velho Bakunin.

Mas quem são os militantes anarquistas? Perguntava a reportagem especial de Zero Hora do dia 29 de junho, mais de uma semana depois que é operada a 1° invasão policial do local do Ateneu Libertário.

Ora, somos trabalhadores, de distintas profissões e setores, qualificados, precários ou desempregados, pais, mães, filhos do povo, estudantes. Somos também os jovens que fazem uma opção de classe e tomam parte contra toda dominação política, econômica e cultural pelo lado dos oprimidos. Os que ajudaram e somaram desde baixo e pelo começo a formar o Bloco que tomou a frente nas históricas lutas de massa de abril e junho em Porto Alegre e derramou pelo país afora. Os que não acordaram ali, que já vinham há anos dando corda nas pautas que defendem o direito a cidade para os pobres. E a propósito senhores, não temos preferência pela cor da roupa, nos vestimos como dá, como podemos. O estereótipo e a caricatura, apesar da insistência, não colam  marcas no nosso lombo.

1374066_1422638717951079_1061288892_nNaquela pérola da página 11, dia 29 de junho, em Zero Hora o sr. Humberto Trezzi chamou uma manchete para contar quem são os anarquistas, fez um parágrafo sorteando chavões achados em vista grossa pelo facebook, a wikipedia ou a busca do google e logo tornou ao seu lugar de ofício nas crônicas policiais. A matéria estava premiada com o factóide de uma entrevista com militante anônimo, uma ode a estupidez de fazer inveja as piores e mais escabrosas redações de Veja.

O discurso criminal sobre o anarquismo não é uma surpresa. O espantalho é historicamente recorrente na imprensa, pelas autoridades e suas forças repressivas, toda a classe patronal. Não perdemos de vista que a produção do discurso da criminalização sempre quis plantar o medo, criar a figura do delito para fazer par com a ordem e ao final produzir consenso para o controle social das classes dominantes.

Durante as primeiras lutas operárias que se organizaram no país pelo trabalho dos anarquistas, inícios do séc. XX, se usava definir essas ideias como uma “planta exótica” que se estranhava com um povo pacato e cordial. A questão social que era levantada pelo emergente movimento dos trabalhadores foi convertida em B.O. da polícia. A ideologia de socialismo e liberdade que encarnava a luta de classes pelos princípios, as táticas e as finalidades de um movimento operário combativo era o próprio delito contra a propriedade, a desestabilização da ordem capitalista dependente e autoritária que se formava por aqui. E quantas organizações e periódicos da imprensa sindical revolucionária foram empastelados, quantos companheiros deportados ou eliminados pelo aparelho repressivo contam essa história “desaparecida” pelas infâmias do poder.

clevelandia a plebe

A Plebe, jornal operário e anarquista informa a situação de companheiros anarquistas presos e mortos no campo de concentração de Clevelândia.

O capitalismo, o Estado e toda a estrutura ideológica articulada ao sistema sempre foram duros algozes do anarquismo, como todos seus opositores radicais. No Brasil não poderia ser diferente. Durante a 1° república fomos enfrentados a conjunturas de fortes ações judiciais e repressivas que destruíram organizações, veículos de imprensa, atividades populares. Pelas leis de repressão ao anarquismo de 1907, 1913 e 1921 tivemos o doloroso desterro, encarceramento e a liquidação de vidas militantes que não tem preço em nossa causa. A colônia de Clevelândia no extremo norte do país, durante a década de 20, figura terrivelmente como o campo de concentração dos indesejáveis, das “classes criminosas”, que fez morrer no limbo incontáveis companheiros, anarquistas irredutíveis.

Nenhuma palavra sobre isso do sr. Trezzi. É que francamente não quis falar de anarquismo, tampouco teria essa liberdade de imprensa se assim o quisesse, quis falar de polícia, convocar a fuzilaria conservadora e arranjou espantalhos para assustar os protestos, ao gosto da política do grupo RBS.

Para o discurso das instituições a luta social que vem de baixo sempre anda a reboque de interesses que não conhece. Vítima das ideologias estranhas que não fazem corrente com a produção normativa do modo de vida dominante. Mas esse é um velho artifício da batalha de idéias usado para confundir, desqualificar e liquidar com a oposição das ruas pelo controle do juízo público. A ordem social nunca foi, nunca será, uma instituição neutra, em nossa sociedade ela é entre outras coisas o privilégio do discurso do pode e não pode, do certo e do errado dos poderes e das classes dominantes.

Não é a primeira e nem será a última vez em que nos veremos julgados pela imprensa monopolista, acossados pela polícia e criminalizados pelo governo e o judiciário. Já avisava Malatesta: a melhor maneira de obter uma liberdade é tomá-la para si, enfrentando os riscos necessários. E aqui estamos fazendo este ato público.

Não é preciso dizer que para a direita mais braba e também para o governismo pragmático dos ex-esquerdistas o socialismo inteiro está superado historicamente. Quando muito é usado como perfumaria de uma política que se afunda e se mistura no mundo burguês tal como ele é e como deve ser. Mas há quem queira nos impugnar de outro jeito, “em nome da história”, abrindo polêmica como concorrentes na política, como inimigos de esquerda, não como adversários.

1380208_1422638701284414_846062256_nVamos repetir uma declaração feita pela nossa organização em sua carta de opinião por volta de abril: “não temos a menor pretensão de representar o que se chama por lugar comum de movimento anarquista. A nível nacional integramos a Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). Guardamos o respeito e as devidas diferenças com outras formações libertárias. Nós tomamos a palavra em direito próprio como uma organização política, que tem seus acordos e definições específicas, que se reconhece entre os oprimidos por esquerda, dentro da luta de classes, anticapitalista e antiburocrática.”

Como corrente libertária do socialismo, no Brasil e pelo mundo, o anarquismo é um fator decisivo pela formação do patrimônio combativo e classista de nosso movimento operário. Por aqui, foram os trabalhadores anarquistas que, em direção contrária ao colaboracionismo da social democracia de inspiração marxista, puseram na ordem do dia das primeiras lutas e organizações sindicais a independência política da classe frente aos patrões, o governo e a burocracia. Para qualquer desavisado ou jogador de má-fé reforçamos que o anarquismo não se presta a caricaturas. A rigor, pra quem fala da história social do movimento dos trabalhadores, de socialismo, não há como borrar os aportes da corrente libertária.

O anarquismo está como nunca citado na história recente do país, sobretudo pelo discurso da imprensa e dos órgãos judiciais e repressivos que “julgam” a legitimidade da luta de massas nas ruas. As mobilizações de massa que estão sacudindo o Brasil deram vez a um turbilhão de demandas que latejavam na vida neurótica, precária e estafante dos setores médios e populares. Grande parte da geração jovem e combativa que formam as lutas desta conjuntura histórica cresceu nos últimos 10 anos de governos do PT e encarna a expressão conflitiva e saturada do seu modelo capitalista de crescimento econômico. O Brasil “grande e moderno” puxado pelos grandes capitais, em parceria com os fundos do Estado e de rabo preso com as velhas oligarquias é feito as custas de uma deterioração brutal do meio ambiente, dos bens e serviços públicos e das condições de vida do povo trabalhador e da juventude.

Nos últimos meses boa parte do que se representa por espontâneo, horizontal e fora da alçada de organizações de esquerda, sindicatos, movimento estudantil é imputado a posições libertárias. Sem dúvidas nós pensamos que há uma boa dose de vulgarização nessas imagens, que induzem diferentes e variadas atitudes que não se correspondem com nossa formação ideológica. O que está em cena indiscutivelmente é um vivo sentimento de rechaço às práticas burocráticas e tradicionais de fazer política, aos conciliadores de turno que conduzem a conservação e a reprodução das mesmas estruturas opressivas da sociedade. Está ganhando emergência uma nova cultura política, que não se reconhece nos partidos da democracia burguesa ou na burocracia sindical, que não confia nas intermediações reformistas e aposta em mecanismos de democracia de base e táticas de ação direta de massas.

Tal contexto tem renovado o interesse pelo anarquismo e faz um desafio aos militantes anarquistas a dar impulso ao novo que está se gestando sem se desarmar política e moralmente. Um certo horizontalismo anti-organizador que anda em moda não coaduna com nosso federalismo. Não é capaz de produzir forças sociais de cambio e um projeto de ruptura para abrir caminho novo. A apologia do caos e do individualismo que deriva na anti-política, no pior dos cenários, faz a cama para o inimigo deitar.

Defendemos resolutamente o direito a autodefesa da luta pública de massas, de critérios e medidas para se proteger da ação repressiva. Temos nossas diferenças com as táticas que não fortalecem os mecanismos de democracia direta do movimento popular e que renunciam ao debate da linha coletiva das ações. Essa posição se articula com uma concepção “insurrecionalista” que termina isolada do povo, que não admite meios para trabalhar com o tempo e o lugar onde se atua, entrega as decisões da política para o reformismo e “faz a sua”.

Somos partidários da construção do poder popular, da luta estratégica das classes oprimidas contra o sistema de dominação, com ação direta em todos os níveis. Se é correto que um método de ação combativa não marca uma intenção revolucionária quando falta o programa, não é menos certo que o mais revolucionário dos programas pode revelar um incorrigível reformista quando este quer chegar as suas finalidades pelas regras do jogo do inimigo.   

Nossa concepção anarquista sempre foi uma incansável organizadora, sempre tratou de criar e desenvolver organização própria no mundo do trabalho e da pobreza, com sindicatos de resistência, com mecanismos de solidariedade, unindo o conjunto com federalismo. Para todos os efeitos, o trabalho organizativo leva junto uma sensibilidade libertária e orientações gerais para não reproduzir no campo dos oprimidos o mundo das estruturas do privilégio, do centralismo burocrático e da desigualdade.

Nunca esteve entre nossos propósitos fazer obra de propaganda anti-partido, anti-sindical, etc. Temos companheiros/as que estão organizados nas lutas sindicais e não renunciamos a fazer política com nossas próprias formas. Temos tratado de defender sempre por esquerda e pela base os critérios que fortaleçam, que unam, que não desagreguem a energia que tem que ser acumulada para vencer uma luta que não termina logo ali. O “aparelhismo” joga contra a unidade dos que lutam, mata a pluralidade do campo popular. Tática apartidária pra luta social, não anti-partido e tampouco apolítica.

Só a luta pode ser um divisor crível de amigos e inimigos. E nessa luta tem lugar para os partidos e as agrupações de esquerda que não se alçam como negociadores da capitulação, como intermediários burocráticos. Todos e todas tem lugar para construir um movimento combativo e de massas que corte o passo da direita, dos governos de turno e das classes dominantes que querem civilizar o protesto numa direção conservadora de propósitos reacionários.

É o governismo, a colaboração de classes e as burocracias partidárias e sindicais que jogam água no moinho da direita. A saturação do pacto social engenhado pelos governos do PT deu refresco para as forças mais reacionárias da sociedade brasileira se reformularem e chegar a conquistar pelo poder da imprensa monopolista um setor dos protestos nas jornadas de junho. A desmobilização e o burocratismo nas filas da classe trabalhadora, a fragmentação do mundo da pobreza e a coalizão dos partidos governistas na vala comum da representação burguesa da política é que dá passagem para direita ensejar seus planos.

Está mais que na hora de dissipar o fantasma de uma política colaboracionista que não quebra a estruturas dominantes do poder reacionário dos monopólios da mídia, do sistema financeiro e os capitais transnacionais que controlam as riquezas criadas pelos trabalhadores, com a ideologia do Brasil grande e emergente que acelera o carro burguês e atropela os indesejados.

Nosso anarquismo em ação quer ser um fator para unir o que está disperso, organizar o que anda desorganizado, para encontrar mecanismos de participação popular em direção de uma estratégia de poder popular que carregue um programa de soluções para os explorados e oprimidos. Que faça sair pra frente os protestos sociais. 

Camilo Berneri. Anarquista e antifascita italiano. Lutou na Revolução Espanhola, onde foi preso e assassinado pelos estalinistas nos acontecimentos de maior de 1937.

O anarquismo não esquece Mussolini como já sugeriu o governador Tarso Genro, mas também não deixa perdido na galeria da amnésia institucional a sua história, o seu código militante e a sua luta implacável contra o fascismo e os regimes totalitários. Está conosco o inesquecível companheiro Camillo Berneri, anarquista e antifascista italiano de primeira linha que lutou a morte contra Mussolini na Itália e também contra o fascismo espanhol. Está viva na memória de todos os rebeldes a épica coluna operária da Batalha da Praça da Sé em São Paulo de 34 que bancou a revoada dos galinhas verdes, o integralismo de Plínio Salgado.

 Sempre com os que lutam!

Nenhum lutador social sem solidariedade!

Pelo Socialismo e pela Liberdade.

Não tá morto quem peleia!

Federação Anarquista Gaúcha – FAG

logo1

ADESÃO DA ORGANIZAÇÃO ANARQUISTA SOCIALISMO LIBERTÁRIO

Aos companheiros e as companheiras da Federação Anarquista Gaúcha

O avanço das lutas populares no Brasil tem nos mostrado a verdadeira face dos ditos governos progressistas que despontam em toda nossa América Latina. Não é surpresa para nós a truculenta repressão e as tentativas de criminalização de nossas organizações por parte do Estado, sempre lacaio das elites do mundo, independente do discurso dos partidos que o governam. Devemos estar preparados para essa batalha e somente unindo nossas forças conseguiremos caminhar. Nós da Organização Anarquista Socialismo Libertário (OASL) estamos juntos a vocês, irmãos de luta e grande inspiradores, nesta batalha contra o Capital. Nos inspiramos na força que vêm do Sul para continuar de cabeça erguida lutando contra um inimigo tão poderoso. E enviamos aqui essa saudação para lembrá-los que não estão sozinhos neste ato, que estão com todos e todas de São Paulo também! Vocês representam hoje a voz de uma multidão de anarquistas, que de forma destemida grita em coro com cada um de vocês, NÃO TÁ MORTO QUEM PELEIA!

São Paulo, 17/10/2013

Organização Anarquista Socialismo Libertário – OASL

Índice

ADESÃO DO COLETIVO ANARQUISTA BANDEIRA NEGRA

NÃO AFROUXAR NEM UM TENTO! NOTA DE SOLIDARIEDADE À FEDERAÇÃO ANARQUISTA GAÚCHA

O Coletivo Anarquista Bandeira Negra reforça sua solidariedade à organização co-irmã e repudia a repressão de Estado contra as manifestações e a criminalização dos protestos nestas últimas semanas.

Para o Estado e para o Capital, é notório saber que a força popular crescente e a retomada do vetor social por parte das organizações anarquistas tem deixado clara a irritação por parte dos de cima por se tratar de perspectivas políticas de ruptura ao sistema. Principalmente a Federação Anarquista Gaúcha, desde o episódio da primeira invasão da sua sede pelo governo tucano de Yeda Crusius em 2009, vem enfrentando bravamente perseguições de cunho político, repressão e difamação. Não há justificativas para tal criminalização, exceto quando compreendemos que a motivação única é justamente o combate entre classes, daqueles setores estatais e capitalistas contra movimentos organizados.

Os governos municipais, estaduais e federais buscam criar as condições mínimas de um Estado de Exceção, patrocinado pelas velhas elites e multinacionais, com o objetivo de não deixar nenhum movimento popular combativo de pé. A nova Lei Geral da Copa demonstra claramente uma das facetas mais brutais deste novo arranjo político reacionário. As prisões e invasões de casas e sedes evidenciam que independente de siglas partidárias, o chamado ódio de classe e àxs lutadorxs sociais, suscitam uma política estratégica de amortização do campo libertário, historicamente perseguido.

Estamos vivendo um momento-chave para a retomada da construção do verdadeiro poder popular dxs de baixo, dos setores mais oprimidos e explorados, e não podemos deixar que se consolide esta preparação de extermínio. As recentes notas públicas de partidos da esquerda estatista reforçam o ganho que nossa força vem concretizando ao nível dos últimos anos, incorporando espaços antes abandonados pela militância parlamentarista. Nós, companheiras e companheiros de luta, estamos lado a lado com a organização gaúcha e todas as outras que se somam nas ruas. É importante que se saiba que quanto mais o governo tenta barrar as legítimas reivindicações das diversas categorias em luta, dxs professorxs em greve, dxs indígenas, dxs quilombolas, dxs sem-terra e sem-teto, mais violenta será a instrumentalização das organizações populares na ação direta de denúncia contra a repressão.

Lutar não é crime!

Pelo fim da criminalização do movimento popular!

Não retroceder um milímetro sequer! Guerra contra a naturalização da violência contra xs pobres e movimentos sociais.

Viva a Federação Anarquista  Gaúcha! Viva o movimento popular organizado!

Santa Catarina, 17/10/2013

cazp-sem-10

ADESÃO DO COLETIVO ANARQUISTA ZUMBI DOS PALMARES

O Coletivo Anarquista Zumbi dos Palmares vem através desta se solidarizar com os companheiros gaúchos que estão sofrendo duramente com as invasões e perseguições da polícia militar e do governo Tarso (PT), culminando na invasão dos espaços Moinho Negro, Utopia e Luta e do Ateneu Libertário Batalha da Várzea, espaço social e político da nossa organização irmã Federação Anarquista Gaúcha (FAG), já invadido em junho.

Desde as manifestações de junho anarquistas e demais movimentos políticos e sociais organizados de todo o Brasil tem sido alvos de diversos bombardeios militares e midiáticos fascistas, que tentam a todo custo criminalizar nossas ações.  Ainda que distantes, somamos força à luta dos companheiros gaúchos certos de que atitudes persecutórias só reafirmam que ainda vivemos num país em que os políticos ainda usam artifícios ditatoriais, como perseguição, apreensão de materiais, invasão de espaços particulares e públicos. A democracia é um engodo.

Não permitiremos que tais condutas sejam mantidas e perpetuadas. As denúncias serão feitas, nos manteremos firmes na luta em repúdio às ações do Estado e seus desmandos.

Rodear de solidariedade os que lutam!

Protesto não é crime!

Alagoas, 17/10/2013

342970

ADESÃO da FEDERAÇÃO ANARQUISTA URUGUAIA

Salú compañeros y compañeras de la FAG.

Queremos acercar a este acto algunas palabras desde la federación Anarquista uruguaya. Serán casi dos décadas de trabajo y lucha en un ir y venir constante, construyendo compañerismo fraterno y un estilo de trabajo. Tenemos motivaciones, anhelos, esperanzas, y aspiraciones comunes. Venimos trazando experiencias y propuestas como pares, apoyándonos los unos y los otros como hermanos también de esta América.

Estamos presentes entonces en este acto que se realiza para plantar análisis y firmes posiciones acerca de lo que está aconteciendo allí. Hechos que no vienen de hoy, ni son producto de un origen concreto. Son etapas de acumulación, flujo y reflujo de fuerzas que se vienen acumulando ante el ocultamiento de los medios masivos de la burguesía y la manipulación que se busca hacer con ellos.

Pero no pudieron esos medios masivos ocultar la protesta y lucha social, la rebeldía popular que se desplegó en todo el país en lo previo y durante la copa de las confederaciones. No pudieron ocultarlo ni negarlo al mundo aún con Brasil campeón de la copa.

Esas luchas no fueron un invento del momento y sí fueron las ignoradas durante años. Son movimientos populares que no nacieron en estos últimos días: la lucha por el transporte público, las luchas populares con reivindicaciones locales en los barrios y pequeños pueblos, la lucha de los sindicatos , los estudiantes, los pueblos originarios, los campesinos. Un levante popular generalizado. En la calle, resistiendo codo a codo con el compañero. Contra la bestia represora que no dudo en agotar sus municiones contra algo imparable que cada vez crecía más.

En este contexto se allana el local del Ateneo de la Batalha de Verzea donde funciona la FAG. Acusada de lo mismo que la ha atacado Yeda Crusius cuando se luchó contra la impunidad del asesinato de Elton Brum. Atacada y allanada, requisada, difamada, en la misma constante histórica que los de arriba han utilizado contra los de abajo, y más cuando los de abajo se organizan y se mueven.

La primera irrupción policial de este año fue el 27 de junio con personal de de la policía de particular y uniformados. Se llevaron materiales de propaganda y libros queriendo criminalizar a la FAG por la posesión de estos materiales. Todo ello quedó al ridículo ante toda la pueblada que se movilizaba todos los días en todo el estado y en todos los estados.

A cuatro meses de ese hecho vuelve el 1º de octubre a ser allanado el local del Ateneo por la policía junto a las casas de más de 60 compañeras y compañeros militantes de los movimientos de Porto Alegre y Río Grande do Sul. También siguen las protestas en todo Brasil con las ha habido y han crecido en todo el tiempo anterior a esto.

Se busca nuevamente criminalizar a la FAG, y al anarquismo en general que hoy ocupa un lugar indiscutido en las luchas de Brasil y surge como una propuesta: Luchar para Crear, Resistir Creando. Porque son organizaciones que se han empoderado, que hacen sentir sus demandas. Muchos son movimientos nuevos en relación a los históricos que también hacen su acompañamiento. Son las voces que se vienen dando desde “Fuera Collor”, son los que no resisten la impunidad de la “Masacre del Dorado do Carajas”, ni la “Chiacinha da Candelaria”, ni “Carandirú”. Porque aún con la protesta y lucha que es imposible ocultar siguen sumándose movimientos y también es una constante la solidaridad.

Marcan estos hechos y muchos más que no alcanza el papel para citarlos que el Anarquismo en esta etapa continúa con su pulso firme y se constituye constantemente como una alternativa de resistencia y creatividad, de espacio para la práctica de ideas antagónicas a las imperantes desde los espacios de poder del sistema. Es el anarquismo hoy, en esta etapa una vigencia que se corresponde con su caudal histórico en las historias de la lucha por el socialismo con libertad, el socialismo libertario. No hay rutas cortas, no hay atajos que permitan acoplar toda nuestra ideología en los espacios del sistema. Nosotros vamos por otra cosa!

Porque a esta sociedad de control le oponemos resistencia y solidaridad. Una resistencia contra la agresividad del consumismo y la violencia de todos los dispositivos y herramientas de los poderosos de arriba. Estamos creando y vamos a seguir creando una resistencia activa, de abajo, en pro de construir más y más poder popular, con independencia de clase y democracia directa.

Así marcharemos, así estamos en el mismo camino de nuestra hermana Federación Anarquista Gaúcha y también la Coordinación Anarquista Brasilera, y todo el caudal popular, de abajo, que lucha y construye sus aspiraciones, conquistas y nuevos anhelos para un Brasil y una América sin pobreza, sin impunidad, sin hambre, ni dominación de ningún tipo.

Así vamos caminando.

Así despertamos nuevos amaneceres.

Con toda nuestra memoria, ayer, hoy y siempre.

Arriba el Anarquismo.

Arriba la FAG!!.

Arriba los que luchan!!!!.

federación Anarquista uruguaya

[FARJ] Nota de Solidariedade aos companheiros e companheiras perseguidos/as!

Retirado de: http://anarquismorj.wordpress.com/2013/10/04/nota-de-solidariedade-aos-companheiros-e-companheiras-perseguidosas/

No dia primeiro de outubro de 2013, a polícia civil realizou uma operação contra militantes e organizações que militam no Bloco de Lutas, de Porto Alegre. Foram invadidas, a mando do governador Tarso Genro (PT), residências de militantes do PSOL e PSTU, o Moinho Negro/Centro de Cultura Libertária da Azenha, um alojamento do MST, a sede da Via Campesina, o assentamento urbano Utopia e Luta e o espaço público da Federação Anarquista Gaúcha, o Ateneu Libertário Batalha de Várzea, invadido pela polícia pela segunda vez em menos de 4 meses. Além disso, os companheiros e companheiras do Assentamento Madre Terra São Gabriel em RS foram coagidos pela Brigada Militar na sede do assentamento.

É interessante ressaltar que essa operação e coação acontecem poucas semanas após os militantes do PT terem sido expulsos do Bloco de Lutas, após terem realizado diversas manobras dentro do movimento para desviar o foco das ações contra o governo de Tarso Genro, frear e greve da educação, entre outras. Ao contrário do que ocorreu meses atrás, as ações do governo agora não focaram apenas em uma organização, mas em diversos setores envolvidos no Bloco de Lutas e demais movimentos. Para ser criminalizado, basta ser contra as políticas do governo e estar envolvido em um movimento social.

Cabe lembrar que é a base de apoio do Governo Federal, que aqui no Rio de Janeiro, comandadas pelo governo de Sérgio Cabral e Eduardo Paes (ambos do PMDB) com seu fiel instrumento de defesa da ordem, a Polícia Militar do Rio de Janeiro violentou os trabalhadores e trabalhadoras da educação nos últimos dias. O governo do Partido dos “Trabalhadores” apoiado pelos setores conservadores e reacionários da sociedade, contrários a organização popular e a ação coletiva dos movimentos populares, continua a reprimir todos os lutadores e lutadoras.

Nós, anarquistas organizados na Federação Anarquista do Rio de Janeiro, integrante da Coordenação Anarquista Brasileira prestamos nossa solidariedade aos companheiros e companheiras do Rio Grande do Sul. Permaneceremos firmes na luta. E vamos continuar fazendo o que sempre fizemos, atuando nas bases e levando nossa indignação popular às ruas!

Lutar não é crime!

Federação Anarquista do Rio de Janeiro – Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira

[FAG] Tarso, o PT e a lógica do absurdo!

Retirado: http://batalhadavarzea.blogspot.com.br/2013/10/tarso-o-pt-e-logica-do-absurdo.html

Nota: A análise que divulgamos agora foi concluída na manhã do dia de hoje (1º/10). Pouco após ser concluída, acompanhamos a grande operação da Polícia Política do governo Tarso/PT que encaminhou o processo dos 05 companheiros presos ilegalmente no último ato do Bloco de Lutas e invadiu residências de militantes do PSOL e PSTU, o Moinho Negro/Centro de Cultura Libertária da Azenha, o alojamento do MST, a sede da Via Campesina, o assentamento urbano Utopia e Luta e nosso espaço público, o Ateneu Libertário Batalha da Várzea.

Tarso, o PT e a lógica do absurdo!

Nas últimas semanas acontecimentos como a expulsão da militância organizada do PT do Bloco de Lutas e a greve dos trabalhadores da educação, tem novamente colocado a tona o debate sobre o caráter do PT e do governo Tarso. Esse debate não raras vezes da margem para “discussões” rasas e por vezes mais emotivas, onde a criatividade e o trapezismo retórico predominam em detrimento de um balanço político em torno de fatos que se intensificaram nos últimos meses.

Desde a ocupação da câmara de vereadores temos presenciado uma ofensiva por parte do PT e de sua militância em se apresentar com um discurso “de esquerda”, discurso esse sempre visando justificar as medidas empreendidas pelo partido e o governo, silenciando as vezes, caluniando abertamente em outras, esse discurso também opera no intuito de sabotar e isolar todos aqueles que lutam com independência do governo estadual e federal, colidindo com os mesmos em não raras ocasiões.

Um episódio que define bem essa ofensiva por parte do PT foi a realização de um tal “Seminário Crise da representação e renovação da democracia no século XXI” que ocorreu nos dias 05 e 06 de setembro em Porto Alegre. O tal seminário sugeria promover um “amplo debate sobre as perspectivas de renovação das instituições democráticas no Brasil e no mundo, na esteira das manifestações do último mês, e seus desdobramentos no cenário nacional”. Nas palavras de João Pedro Stédile, um dos conferencistas, um espaço de “dialogo com a sociedade gaúcha, com a sociedade brasileira. Em todas as suas representações, seja de intelectuais e pesquisadores, de mídia independente e dos movimentos sociais”.

Entre a realização desta operação com o intuito de se lançar o PT e o governo Tarso enquanto referentes para a esquerda e as lutas sociais, tivemos dois casos que elucidam o verdadeiro caráter deste partido e governo de uma forma mais nítida que qualquer análise dos “ilustres dirigentes” que, com imunidade de ferro, se mostraram livres de todas as “doenças infantis do esquerdismo” ao irem de encontro com o governo no dito seminário. Falamos aqui da repressão durante as mobilizações da jornada nacional de paralisações no 30 de agosto e a conduta em relação a greve dos trabalhadores da educação.

No 30 de agosto presenciamos o governo Tarso enviar a tropa de choque para as garagens das empresas de ônibus de forma a impedir a paralisação no setor além da repressão com bombas de gás lacrimogêneo na praça da Matriz durante a Assembléia dos Povos, quando indígenas e quilombolas aguardavam por uma audiência com a qual o governador havia se comprometido. No local, além da presença de diversos lutadores em solidariedade a esses povos, incluindo uma delegação de trabalhadores do CPERS-Sindicato, naquele momento já em greve, havia uma quantidade considerável de crianças e idosos que foram feridos por mais este ataque covarde da brigada militar.

A ausência de Tarso no compromisso por ele mesmo firmado, se deu em função de uma agenda muito mais nobre para a acumulação de forças para a “esquerda”, que foi a sua presença na EXPOINTER, tradicional evento ruralista no estado, o qual envolve de forma direta transnacionais e lideranças do setor.

A “pegadinha” de Tarso no 30 de agosto e os resultados da reunião ocorrida logo em seguida, no dia 04 de setembro, no Ministério Público, a qual Tarso não compareceu e seus representantes não apresentaram medidas concretas para a titulação das terras indígenas e quilombolas, evidenciou o claro matrimonio entre o governo Tarso e a FARSUL na condução de uma política agrária que paralisa a reforma agrária, atira famílias a sua própria sorte em regiões sem a mínima infra estrutura, sem créditos, auxílio técnico, etc. além de violar sistematicamente os povos indígenas e quilombolas ao barrar a titulação de suas terras.

É lamentável identificarmos aqui que entre os responsáveis pela nefasta política de violação aos povos indígenas e quilombolas temos a presença da Consulta Popular, organização com incidência em movimentos populares do campo e na juventude. Miltom Viário, destacada liderança desta organização é hoje um dos assessores diretos do governador e um dos responsáveis pela condução das “negociações” com indígenas e quilombolas por parte do governo, como apontado no relatório redigido pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Grupo de Apoio aos Povos Indígenas (GAPIN) e Conselho de Articulação Indígena Kaigang (CAIK) no dia 02 de setembro.

Se no dia 04 Tarso delegou a seus assessores a tarefa de dar a negativa da titulação de terras indígenas e quilombolas, no dia seguinte, pouco antes de se dirigir ao tal seminário sobre “crise de representações”, Tarso não vacilou e parou para um café da manhã com a Brigada Militar em seu clube de oficiais Farrapos. O objetivo do encontro era elogiar, novamente, a conduta da Brigada nas jornadas de junho e se comprometer com suas reivindicações salariais.

Assim como os povos indígenas e quilombolas, os trabalhadores da educação do estado também estiveram em luta com o governo. Professores e demais funcionários da comunidade escolar foram à greve pela aprovação do piso nacional do magistério e pelo fim da reforma do ensino médio a partir do modelo politécnico, ou como bem ficou conhecido em função de sua intenção em formar mão de obra barata para a patronal gaúcha, o politreco.

Após ser o responsável pela elaboração da lei nacional do piso do magistério, quando ministro da educação, e de a ter defendido veementemente durante sua campanha eleitoral foi Tarso quem a ignorou de forma sistemática, se prestando inclusive ao patife papel de se articular com outros governadores para rebaixar seus valores, por si só já bem questionáveis.

Assim como os trabalhadores rodoviários, indígenas e quilombolas o diálogo encontrado pelos educadores em greve não foi aquele tão defendido no tal seminário ou tão comemorado por agentes do partido em textos publicados na rede e outros espaços. O “diálogo” encontrado pelos educadores foi a repressão direta quando, no dia 09 receberam bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta ao realizarem um ato em frente a casa do governador, que assim que logrou dissipar o ato se apressou a pedir desculpas pelo incomodo aos vizinhos. Nunca é demais lembrar que cada bomba de gás lacrimogêneo custa em torno de R$800,00, ou seja, mais do que o salário de muitos dos trabalhadores da educação.

Para além da repressão covarde em frente a casa de Tarso, no melhor estilo de sua antecessora Yeda Crusius, tivemos uma vez mais a completa intransigência do governo e da secretaria de educação através do secretário José Clovis Azevedo que chegou a cortar o ponto dos trabalhadores da educação em greve, decisão que posteriormente foi revertida por medida judicial. Ao abordar a greve, o “progressista” secretário de educação e ex dirigente do CPERS-Sindicato disparou uma pérola que poderia muito bem ser atribuída a “analistas” da claque de Reinaldo Azevedo, ao afirmar que “A posição do CPERS é política, de embate permanente com o governo. Essa é a orientação dos grupos ideológicos que hegemonizam a entidade e não representam a maioria dos professores”.

Tais lutas, que estiveram em curso em nosso Estado nestes dois últimos meses, contaram com uma ativa participação do Bloco de Lutas a partir de suas mais diversas comissões. Seja no ombro a ombro com companheiros do movimento indígena e quilombola, seja na contundente intervenção de sua comissão de educação, que foi capaz de dinamizar a agenda da greve, mobilizando professores, funcionários e secundaristas, e protagonizando atos importantes como a ocupação da assembléia legislativa. Em todas estas lutas brilhou a ausência de solidariedade por parte da militância organizada do PT que, até a ocupação da câmara de vereadores, estava voltada a si e suas disputas nos clássicos aparatos institucionais, contando com escassa, quase nula presença nas lutas que a antecederam.

Em meio a esse processo o partido desatou uma de suas operações de marketing político, rigorosamente elaboradas em agências publicitárias, lançando um comercial como campanha de filiação ao partido. De forma oportunista e demagoga, a peça busca apresentar o PT enquanto um grande agente organizador das jornadas de luta que vivemos ao longo deste ano, inserindo uma imagem de companheiros de organizações que são publicamente conhecidas como oposição de esquerda ao governo em uma reunião com Tarso onde lhe foi entregue a pauta de reivindicações do Bloco. É sempre bom recordar que enquanto esse grupo de companheiros se encontrava no interior do Piratini para entrega da pauta, acontecia um ato em frente ao palácio, ato esse que pouco após a saída dos companheiros foi dispersado pelas bombas da brigada que pouco depois foi elogiada pelo mesmo Tarso por sua conduta.

Para além dos referidos acontecimentos envolvendo o governo Tarso, tivemos, a poucos dias a reunião em caráter de urgência de Dilma com representantes do Itaú e AMBEV, patrocinadores da Copa que, preocupados com a possibilidade de uma nova onda de manifestações durante o mundial, exigiram que a presidente interviesse de forma a impedi-las, solicitação prontamente atendida.

O conjunto destes eventos, aliada a intervenção de uma militância que se desdobrou para fazer o possível e o impossível para que o Bloco de Lutas fosse uma correia de transmissão do partido e governo levaram, de forma inevitável, a opção em assembléia, pela expulsão da militância organizada do partido das instâncias do movimento. Não se trata, portanto, como querem fazer crer muitos que reduziram o acontecimento a um problema de fundo emocional, de uma expulsão pelo fato de certas pessoas terem determinada concepção política. Em nossa militância cotidiana lidamos diariamente com gente do povo com as mais diversas idéias e convicções políticas e religiosas. Esse contato cotidiano, fruto do trabalho militante, com gente que acredita seja em Tarso, Dilma, Lula, Serra, FHC ou quem quer que seja é algo muito distinto da atuação meticulosa de uma corrente, ou uma composição de correntes, determinada em transformar um legítimo movimento popular em correia de transmissão de um partido e governo que atacam ostensivamente os que ousam lutar com independência política e de classe.

A tese de uma possível disputa dos governos petistas e do próprio partido já não podem mais ser defendidas se não pela lógica do absurdo. A ardilosa engenharia do pacto social, meticulosamente costurado entre o governo, a patronal e burocracias sindicais e do campo popular, caminha, invariavelmente para uma colaboração com os de cima, ao passo que trabalha na fragmentação e cooptação de setores dos de baixo por um lado e o progressivo isolamento e repressão daqueles setores que não se submetem a tais acordos espúrios por outro.

Enquanto “crises de representações” e “renovação da democracia” são discutidas em algum fantástico mundo de gente livre de “doenças infantis”, de forma sórdida e já não mais as escuras, este mesmo governo e partido reafirma e intensifica o domínio estrutural dos cima no cenário político e econômico do país e do estado, ainda que para tanto tenha que recorrer de forma sistemática ao aparato repressivo.

O faz, é bom frisar, em um cenário de fragmentação e cooptação de instrumentos de luta dos de baixo, muitos dos quais já paralisados pela burocratização. Esse processo tem afirmado cada vez mais o personalismo e por vezes o culto a personalidade de certos dirigentes, assim como a conversão de muitos dos então instrumentos de luta dos de baixo em instrumentos agentes dos de cima, cenário propício para um avanço do conservadorismo, seja no senso comum, seja em estruturas organizativas dada a ausência de força social para disputar uma agenda a esquerda.

Ao nosso ver os eventos que sucederam nos últimos 02 meses só fazem reafirmar que certas representações não tenham crise alguma; são claras, evidentes e politicamente convictas. Haja trapezismo retórico e demagogia para justificá-los.

Resta a todos nós, militantes de base dos mais distintos setores não nos dobrarmos frente a tais desmandos, fortalecendo nossos instrumentos organizativos a partir de uma sólida independência política e de classe.

Não passarão!
Não ta morto quem peleia!

Porto Alegre, 01 de Outubro de 2013.
Federação Anarquista Gaúcha – FAG.
Organização integrante da Coordenação Anarquista Brasileira – CAB.

[FAG] NÃO SE INTIMIDAR, NÃO DESMOBILIZAR. RODEAR DE SOLIDARIEDADE OS QUE LUTAM!

Retirado de: http://batalhadavarzea.blogspot.com.br/2013/10/nao-se-intimidar-nao-desmobilizar.html

Nota pública da FAG sobre a caça as bruxas do dia 01 de outubro em Porto Alegre – RS
A grande operação que a polícia civil desatou ontem, atingindo diversos companheiros e organizações de esquerda que militam em torno do Bloco de Lutas aponta a necessidade da solidariedade como uma tarefa de urgência.
Nesse momento urge encararmos a questão no seu devido conjunto. Não se tratou de uma repressão dirigida especificamente a uma organização, mas sim um golpe contra toda militância de esquerda. O momento é de tomarmos a solidariedade para com todos os companheiros e organizações perseguidas como um dever que esteja acima de vinculações ideológicas e organizativas, não caindo na mesquinharia de titubear a solidariedade em função de preferências políticas.
Após todo esse sórdido operativo, Tarso teve a frieza e a cara de pau para divulgar um depoimento onde faz questão de defender o mega operativo, frisando que o mesmo se deu respeitando todos os marcos do “Estado democrático de direito”. Omite todo um roteiro de invasões em residências e locais como o Moinho Negro, Utopia e Luta, Ateneu Libertário, invadido pela segunda vez em menos de 4 meses. Tarso cita os casos dos companheiros do PSOL e PSTU e convida os dirigentes dos partidos para uma audiência com o objetivo de relatarem o ocorrido.
O convite de Tarso entra como a proposta de um jogo cretino, pois o que busca em realidade é arbitrar, a revelia de um movimento popular, quem são seus interlocutores, além de pressionar para a colaboração. Isso fica claro quando, ao negligenciar o restante do operativo afirma não acreditar que “atos criminosos” sejam praticados por “militantes políticos”, logo já apresenta a fatura aos demais companheiros e organizações atingidas. Nada disso é novidade, no mês de junho, quando tivemos nossa sede invadida, através de um artifício ilegal (até hoje não temos conhecimento do mandato judicial), o mesmo Tarso foi a imprensa para chamar-nos de fascistas e reivindicar que estes partidos revissem sua política de alianças nos movimentos sociais.
Por fim, chamamos atenção para o grave caso dos 03 companheiros professores arbitrariamente presos no último ato do Bloco de Lutas que foram indiciados no dia de hoje. Estes 03 companheiros foram abordados por um ônibus da Brigada e presos logo em seguida enquanto se dirigiam a uma lancheria na Cidade Baixo após o término do ato. A isca para abordá-los foi que um destes companheiros carregava uma bandeira do CPERS-Sindicato.
A prisão destes companheiros logo revelou uma meticulosa operação policial que tinha como intuito caçar aleatoriamente manifestantes ao final do ato, de forma a efetuar prisões e plantar “flagrantes” de forma a apresentá-los como bodes expiatórios por casos de depredações. Sem provas, resumindo tudo ao depoimento de brigadianos não identificados, os companheiros foram acusados de depredação de patrimônio público, crime ambiental por pichação em patrimônio tombado e agressão a brigadianos. O grande objetivo da operação era encaminhar os companheiros ao presídio central dada o valor exorbitante da multa/chantagem que se aplicou: R$4 mil para cada em espécie.
Enquanto a polícia civil respeitando o “Estado democrático de direito” invadia residências de companheiros e locais de organizações, o delegado Paulo César Jardim, responsável pela “investigação” das prisões do último ato, concluía sua nobre tarefa.
Curioso é o fato que o mesmo Jardim é também o delegado responsável pela investigação dos grupos neo-nazistas que atuam impunemente no Estado, mais especificamente em Porto Alegre e na Serra Gaúcha, realizando inúmeros ataques, especialmente de ordem homofóbica e racista. Nunca vimos tamanha agilidade deste “grande investigador”, para autuar esses verdadeiros criminosos e tampouco medidas efetivas por parte do governo Tarso/PT nesse sentido.
É hora de levar o abraço solidário a todos e todas que lutam para que o protesto social não se envergue ao poder e resista a fuzilaria reacionária dos monopólios da mídia. Mobilizar uma frente comum de todo o campo da independência de classe para romper o cerco repressivo e impedir a criminalização dos movimentos sociais.
Contra o medo e a repressão. Luta e Organização!
1e0f7-noticia_171585b15d5b15d
Leia também:

ATENEU LIBERTÁRIO É INVADIDO PELA POLÍCIA PELA 2 VEZ EM MENOS DE 4 MESES

Na tarde desta última terça-feira, 1 de outubro de 2013, o Ateneu Libertário A Batalha da Várzea que faz local político-social para a Federação Anarquista Gaúcha foi invadido pelas forças repressivas do governo Tarso do PT pela segunda vez. A porta da sede foi arrombada e teve suas dependências e equipamentos revirados. Por cima de uma mesa foi deixado um bilhete que dizia: “passei por aqui e a porta estava aberta. Gostaria de participar da FAG.”
A terça-feira amanheceu com uma forte operação repressiva desatada pelo governo estadual e a justiça sobre militantes do Bloco de Lutas e organizações de esquerda. Invasão de residências particulares, locais públicos de esquerda e campanas sobre companheiros/as foram levados a cabo durante todo o dia. Falam-se de mais de 70 mandatos judiciais de busca e apreensão ainda por serem executados. Na última quinta-feira, quando da dispersão do ato público do Bloco de Lutas cinco companheiros foram detidos e incriminados.
O governo Tarso quer calar o protesto social que foge do seu controle, que não se engana com seus malabarismos retóricos e nem se amansa com expedientes repressivos.

Não ta morto quem peleia!

[CAB] Um pouco de nossa concepção de anarquismo: desmistificando estereótipos e esclarecendo equívocos

Em Julho do presente ano foi realizado o 1º Congresso da Coordenação Anarquista Brasileira (ConCAB), no marco de 10 anos de construção de um Anarquismo organizado especificamente e inserido nas lutas de nosso povo. O Fórum do Anarquismo Organizado (FAO), instância que ao longo dessa década reuniu diversas Organizações Anarquistas Especifistas de todo o Brasil para discutir temas que permitissem o necessário acúmulo e os indispensáveis acordos para que pudéssemos avançar na tarefa de construção de uma Organização Anarquista a nível Nacional, cumpriu sua função inicial e, desde o 1º CONCAB, deixou de ser um Fórum para se tornar uma Coordenação. Uma nova etapa foi, portanto, aberta para a militância especifista brasileira: constituir um espaço de coordenação em que participam 9 Organizações Anarquistas de diferentes Estados, de base Federalista e que vá construindo – a partir de práticas concretas e na medida em que vai ampliando sua base de acordos – unidade estratégica e maior organicidade para intensificar a inserção social no seio de nosso povo. Nesse sentido, são mais de 10 anos de resgate do Anarquismo enquanto corrente libertária do Socialismo, organizada politicamente e inserida socialmente. É o resgate da já antiga mas atualíssima máxima que diz que a “emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”, porém aliada também a histórica prática da organização do anarquismo enquanto partido, como foi a Aliança da Democracia Socialista de parte da Ala Federalista e Anti-autoritária da 1ª Internacional (Bakunin, Guillaume, Malatesta, Cafiero e outros) e também da nossa irmã Federação Anarquista Uruguaia, que se manteve atuante no período da ditadura militar uruguaia, mantendo inserção social operária, estudantil e organizando um aparato armado que combateu o regime sanguinário que manchou de sangue nossa América Latina.

No entanto, nossa rica história que se confunde com a história da classe trabalhadora é muitas vezes atacada ou desmerecida: muitas vezes trata-se do simples desconhecimento ou a reprodução de discursos simplificadores e reducionistas, porém, muitas vezes se trata da má fé, do preconceito e da necessidade de construção política na base da calúnia, auto-promoção e mentiras. Recentemente, o último texto que tivemos contato e que faz referência aos “anarquistas” nestes moldes é uma nota lançada pelo PSTU de Curitiba, intitulada “Nossas diferenças com a corrente Luta Socialista (LS)/Outros Outubros Virão”, na qual é analisado a postura desse grupo citado no título da nota nas eleições ao DCE da UFPR e junto a eles o Coletivo Quebrando Muros (que possui militância anarquista do Coletivo Anarquista Luta de Classes – CALC, organização integrante da CAB). Independente do que motiva este e outros discursos, julgamos conveniente vir a público para dar nossa posição sobre o estereótipo do “anarquista” mais uma vez reproduzido à custa da verdade. Assim, nos posicionamos nacionalmente não para entrarmos na briga de quem é mais revolucionário ou possui a verdadeira interpretação do período em que vivemos, mas sim porque julgamos necessário esclarecer o que consideramos equívocos, desconhecimentos e incoerências.Nossa implicação enquanto CAB se dá por um conjunto de motivos que normalmente são veiculados em materiais como o que nos referimos acima: generalização e estereotipação do anarquismo; acusação de que somos uma seita esquerdista e que não teríamos nenhuma responsabilidade; de que somos anti-partidários; de que seriamos sectários e intransigentes, possuidores, portanto, da difamação e do ataque como única forma de construção militante possível; que fazemos alianças somente com quem pensa da mesma forma que nós; que possuimos em nossa história apenas o anarco-sindicalismo como expressão política e organizativa e, ainda mais, que atacamos toda e qualquer entidade sindical, estudantil e popular como sendo burocrática e desnecessária à luta. Também assinalam normalmente que hoje nós, “seita anarquista”, estaríamos limitados em geral a seitas estudantis mais ou menos marginais e sem inserção real na classe trabalhadora. Daremos nossa posição sobre tudo que até agora reproduzimos.Primeiramente, nós Coordenação Anarquista Brasileira fazemos parte de uma tradição político-organizativa chamada de Especifismo. Especifismo porque fazemos a defesa enquanto Anarquistas da necessidade de nos organizarmos politicamente enquanto tais. Essa necessidade se expressa por meio de uma Organização Política Anarquista, Federalista e de Quadros, com critérios de ingresso, formação militante, dotada de um Programa Mínimo, Estratégia de Curto e Longo Prazo e Objetivo Finalista. Não somos, portanto, uma seita. Somos sim, no interior da história do Socialismo, um Partido, tal como dizia o italiano Errico Malatesta:

“Nós, os socialistas-anarquistas, existimos como partido separado, como programa substancialmente constante, desde 1867, quando Bakunin fundou a Aliança; e fomos nós os fundadores e a alma do rumo antiautoritário da ‘Associação Internacional dos Trabalhadores.”

O Especifismo tem sua expressão “inicial” na América Latina com a FAU (Federação Anarquista Uruguaia), fundada em 1956 e que reuniu em sua formação velhos militantes anarco-sindicalistas que se organizavam na FORU (Federación Obrera Regional Uruguaia); velhos combatentes da Revolução Espanhola; jovens militantes sindicais e estudantis do país e alguns remanescentes que conviveram com o grupo de anarquistas expropriadores que realizaram diversas ações na região do Rio da Prata. A FAU era defensora da organização especifica do Anarquismo, por meio de uma Estrutura Organizacional que vinculasse organicamente seus militantes sob uma Declaração de Princípios e Elementos de Estratégia e que pudesse desenvolver em seu interior tarefas correspondentes a análises de conjuntura, capacitação político-militar (projetando ai o desenvolvimento de um aparato armado que se concretizou e foi chamado de OPR-33 – Organización Popular Revolucionária 33 Orientales) e é claro, inserção social no movimento de massas. A FAU ao longo de sua existência (se mantém atuante ainda hoje) cumpriu importante papel na construção da CNT (Convención Nacional de Trabajadores), participando através de sindicatos de base ou da própria direção da entidade; na construção da ROE (Resistência Obreiro Estudiantil), agrupação de Tendência que reuniu boa parte da militância de base classista e combativa (anarquistas, marxistas, leninistas, etc.) que se opunham a direção do PCU que era majoritário no movimento popular; e desenvolveu, num primeiro momento junto ao MLN-T (através da Coordinadora) e depois por um trabalho próprio, ações de expropriação de bancos, seqüestros de patrões e figuras ligadas à ditadura e apoios às mobilizações populares. Nós da CAB compartilhamos dessa tradição porque foi através dela que no início dos anos 90, quando do debate de reorganização do anarquismo, se iniciou a construção de Organizações Específicas Anarquistas que até hoje trabalham para seu crescimento e maior inserção. Portanto, não somos Anarco-Sindicalistas ou Anarco-Estudantis, porque não fazemos a defesa de sindicatos ou entidades estudantis anarquistas, mas sim da necessidade de nos organizarmos politicamente para intervirmos no Movimento Sindical e Estudantil.

Dessa forma, não somos contrários à existência de entidades “representativas”, sejam elas locais, estaduais ou nacionais, assim como não somos, por princípios, contrários à disputa das direções. No entanto, não temos como calculo político apenas a suposta exigibilidade da luta de classes da disputa das direções dos Movimentos para que eles sejam de fato revolucionárias, porque não apostamos nossas fichas de que a direção (o sentido) de um determinado movimento social seja resultado direto do grupo político que o dirige. Não negamos a influência que este grupo possa exercer, mas não fazemos dela a condição para o sucesso das lutas. Se somos partidários de uma proposta combativa, achamos sim necessário uma Organização Política preparada para intervir e dar conta de certas tarefas que os Movimentos Populares não poderiam dar conta, não achamos, porém, que esta Organização seja uma Vanguarda ou Direção Revolucionária porque mais capacitada para sintetizar os desejos da classe num socialismo pretensamente “científico”. Por isso, em nossa percepção, a disputa de entidades está condicionada a capacidade que possuímos de intervenção e de fomento da organização das Classes Oprimidas, papel que estas entidades devem cumprir, assim como a própria análise do cenário vivido em cada Frente Social. Caso contrário, a ocupação de uma entidade torna-se apenas um rito burocrático que não dá protagonismo a nossa classe e tampouco acumula força social para um projeto radical.Dessa forma, não somos espontaneístas, achando que a organização popular virá por ela mesma. Ao contrário do que alguns dizem, seguimos contribuindo com o fortalecimento dessa organização, com esforços modestos mas firmes, no movimento popular, sindical, estudantil e rural em diversos estados deste país. Apostamos na necessidade de uma Organização Política trabalhar consciente e intencionalmente no desenvolvimento da participação e organização popular, seja ela sindical, estudantil, comunitária etc., mas sempre considerando que o decisivo para as lutas, para o acúmulo necessário a um sentido revolucionário que realmente coloque em xeque o sistema de dominação capitalista —  e o Estado enquanto peça fundamental desse sistema de dominação  —  é a Força Social expressa na Organização das Classes Oprimidas através de seus próprios instrumentos de organização, de defesa e de ataque dos nossos inimigos de classe. Nossa concepção, historicamente tem se confrontado com a ideologia do Socialismo Estatista, justamente por acreditar que a destruição do Estado depende do avanço da organização das classes oprimidas e da forja de um sujeito revolucionário que aponte nesse sentido.

“Os velhos socialistas falavam de construir uma nova civilização. Durruti disse que levamos um mundo novo em nossos corações. Fazem alusão a valores, a uma nova forma de vida, de novas relações sociais. Se algo ensina a história é que isto não se produz de cima, requer construir um novo sujeito social. E para esta construção é fundamental a participação ativa, transformadora desse sujeito. Se não tem tomado contato com novas, ainda que sejam incipientes relações sociais, esse sujeito social não pode ter outros referentes que os conhecidos e os que tende a reproduzir. É construindo força social e tomando ativa participação nela que se podem formar embriões da nova civilização ou do “homem novo”, de outro sujeito. Digamos que este é o tema de como se transforma a consciência, para usar a linguagem clássica. Pelo que tem se visto a economia por si não transforma a consciência. O que o sujeito vive e como vive cotidianamente, historicamente, no marco de determinados dispositivos, seria o elemento principal de mudança de sua consciência.”“Outro sujeito histórico não virá do nada, não aparecerá como arte de magia, deve ser o fruto de práticas que internalizem outras questões que chocam com o dominante. A participação efetiva, a autogestão, a ação direta, a forma federal de funcionamento realmente democrático, a solidariedade e apoio mútuo, necessitam de mecanismos, organizações, práticas regulares para seu desenvolvimento.”(Documento Teórico Wellington Gallarza e Malvina Tavares – acordo teórico FAU-FAG)

Esse é o nosso objetivo finalista: a construção de uma nova sociedade a partir de um processo revolucionário que destrua o sistema de dominação ao passo que constrói os mecanismos de gestão e de condução política e econômica dessa nova sociedade. Resulta disso nossa defesa do Poder Popular, enquanto um período de transição em meio a um processo revolucionário que consolide novas relações, instituições e mecanismos do próprio povo. Para isso precisamos, hoje, de um Programa Mínimo que faça a mediação entre a realidade vivida tal qual ela é e o nosso Objetivo Finalista. Nas palavras do também italiano Camilo Berneri

“A política é cálculo e criação de forças que realizam a aproximação da realidade ao sistema ideal mediante fórmulas de agitação, de polarização e de sistematização que sejam agitadoras, atraentes e lógicas num dado momento social e político. Um anarquismo atualizado, consciente das suas próprias forças de combatividade e de construção, e das forças adversas, romântico no coração e realista no cérebro, pleno de entusiasmo e capaz de contemporizar, generoso e hábil em condicionar o seu apoio, capaz, em suma, de economizar as suas forças[…]”.

Isso é o Anarquismo para nós da CAB e, por isso escrevemos esse texto de esclarecimento, debate franco e posicionamento político.Temos consciência, enquanto minoria ativa, das inúmeras deficiências e obstáculo que precisamos enfrentar e que enfrentaremos. No entanto, também temos consciência de nossa sinceridade, modéstia e firmeza naquilo que nos propomos. Ao longo desses mais de 10 anos de idas e vindas e de passos dados para amadurecer nosso projeto, temos participado em maior ou menor grau de diversas lutas, construções, embates na América Latina e no Mundo e, independente das divergências com outras tradições do Socialismo exigimos respeito. Estamos juntos e lado a lado na luta pelo Socialismo e pela Liberdade e daí não nos retiraremos.

Saudações Anarquistas e Revolucionárias!

Coordenação Anarquista Brasileira (CAB)

image

Eleições Municipais 2012: O consenso conservador em Curitiba

Balanço das eleições em Curitiba CALC (Coletivo Anarquista Luta de Classe):

O consenso conservador em Curitiba

Curitiba hoje é a 17° cidade mais desigual do mundo e a 5° do país. Comparada as cidades da Europa e famosa por ser a “cidade modelo”, ela esconde por trás deste slogan todas as mazelas dos grandes centros urbanos: violência em altos níveis, falta de serviços básicos ou acesso precário a eles, além da especulação imobiliária (quase 10% dos imóveis da cidade estão vazios) que afeta as condições de vida e moradia de milhares de curitibanos.

Entre os candidatos do primeiro turno temos velhos conhecidos vindos das elites locais. Luciano Ducci, herdeiro político de Beto Richa (filho de proeminente político da região), do mesmo grupo que há algumas décadas vem administrando a cidade, afinadíssimo com os interesses do capital. Como “oposição” temos Gustavo Fruet (até bem pouco tempo do PSDB de Richa), filho de outro político da região da época da reabertura, agora no PDT, com uma suspeita aliança de ocasião com o PT. Temos para reforçar o time das “figurinhas carimbadas” Rafael Greca, prefeito na “era de ouro” de Curitiba, quando a cidade era “exemplo” de urbanismo (leia-se urbanismo e exclusão social) onde foi sucessor e continuador dos projetos de Lerner e “sua turma” (grupo do qual hoje Richa e Ducci são os “continuadores” oficiais), grupo que vem dando as cartas na cidade há algum tempo e que fez da Curitiba a “cidade modelo”, hoje em uma suspeita oposição.

Dos quatro candidatos com maior número de votos, três eram, foram, ou são (fica difícil saber até que ponto romperam um dia…) do grupo que domina a política local e que governa há anos para as classes dominantes, todos ou são provenientes das elites, ou mantém estreitos laços com elas. Por “fora” a “verdadeira alternativa” (ao menos com chance real de vencer as eleições), temos Ratinho Jr., o mais votado no primeiro turno. Se não é vinculado às elites locais e de família já tradicional na política, é filho de um grande comunicador, latifundiário, dono de empresas de telecomunicações, e outros tantos negócios. Com toda certeza este ultimo também não é um candidato que vem das camadas populares, mas sim é mandatário das classes dominantes tanto como os outros, apenas busca “disfarçar-se” por trás da “popular” personalidade de seu pai, Ratinho pai. Esse candidato busca confundir seus eleitores reivindicando-se de uma família de trabalhadores (afinal seu pai é mais um dos exemplos daqueles que “venceram” na vida e que se construíram com “seu” trabalho, como se fosse possível enriquecer com seu próprio trabalho).             Olhando para os possíveis prefeitos da cidade, não se tinha chance nenhuma de a burguesia perder o poder político da cidade (nem poderia ser diferente), entre os quatro possíveis para chegar ao segundo turno (é certo que Greca sempre esteve bem pouco cotado), três vem do grupo que há anos controla a cidade. Longe de ser surpreendente, isso somente afirma que as eleições são uma teatralização da escolha e da democracia, sequer passando perto de alterar os grupos de poder e o status quo, mostrando que nada ou muito pouco pode mudar para os de “baixo” através delas. Não são mais que disputas personalistas do aparato do Estado, de busca por um lugar privilegiado e cativo em meio às classes dominantes.

No espectro das diferenças entre estes candidatos, programaticamente percebemos que são pouco perceptíveis. Há muito o PSDB de Curitiba aprendeu com o PT como adentrar os movimentos populares e colocá-los dentro do Estado. Sua política em Curitiba abarcou certos elementos propostos pelos gestores petistas no que tange a participação. Na gestão de Richa foram pouco mais de 200 audiências públicas, na de Ducci (2 anos apenas) foram mais nove. Isto coloca o PT(agora aliado ao PDT) em difícil situação, já que alguns dos bairros onde tinha vinculação histórica são cooptados. E mais, o PSDB aporta essa proposta mostrando claramente que não tem nenhum problema (e é até mesmo conveniente, pois promove a conciliação de classe) para a burguesia em colocar a classe trabalhadora para ajudar a gerir suas mazelas junto ao Estado, que esta política participativa pode ser bancada pelos partidos burgueses stricto senso, assim de certa forma roubando a originalidade do projeto petista de gestão, cabe citar que Ducci chega a aportar até mesmo a economia solidaria e o cooperativismo . Fruet em sua campanha não conseguem ir além de propostas em torno da transparência (mesmo nas privatizações) e ética, negando bandeiras históricas dos trabalhadores/as como as não privatizações.  Talvez algumas singelas diferenças que vemos entre as candidaturas de PDT/PT e PSB/PPS (com massivo apoio de PSDB) estão no que tange um discurso privatizante mais explicito de Ducci que se mostra um apologeta da entrada do privado nos serviços públicos via “concessões”, gerindo de maneira neoliberal. Fruet ainda se diferencia de uma linha extremamente conservadora (ao menos no discurso) no debate da segurança pública, pois Ducci trata a criminalidade simplesmente como “caso de policia”, sua política é inequívoca nesse sentido vide a implementação das UPSs(Unidade Paraná Seguro, claramente inspiradas nas UPPs do RJ). O candidato do PDT encara a problemática tratando-a como de ordem social a relacionado a desigualdade social e a concentração de renda.

Já Ratinho Jr. sequer apresenta um programa, sua politica é baseada meramente no marketing político. Observamos um conservadorismo extremo quando aborda as problemáticas das drogas e criminalidade “evocando” as autoridades religiosas para o auxiliarem na moralização da cidade. Manifestou-se também, publicamente, contra o casamento entre homossexuais, o que gerou uma certa comoção do público LGBT no intento de deslegitimá-lo e boicotar sua candidatura. Em suas propostas formalizadas articula demandas das classes mais populares, ao mesmo tempo que carrega o velho conservadorismo e as “parcerias” com o setor privado, elencando a necessidade de estabelecer mais vínculos entre prefeitura e FIEP.

Greca traz a campanha mais agressiva, enfatizando os problemas gerados pelo sobrecarregamento do sistema público de serviços de Curitiba e recordando com “saudosismo” a “maravilha” que eram os serviços em seus gloriosos tempos de “Curitiba modelo”, omitindo que os problemas que a população de Curitiba enfrenta são decorrentes do modelo de cidade que ele mesmo ajudou a consolidar, afinal Richa e Ducci são seus sucessores

Naqueles que disputaram “para valer” o primeiro turno encontramos um mesmo consenso conservador, seja no que se refere a uma “idílica” história de Curitiba que deve ser retomada, um projeto que deve “retomar os trilhos” para que voltemos a ser a cidade “modelo”, que avancemos de cidade “ecológica” para “sustentável”, ou no “manter as conquistas de Curitiba”, mostra que nenhum destes candidatos tem um compromisso, a menos que discursivo, em transformar a situação da classe trabalhadora, pois defendem a “velha” Curitiba, que afasta a pobreza (inclusive isto é marca de seu planejamento) e que se molda aos interesses do capital de todas as ordens imobiliárias, industrial, automobilístico, etc.

Outro componente de destaque é a postura que as esquerdas diretamente vinculadas ao Estado tomam nestas eleições. Sua degeneração chegou a um nível em que nem mais dissimulam o pragmatismo político na disputa pelo poder. PT e PC do B aliados históricos, agora frente a frente no segundo turno, o primeiro com Fruet o segundo com Ratinho, ambas candidaturas dissociadas de qualquer movimento de base, e inclusive imposta as suas bases no caso do PT. Fica eminente que no caso da disputa do Estado, o que era meio vira fim, a tática vira estratégia, e em troca do poder, da “máquina”, vale tudo. Assim auferindo o maior pragmatismo político, cada um aposta num “cavalo” diferente e que vença o “melhor”.

Na “margem esquerda” das eleições encontramos PSOL e PSTU, ambos partidos que reivindicam-se revolucionários. O programa do Prefeito Avanilson, candidato do PSTU, é bastante coerente no que diz respeito as condições sócio econômicas de Curitiba, apresentando uma tese marxista sobre Estado contemporâneo. Apresenta uma proposta classista, porém resume os problemas do Estado aos seus gestores e a corrupção, referindo-se aquela velha história da “crise de direção” e propõe-se, é claro, à gerir a máquina de forma socialista. O programa do PSOL sequer existe, lança sua candidatura apenas com consignas e, através destas, traz propostas bastante mediadas na tentativa de conquistar apoio da “classe média” (comumentemente se denominam setores mais abastados da classe trabalhadora, ou seja maior inserção no consumo como uma classe, discordamos de tal definição, mas entendemos a quem se refere). Para isso, acaba abandonando a perspectiva classista, seu programa socialista vai mais no sentido da conciliação de classes e de resolver os problemas do capital no capital do que de rompimento com as suas contradições e exploração dos trabalhadores. O abandono chega a tal ponto que algumas candidaturas se dirigem inclusive ao pequeno empresariado, sintomático para um partido que se propunha socialista.

E com o fim do primeiro turno, resta ao curitibanos escolher entre Ratinho Jr. e Gustavo Fruet, ou seja, manter a velha elite, ou trocá-la por uma nova. No fim das contas sabemos para quem o novo prefeito irá governar, independente de qual seja eleito. E mais uma vez, através das eleições, burguesia legitima seu domínio e exploração sobre os trabalhadores.

 

Bartolomeu Nascimento

[FAG] Nota em Resposta e de Repúdio à Zero Hora

Retirado de : http://anarkismo.net/article/22145

Nós da Federação Anarquista Gaúcha viemos a público em resposta a matéria veiculada no jornal Zero Hora de 29/02 sobre a luta pela revogação do aumento das passagens em Porto Alegre.

fag.jpg

Nós da Federação Anarquista Gaúcha viemos a público em resposta a matéria veiculada no jornal Zero Hora de 29/02 sobre a luta pela revogação do aumento das passagens em Porto Alegre. Enquanto participantes, em conjunto com outros coletivos, grupos, entidades sindicais e indivíduos, do movimento que vem se desenvolvendo desde o início de fevereiro, não podemos deixar passar mais uma tentativa de criminalização e difamação do protesto popular por parte deste veículo de “comunicação” do oligopólio da família Sirotsky, sustentado sobre mentiras e inúmeras confusões.

A matéria da ZH joga sujo ao aproveitar-se da participação de alguns partidos políticos no Bloco de Luta por um Transporte Público para associar a luta pela revogação do aumento das passagens com os interesses eleitoreiros de partidos como Psol e Pstu. O que a Zero Hora faz é tentar deslegitimar uma luta que vem sendo construída de forma independente, auto-organizada e unitária ao associar esta a uma suposta “ambição eleitoral dos partidos de extrema esquerda”. As diversas manifestações, desde seu início, tiveram em seu horizonte a revogação do aumento das passagens e a luta por outro modelo de transporte, de fato público, questionando mais um roubo à população de porto alegre por parte das empresas privadas de transporte e do poder “público” municipal.

Outra falácia desse veículo de comunicação da elite gaúcha é questionar a afirmação do movimento de que este não teria líderes ao afirmar que o militante do Movimento Juntos, vinculado ao Psol, Rodolfo Mohr, se destacaria como uma das principais figuras do movimento. Rodolfo Mohr, desde seu início foi apenas mais um participante do Bloco de Luta (e não Comitê tal como fala a ZH) e nunca foi autorizado a se colocar como porta-voz, representante ou dirigente das manifestações. Mais uma vez a tentativa é de associar a construção que até então vem de forma horizontal, coletiva e independente à figura de um dirigente partidário e consequentemente a agenda eleitoral de um ou outro partido. O Bloco de Luta por um Transporte Público não tem dirigentes, sejam estes de partido ou sem partido; possui definições coletivas que nos dão a direção a seguir.

O Bloco de Luta por um Transporte Público foi e continua sendo um movimento aberto à estudantes, trabalhadores, desempregados, sindicalistas, militantes ou não, partidários ou não que tem como objetivo único a revogação do aumento da passagem de Porto Alegre e a ampliação do debate sobre um outro modelo de transporte na cidade, público, gratuito e de qualidade. Nenhum partido ou sindicato está por detrás ou à frente do movimento, pois são apenas participantes subordinados às decisões coletivas das assembléias, assim como todos os demais.

A Federação Anarquista Gaúcha, organização política anarquista, por defender a independência e autonomia do Bloco de Luta pelo Transporte Público, denuncia o oportunismo da Zero Hora e sua tentativa de criminalização da luta, sua má fé tratar o movimento como sendo uma articulação partidária com interesses eleitorais e por cumprir o único papel que é o de fazer parte da estrutura de dominação desinformando e mentindo ao povo.

Seguiremos lutando e denunciando mais um ataque aos que ousam se levantar!
Pela revogação do aumento das passagens, pelo passe livre e na defesa de um transporte público e de qualidade!
Pela força das ruas e com o protagonismo popular, venceremos!

Federação Anarquista Gaúcha